O fim do caso da dama da água

1001 Words
A menina na cadeira de rodas e o demônio à distância assistiam o ceifador se movendo rápido com pontos escuros, mudando de localização e tentando cortar o espírito em golpes habilidosos e bonitos. Ambos respiraram fundo juntos. O demónio com um senso de humor macabro e a menina ansiosa como se assistisse a uma peça de teatro muito fantasiosa. Contudo, por mais que William tentasse, o ser demoníaco aquático se refazia. Já estava perdendo a resistência. A casca humana e mortal se cansava mais rápido do que a sua forma espectral. William, o ceifeiro, começou a entrar em desespero puro. Por um minuto quase se amaldiçoou por negar a ajuda oferecida pela escória infernal. Riu do próprio desespero de até cogitar a ajuda de um demônio por não dar conta de um serviço. Tsc. Humilhante. — Vá ajudá-lo! — Ordenou Luna ao seu d***o. O demônio cedeu um sorriso m*****o e no qual Luna se perdeu por um minuto pela beleza naquela casca humana. Hadria tocou o cabelo de Luna e não houve nenhuma repulsa da parte dela. — Se eu for, ele vai se sentir ofendido. Esse é o trabalho dele. — A tranquilizou ainda afagando o topo da cabeça da menina com fios presos num coque. — As almas perdidas são jurisdição da divisão dos ceifadores. Um demônio se meter não é apropriado, minha senhora. Eles vão achar que quero comê-las. Mas depois de tanto tempo nesse mundo, não é qualquer alma que satisfaz o meu apetite. Quero um tipo de alma em específico que já conheceu o pior e o melhor lado da vida. Crianças não têm vivência alguma. Layla notou a dificuldade do ceifador de lidar com a dama da água corrompida. Analítica, a jovem deu-se conta que a razão era os espíritos das crianças afogadas e presas as correntes, fortalecendo o espírito maligno. Deduziu isso porque quando o ceifador conseguia cortar a dama com a sua lâmina feita exatamente para cortar o intangível, ela regenera-se, mas em troca a alma de uma criança sumia. Provavelmente era absorvida. — As correntes com as almas. — Gritou Luna para o ceifador, se envolvendo, mesmo que o maldito fosse um poço de orgulho. — Ela está se alimentando das almas das crianças e se regenerando. Se salvar as crianças primeiro e libertá-las o núcleo principal dela se enfraquece e os golpes da sua foice começarão a surtir efeito. O ceifador apenas fingiu que não a ouviu, aquela humana corrompida. Mas com a foice azul, desviou os ataques, levando as correntes, as cortando num vulto rápido aos olhos humanos. Com as almas libertas, a medida que as correntes eram desfeitas a de Layla seguiu para sua família numa despedida final e melancólica. Henry, o menininho, chorava inconsolável ao ver a irmã fantasmagórica que apenas o consolava. Mas a mãe se mantinha firme pelos filhos enquanto conversavam algo que Luna não podia escutar aquela distância e com os ventos gélidos uivantes. — Muito perspicaz, minha senhora. — Elogiou o d***o, impressionado. Luna apenas o mirou severa e furiosa que ele não foi ajudar. Hadria recuou um pouco pelo olhar fuzilante dela. Quando as dez almas infantis estavam livres do monstro, a coisa ganhou uma forma horrenda e maior, parecendo um demônio. A boca abriu-se de maneira grandiosa e anormal, quase engolindo o rosto todo num buraco n***o. O cabelo saiu da frente do rosto e mostrou olhos vermelhos e o rosto comido por algo. Um barulho que parecia de estalo e osso quebrando, enquanto dentes de tubarão apareciam. — As minhas crianças. Você roubou as minhas crianças. — A coisa acusou numa voz gutural e sinistra. O ceifador que basicamente voava e se teleportava foi capturado pela coisa que avaliava os seus movimentos. O pescoço da casca humana do ceifador agarrado pelas garras dela. Uma das mãos agora garras de caranguejo do ser, tirou a arma do ceifador das mãos dele e a jogou perto de onde Luna e Hadria estavam. — Ajude-o! — Ordenou Luna a Hadria, com as unhas se fincando mais aos braços da cadeira, de forma que a feria pela força que impregnava e as unhas quase quebravam. — Prefiro morrer do que ser ajudado por um demônio. Fiquem fora disso. — A voz do ceifador era esganiçada. — Você já morreu, suicida. É por isso que agora é um ceifador. — Caçoou o demônio. Hadria recebeu um olhar matador de Luna. Mas o demônio pela evidente vontade de Luna em ajudar o maldito ceifador, apenas pegou a foice que estava jogada perto deles e a lançou para o ceifador novamente. O ceifador a agarrou no ar e a desferiu na mão da criatura que dessa vez não se regenerou. Agora solto, tossindo, confrontou o espírito maligno e sem mais hipótese de purificação da alma que outrora havia ali, o cortou ao meio, num golpe magnífico. Luzes azuis de almas que aquela coisa consumia preencherem o cenário branco pela neve como se fossem vaga-lumes voando. O ceifador terminando o seu trabalho apenas deu um suspiro, enquanto voltava aonde Luna e Hadria estavam, andando até eles de forma arrogante. — Não se metam mais nos meus assuntos. Vocês são proscritos. Espero não ver vocês nunca mais. — Disse William. — Creio que obrigado é a palavra que busca, mas vou deixar como está. — Caçoou Luna. Então Luna com um gosto agridoce, observou a alma de Layla despedindo-se da família. Luna observou Hadria. — Acho que acabamos aqui. Me leve para casa. Quero ver Clara. O demônio posicionou-se atrás da cadeira de rodas e ele soube enquanto caminhavam para longe do cenário, que Luna quis sair antes que o ceifador coletasse a alma de Layla, para não ver a despedida. — Nós ficaremos com o crédito, Hadria. Assim me provarei útil a Rainha e manterei o título de condessa de Essex. — Sim, minha senhora. — Concordou o demônio, mas sondando Luna, sabia que ela estava feliz que Layla teve a oportunidade de se despedir da família dela.
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD