Narrado por Melissa Rocha Acordei com gosto de nada na boca. A cabeça doía. O corpo pesava. E a sensação de que eu tava fazendo tudo errado desde que nasci me acompanhava como sempre. Botei o uniforme sem vontade. A blusa colava nas costas. A calça apertava onde não devia. A mochila parecia pesar mais do que a noite que eu tinha passado vomitando. Minha mãe já tinha saído. Deixou um bilhete colado na geladeira: "Te amo, minha pequena. Não esquece de comer direito. Fiz ovo mexido." Eu não comi. Só peguei o pacote de biscoito recheado da prateleira e enchi a mochila. Era mais fácil engolir culpa do que carinho. Desci a viela do morro cabisbaixa, ouvindo os sons da rua acordando — panela batendo, cachorro latindo, música de rádio estourando do barraco do lado. Gente viva demais. E eu

