A DAMA DA ÁGUA CORROMPIDA

1346 Words
O empregado da morte notou que para sustentar a cadeira de rodas na parte perigosa do gelo, o demônio movia a mão como se fizesse algum tipo de magia para o gelo na sua camada mais fina não quebrar e sustentar Luna. Os dois parados lá, demônio e ceifador, na parte rodeada pela faixa amarela, enquanto Luna se aproximava da parte mais sombria onde os postes de lamparinas a gás não alcançavam e já havia ultrapassado até as faixas vermelhas de alerta. A casa interiorana de Luna em Essex, só possuía energia elétrica porque Crowley era um ocultista e era fascinado por tudo de novo que pudesse existir no mundo. Logo, criou um gerador seguindo os ensinos de Edison o que para a ordem dos filhos da Serpente era algo muito mágico e místico, por assim dizer. Mas a maioria da iluminação da cidade de Londres era a gás, o que mantinha os fogos nos postes acesos e na parte mais decadente, ainda eram usados velas e combustíveis mais baratos. Em algum momento, Luna sumiu da vista da mãe e do menino irmão da falecida, que esperavam aflitos também na parte segura do gelo, já que ambos sonhavam com a alma da garotinha pedindo ajuda. Luna sumiu de vistas humanas, mas não dos olhos de águia que enxergavam melhor na escuridão do seu guardião demoníaco. — Corja infernal… você dificultou o meu e o seu trabalho fazendo um pacto com ela…— Comentou o ceifador com o demônio. — Será? — Retorquiu Hadria, ainda movendo a mão para o gelo não ceder com o peso de Luna e da cadeira de rodas, mas ainda focado no ceifador e com os seus olhos azuis, confrontando os verdes do ceifeiro.— Você assistiu aquela cena inteira se repetir com quatorze mulheres diferentes enquanto o desgraçado que se dizia o mago supremo das artes místicas usava as vidas delas para ter uma boa colheita, riqueza e falso poder… e se irrita, por que uma das vítimas revida e clama por vingança? Isso só porque vai ter uma papelada a mais e perdeu uma alma, e teve que dar baixa em treze inúteis. — Destino cria os enredos dos humanos no livro da vida deles. — Se defendeu William, abrindo e fechando a boca. — Eu apenas executei as ordens da mais alta hierarquia. Mas o que uma criatura caída como você entenderia de seguir ordens. O demônio deu um sorriso, muito pensativo e mirou o céu. Notou o ceifador batendo o pé com o bem lustrado sapato no gelo. Bem, aquilo o destacava dos humanos com toda a certeza. Humanos comuns usavam botas para se locomover melhor no inverno, não aqueles elegantes sapatos pomposos. — Nada mesmo. Não sou p*u-mandado de ninguém exceto caso os humanos saibam como me prender como o maldito do Crowley sabia.— Riu o d***o. Fitou o ceifador perdendo o senso humor. — Foi justamente por essa razão impertinente que caí. Ordens são entediantes. Sou adepto ao livre arbítrio. Dane-se o destino, dane-se a morte, dane-se o tempo, a destruição, o desejo, o caos e que Deus se f**a! — Disse o d***o indiferente, e deu de ombros. O ceifador, arregalou os olhos verdes bonitos, crispou os lábios ante tamanha blasfêmia e soltou um som de escárnio e horror puro, cruzando os braços. William deixou os olhos irem ao céu noturno sem estrelas ou lua. Achou que um raio cairia sobre as cabeças deles pelo sacrilégio, mas nada. Hadria projetou toda a sua atenção em Luna novamente. Viu uma luz azul fantasmagórica cercar a cadeira de rodas dela e então a luz tomar forma de uma menininha. Mas tinha algo errado. Tinha outra presença cercando a alma da menina. Uma presença perversa e maligna que contaminava o ar com cheiro de peixe podre. Já Luna observou a criança. Os olhos de Luna encheram-se de lágrimas em luto pela corajosa menina que deu a vida pelo irmão. — Você quer mesmo brincar para sempre comigo? — Sondou Layla, acariciando