NOVO ALVORECER

1707 Words
“Garanto que terá uma vida boa até o fim do nosso contrato.” “ Certo. Qual é o seu nome demônio?” “ Hadria” Ela abriu e fechou os olhos incomodada com a claridade. Quando decidiu pôr fim abrir as pálpebras, uma leve ardência. As cortinas vermelhas do quarto estavam abertas. Grossas cortinas vermelhas separadas deixando evidente a janela em forma de arco com vários quadrados estruturais, acoplados no vidro. O que permitiam os raios solares entrarem, mesmo que o céu de Londres estivesse cinzento. Fosse pelas fábricas ou apenas o tempo, era uma sensação familiar e preguiçosa aquelas nuvens cinzam um tímido sol. A cama de dossel era de ébano e tinha um mosqueteiro na cor preta como cortina. O edredom e toda a roupa da cama eram feitos de algodão egípcio e na cor vermelha, com bordados dourados. O papel de parede do quarto era vermelho sangue com alguns padrões que de longe pareciam um leão, mas de perto, aldravas desenhadas. Havia um grandioso guarda-roupa de ébano que tomava toda uma parede com vários vestidos que ganhou do conde como um jogo sádico. Uma penteadeira também de ébano, onde na superfície de cima havia alguns vidros de perfume francês; Pó de arroz, tintura de lábios, lápis para delinear os olhos; e uma escova de cabelo prateado com cerdas brancas macias. Alguns prendedores de cabelo caríssimos. A penteadeira também tinha três gavetas com puxadores em forma de pérola onde dentro tinham várias caixinhas de joias que também foram presentes do conde quando a cortejava. E na frente do espelho que também era parte do toucador, um banquinho com estofado vermelho, onde ela devia se sentar para se embelezar. Havia um lustre bonito acoplado no teto, usavam a energia elétrica, invenção de Edison, da América. Teto este com desenhos perturbadores de uma serpente, uma maçã e uma mulher nua. Se ela fosse mais esperta teria percebido antes que a serpente e a mulher estavam se esfregando um no outro e aquela pintura não era normal. Um penico branco debaixo da cama. O piso era de mármore e bem escuro. Soube que tudo era real, pela dor entre as suas pernas e pelo fato de não conseguir mexer a perna esquerda. Tirou o lençol macio de cima de si, subiu a barra da camisola de algodão branca que usava e viu na parte interna da coxa um símbolo estranho rodeado por um círculo no lugar da mordida nojenta que Crowley a deu. Respirou fundo e com os olhos abertos ao máximo. Sim, teve a sua vingança e vingou outras três mulheres. Sim, a sua alma não era nada, mas pelo menos podia ser consumida em paz, sabendo que o demônio matou todos eles e não haveria uma próxima vítima. Batidas na porta. — Entre. — Mandou Luna. A porta abriu-se depois dela mandar. O andar dele era tão suave. Usava um bonito fraque, por baixo um terno n***o e luvas pretas nas mãos enquanto andava. Notou ele empurrando uma cadeira de rodas de madeira com duas rodas que pareciam de bicicleta atrás. Luna o viu caminhando até ela com aquele objeto de rodas usados por aqueles soldados que perderam a perna na guerra e parando de frente a cama. — Bom dia, condessa Essex. Cumprimento a senhora como nova cabeça dos negócios do seu esposo, já que ele foi encontrado morto no píer. Você ter sobrevivido aquele ataque de ladrões foi mesmo um milagre. Aliás… Três corpos de jovens mulheres foram encontrados no jardim da mansão e a rainha numa carta pediu a sua discrição no caso enquanto a Scotland Yard investiga para depois saber como proceder relativamente ao caso. — Suponho que esse título de condessa seja obra sua. — Acusou a garota e deu um sorrisinho. — Muito bem, servo! O demônio abriu um ligeiro sorriso, lisonjeado. A fez uma reverência com a mão no coração. Mesmo toda ferida, ela não tinha porque o elogiar e o preço que ela pagou foi alto. Não eram palavras necessárias para ele. Esperou, na verdade, que ela fosse agir defensivamente como um animal ferido. — Estou aqui para facilitar a sua vida e servi-la, milady. É a minha função e não precisa agradecer por isso quando o custo é tão alto. Cedeu-me a sua perna e a sua alma em troca dos meus serviços. Serei seu servo mais fiel até o seu fim. Luna arqueou a sobrancelha bem desenhada em formas levemente angulares. Isso era inesperado de um demônio. Ele queria tanto assim a alma feia, quebrada e nojenta dela? Por quê? — Preciso de um banho. Sinto-me asquerosa, Hadria. — Disparou ela, rangendo os dentes. Ele estremeceu levemente pelo seu nome ser dito na voz celestial e delicada dela. — Sei que deve ter-me banhado ontem para tirar aqueles restos nojentos, mas… Não consigo mais fazer isso sozinha. Apesar de não suportar a ideia de um homem tocando em mim… você não é homem, é? — Não, milady. A senhora ainda é uma criança aos meus olhos e está sob a minha tutela. Impedirei que qualquer homem