Capítulo 5
Marcela narrando
Acordei cedo, mas mesmo assim me senti exausta. O Rio de Janeiro já estava quente e abafado, e o barulho da cidade entrando pelo meu quarto não ajudava em nada. Tentei me distrair com tarefas simples, mas minha mente não parava de pensar em tudo que estava acontecendo — Roberto, a delegacia, meu medo constante de qualquer surpresa que pudesse surgir.
Resolvi sair para pegar um pouco de ar e caminhar até a farmácia, precisava de algumas coisas básicas. Coloquei um vestido leve e óculos escuros, tentando passar despercebida. Mas, enquanto caminhava pelas ruas, senti que alguém estava me observando. Olhei para os lados, mas não vi nada de estranho. Respirei fundo, tentando não demonstrar nervosismo.
Ao chegar à farmácia, percebi que meu celular não parava de vibrar. Era uma mensagem de um número desconhecido:
"Precisa de ajuda para chegar em casa?"
Meu coração disparou. Não conhecia aquele número, mas havia algo na mensagem que soava… familiar. Olhei ao redor e vi um homem parado próximo a um carro, com o uniforme de motorista de aplicativo, mas algo nele me deixou alerta. Ele parecia tranquilo demais, olhando para mim com um sorriso calculado.
— Não preciso de Uber — falei rapidamente, guardando o celular.
— Tem certeza? — ele insistiu. — Vi que você está tentando chamar e o app não funciona. Eu posso te levar.
Meu instinto gritou para eu recusar, mas algo nele me lembrava daquela última vez que precisei de ajuda… e ele me ajudou. Respirei fundo, mantendo distância.
— Está bem, mas só até a esquina — disse, tentando soar firme.
Ele sorriu, e pude perceber a segurança que transmitia, mas também havia algo de… planejado. Durante o trajeto, ele puxou assunto de forma natural, tentando me colocar à vontade. E, por algum motivo, eu me vi respondendo, mesmo desconfiada de cada palavra.
Quando chegamos à esquina, tentei sair rapidamente.
— Aqui mesmo — falei.
— Tem certeza? — ele insistiu. — Posso levar você até dentro, sem problema.
Olhei para ele e, por um momento, pensei em tudo que estava acontecendo. Algo me dizia que ele sabia mais do que deixava transparecer, mas precisava manter a calma.
— Está bem — cedi, apenas para encurtar a situação.
Enquanto caminhava para casa, meu celular vibrava de novo. Uma nova mensagem aparecia:
"Mais uma vez, obrigado pela ajuda. Olha como eles estão felizes."
Olhei a foto e reconheci imediatamente as crianças no Morro. Meu coração disparou. Quem era esse homem? Como ele tinha conseguido meu número? E por que me enviaria fotos das crianças?
Sabia que algo estava começando a mudar. Não era apenas um acaso, algo estava sendo planejado, e eu estava no meio disso, consciente ou não.
Respirei fundo, tentando manter a calma, mas uma certeza crescia dentro de mim: não podia confiar em ninguém.