o rosto de Luna. — Se sim… por que tá chorando? Não dói, prometo. Aí nós podemos ser amigas para sempre. — Luna sentiu um calafrio pelo toque que parecia uma brisa fria ou gelatina. — Quero sim. — Respondeu Luna, amável. — Você foi tão corajosa em salvar o seu irmãozinho. Tão corajosa. Ele está ali… — Luna apontou na direção de Henry e da mãe de Layla, Sarah. Foi como se o espírito despertasse de um transe ao rever a família. Parecia hipnotizada a arrastar outros a morte, pelo modo que olhou para onde estava a mãe e o irmão, apertando os olhos e balançando a cabeça de uma matéria inumana e voltou-se para Luna… — Saia daqui! A bruxa vai matar você! Saia! — Mandou Layla de repente. — Ela está vindo. Ela quer mais crianças, mas você serve também. Saia! A menina fantasma translúcida, empurrou um pouco da cadeira de rodas para tentar salvar Luna, mas não tinha força espectral o suficiente para influenciar na matéria, olhou para trás, desesperada, como se visse alguém e arregalou os olhos. Luna olhou para lá e viu uma horrenda mulher com várias correntes. O cabelo na frente do rosto e olhos vermelhos. Metade do rosto comido. Uma das correntes dela presa a alma de Layla, as outras em crianças que foram aparecendo. A coisa puxou a alma de Layla para perto dela de volta pela corrente. — Ela disse que se eu afogasse crianças, nunca mais ficaria sozinha — Gritou Layla a distância. — Por favor, me perdoa. Diga à minha mamãezinha e ao meu maninho que os amo. — Hadria! — Gritou Luna em pânico e desamparada, vendo a coisa se aproximando mais e mais. Uma mulher com a boca aberta, o rosto deformado e com uma âncora amarrada nos pés que a arrastava. Dez crianças a sua volta, presas nas correntes dela. Hadria correndo tomou a frente de Luna quando a coisa ia tocá-la e sacou a sua espada com a qual Luna o viu matar Crowley e os desgraçados da ordem dele. O ceifador vinha logo atrás e materializou a sua foice que ficou azul pelas almas perdidas de crianças e sem destinos prontas para a ceifa. — O que é isso? — Exigiu Luna de Hadria, com os olhos arregalados. — Layla, ela tentou me salvar. Ela não está afogando crianças porque quer… Hadria faça algo. — Implorou Luna infantil. Ela respirou fundo e confrontou o demônio determinada — A minha ordem é mate aquela coisa e salve as almas daquelas crianças. — Uma dama da água. — Foi o ceifador que soltou parecendo incrédulo que o caso era além. — Em diversas culturas há uma. Geralmente deveriam ser boas. — Explicou aos leigos que era Luna no caso. — Uma mulher que morreu afogada, mas ajuda outros a não terem o mesmo destino. Mas essa cujo rancor se torna tão grandioso que quer levar outros ao mesmo fim, se tornou um poderoso espírito maligno. Agora faz sentido, o corpo de Layla não ter sido encontrado quando era para mesmo na morte ter acontecido um milagre. A bruxa o puxou para o fundo e não deu oportunidade de ressurreição. Desesperada, Luna gritou; — Hadria, mate essa coisa e salve as crianças! — Não confio que você não vai devorar essas almas, demônio. — O ceifador tomou a frente da cadeirante e do d***o. Luna apertou as unhas nos braços da cadeira de rodas, se sentindo impotente, quando emocionada se lembrou de que Layla mesmo com medo tentou salvá-la. O demônio observou o ceifador tomando a frente deles com um sorrisinho debochado e depois fez um gesto com a mão enluvada como se dissesse com cavalheirismo: Vá em frente então. Com o ceifador fazendo as honras e indo atacar a coisa sinistra que mantinha as almas presas, com a foice. Hadria tranquilamente, se virou para sua senhora que assistia tudo com a mão tapando a boca para suprimir um grito. O servo ajeitou a manta que a cobria na cadeira de rodas..
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