a toque. — Respondeu o d***o a avaliando com algum senso de empatia. Luna sorriu pela ironia do demônio ser mais gentil do que os humanos. — Bom… — Respondeu à moça, assentindo com a cabeça como se bem satisfeita, mesmo que com a voz vacilante desviando o olhar do dele. — Agora, coloque-me na cadeira de rodas e dê-me um banho escaldante até eu me sentir pelo menos um pouco limpa. … O banheiro tinha a sua louça de uma cor branca. As paredes na cor amarela e sem enfeite. Havia flores e alguns sabonetes em barra, xampus e condicionadores separados numa estantezinha de metal. Tinha um retrete branco com uma caixa de água acoplada em cima e uma cordinha para puxar para dar descarga. Uma banheira branca e um chuveiro. A banheira está cheia de água e espuma. O cheiro dos sais de banho eram de erva-doce. Quando ele a despiu da camisola de algodão branco sem graça e a deixou nua, havia marcas roxas pelos pulsos e nos tornozelos dela das algemas que a prendiam à pedra de sacrifício. Luna notou aliviada que o seu novo ajudante infernal, mesmo olhando o seu corpo, não tinha um olhar nojento sobre e manteve-se calado apenas analisando as partes arroxeadas. Ela quis chorar por algum motivo. Como uma criança que cai, mas se mantém forte, até que o olhar se encontra com o da mãe e a criança sendo vista desata a chorar para mostrar como a queda machucou. Após nua, ele tirou-a da cadeira de rodas de madeira, de novo, como uma noiva, e a colocou delicadamente na banheira de água morna e espuma, a água não estava fervendo como ela ordenou com sadismo contra si mesma por se considerar nojenta. A temperatura estava deliciosa e quentezinha sem machucar. Após acomodá-la…. Luna, apenas o assistiu ajoelhado perto da banheira e parado lá como se esperasse a permissão de tocá-la. — Você pode esfregar as minhas costas e lavar o meu cabelo, por favor. — Pediu delicadamente. — Do resto eu cuido. — Sim, minha senhora. — Respondeu ele, tirando as luvas, pegando um vidro marrom de xampu, com um rótulo amarelo escrito Coconut. — Você não se sente rebaixado em fazer esse tipo de serviço? Você é um ser sobrenatural. Sou só uma humana… — Sondou ela com um sorriso suave nos lábios e o observando atentamente encantada com cada gesto solene. — Você é minha mestra e pagou caro pelo meu melhor serviço. Não se preocupe com esse tipo de coisa banal. Apenas me use como faria com um par de sapatos. Um vestido. Uma espada ou escudo. Tudo o que lhe for útil. É para isso que estou aqui. Ela não percebia… mas a pureza da alma dela era comovente, mesmo tendo sido massacrada, ainda restava algo doce e ingênuo nela. Hadria abriu o xampu e passou no couro cabeludo dela o massageando gentilmente. Ela relaxou e soltou um suspiro suave de prazer com os dedos se esfregando na sua cabeça. Foi algo quase infantil. A alma dela brilhou em meio a antes escuridão. O demônio salivou. Sim, era para deixá-la feliz que a serviria, porque o gosto da felicidade dela, deixaria o abate mais prazeroso. Pensativa, Luna puxou um assunto: — Há uma brincadeira infantil de que se prefere encontrar na floresta, isso ou aquilo…. — A conheço… — Respondeu o demônio ligando a torneira e pegando uma bacia de água e a jogando no cabelo de Luna. — Se prefiro encontrar um homem ou um demônio na floresta… — Ela fez um “suspense” propositado, apoiando o queixo no joelho bom. — Eu diria que um demônio. Pelo menos o demônio sente fome e só quer comer a minha alma porque precisa se alimentar. O homem quer a destruir e, além disso, profanar o meu corpo e isso só para satisfazer o próprio ego. Luna encolheu-se na banheira, abraçando o joelho que conseguia mover. O d***o resolveu alertar: — Eu também sou perigoso, minha senhora. Estou apenas dominado nessa forma. Quero devorar a sua alma no fim. Os olhos dela encontraram os dele e ela cedeu-lhe um sorriso melancólico. — Sei… mas percebe… Pelo menos você não mente para mim com palavras bonitas, presentes e poemas de amor mentirosos como ele fez. Irônico que você, o d***o, não minta. Hadria apenas estudou a sua senhora, tentando entender o que ela tanto pensava. — Sonhos de amor roubados… — Resmungou ela, ainda encolhida, mas com a perna esquerda ainda esticada. A voz embargou. — que homem vai querer-me agora que fui usada por treze? — A pureza na sua alma não se destruiu por isso. Você não é impura… a culpa não foi sua. — O d***o falou a verdade. Não havia consolo, só uma constatação. — Eles não são os únicos a destruírem mulheres assim. — Percebeu Luna pensativa. — Nesses dez anos que teremos juntos, eu vou usar-te para proteger outras pessoas como eu. Assim, quando a minha alma for devorada por você, eu saberei que usei bem o poder que me deu. Você será minha espada e o meu escudo, Hadria.
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