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Sophia sempre pensou que sua vida nunca mudaria. Mas, quando teve diante de si, os olhos marrons daquele gigante, que a olhava como se lhe pertencesse, descobriu que a vida sempre tem uma ou mais cartas na manga

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CAPÍTULO 1
"soph?" Mesmo na névoa de dor em que se encontrava, Sophia se forçou a abrir um olho, o menos inchado. "Sarah, preciso que faça uma coisa para mim, tudo bem?" Ante o aceno da irmã, Sophia lentamente ergueu o corpo até que estivesse parcialmente sentada e estendendo a mão segurou fracamente a mãozinha pálida da garotinha." Você precisa achar outro esconderijo." "Mas, tô com fome!" O lindo rostinho em formato de coração de Sarah já mostrava sinais da perda de peso devido aos dois dias em que não tinham o que comer. "Eu sei, mas temos de ficar escondidas até que venha a noite. Já estamos próximas da estrada, falta pouco, monstrinha! Como Sophia sabia que ia acontecer, Sarah sorriu. Ela sempre adorou ser chamada de monstrinha, desde que assistiram Monstros S.A. escondidas no porão. A irmã, então, saiu do buraco em que Sophia estava e vendo uma grande árvore meio oca, se entranhou em seu tronco, procurando uma posição que fosse meramente confortável. Estavam tão perto! Era possível ouvir o sussurro da estrada, mas Sophia sabia que não podiam aparecer na estrada durante o dia, era muito arriscado. A noite, talvez, encontrassem um bom samaritano que daria carona a uma mulher machucada e sua irmãzinha faminta. O plano era um lixo! Bufando, Sophia amaldiçoou Rose e David novamente. A única vantagem que tinham era que eles viajaram para a Convenção i****a da igreja ridícula em que eram membros e ainda não deveriam ter voltado. Seu sangue ferveu de raiva ao imaginar a atuação de Rose quando fosse a polícia. Ela podia ver a mulher chorando desesperadamente, implorando aos policiais que encontrassem suas filhas queridas. Sophia duvidava que seriam encontradas se conseguissem chegar a interestadual e alguém as tirasse do Estado. Para Rose e David, posar de pais desesperados pelo desaparecimento das filhas adotivas, teria suas vantagens. Fora toda atenção que receberiam dos estúpidos da igreja, apareceriam no noticiário local, angariando simpatia e despertando a compaixão da pessoas da cidade pelo sofrido casal. De repente, um latido ao longe despertou Sophia de seus pensamentos. Droga! Droga! Droga! Não era possível! Elas estavam longe, tinham cobrido uma longa distância na velha caminhonete de David, até que a gasolina acabou. Como poderiam já estar a procura delas? Olhando para a árvore em que Sarah tinha se enfiado, tentou fazer um sinal para que a garota permanecesse escondida, mas já era tarde. Assustada, Sarah correu para o buraco onde Sophia estava e foi questão de apenas alguns minutos para que as lanternas iluminassem a pequena clareira em que estavam. Sophia, sentiu um estranho alívio. Seu plano era i****a, e ela sabia que não daria certo quando a caminhonete ficou sem gasolina. David era burro, mas Rose, não. Ela com certeza sentiu que Sophia iria tentar fugir novamente. Pelo menos Sarah iria se alimentar. Olhar para a carinha faminta dela doía muito mais que os machucados. Talvez a levassem a um hospital. Lá poderiam remendar sua costela quebrada. E enquanto estivesse lá, tentaria engolir toda comida que fosse capaz. Ouvindo algo como um rosnado, levantou os olhos e se deparou com um rosto que só não poderia ser de um anjo por causa da frieza e desprezo que viu nos olhos azuis límpidos que a encararam. Ergueu o queixo e descaradamente observou cada detalhe daquele homem estranho, desde a cabeça totalmente careca, ao nariz esquisito, achatado. Os lábios do filho da p**a eram deslumbrantes, cheios, bem feitos. Sophia sempre se rescentia de pessoas bonitas. Nascera com um odioso lábio leporino, e mesmo depois de várias operações plásticas, ela ainda sentia o buraco entre os lábios. Todos diziam que não era perceptível, mas no fundo ela sabia. Ela era feia! "Você consegue sair daí sozinha?" A voz de um grave profundo, aveludado, disse enquanto avaliava a posição estranha em que ela estava dentro do buraco. "Eu..." E tudo ficou escuro.

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