Capítulo 5
Marcela narrando
Cheguei em casa e vi o carro de Roberto estacionado na garagem. Por um instante, agradeci mentalmente por ele não estar no quarto; provavelmente estava atolado em seu escritório, cuidando de milhões de coisas ao mesmo tempo. Isso me dava alguns minutos de paz, algo raro quando se vive ao lado de alguém como ele.
Fui direto para o banho, liguei o chuveiro e tentei relaxar. Tirei minha roupa e senti a água quente escorrer pelo corpo, como se lavasse também um pouco do peso que carregava todos os dias. Coloquei uma roupa fresca e peguei meu celular, quando vi uma mensagem de um número desconhecido. Fiquei tensa: era uma foto daquele motorista de Uber, Miguel. Não podia acreditar que ele tinha meu número.
"Como você conseguiu o meu número?" — digitei, tentando esconder a preocupação.
Antes que pudesse receber a resposta, Roberto entrou no quarto. Coloquei o celular no silencioso e respirei fundo.
— Notícias dos exames? — ele perguntou, sem me olhar nos olhos.
— Ainda não. — respondi, tentando soar neutra.
— Espero que dessa vez você me dê um filho. — disse, olhando-me de soslaio.
— Eu te dei uma vez, você que me fez perder, não esqueça disso. — falei, firme, sentindo meu estômago se contorcer.
Ele sorriu de forma c***l:
— Você tem sorte que hoje estou de bom humor.
Enquanto ele se despia e jogava suas roupas sobre a cama, fui recolher a roupa suja e arrumar o que estava limpo. Desci para a sala, tentando me distrair, quando a mensagem de Miguel chegou:
"Vou começar a ficar com medo de você, você parece um psicopata."
Sorrir, mas de forma contida:
— Porque você acha isso? — respondi.
— Você está me seguindo, agora meu número de telefone. — ele rebateu.
— Eu gostei de você — continuou — você acha isso r**m? Se estiver incomodando, é só me dizer que paro de falar com você.
Antes que eu pudesse responder, a campainha tocou. A empregada abriu e Laura estava ali.
— Roberto, está aí? — perguntou.
— Está lá em cima, vou chamá-lo — respondeu a empregada, e Laura subiu as escadas.
Sentei-me no sofá, observando-a passar. Um sorriso discreto se formou em seu rosto ao me encarar:
— Ah, Marcela! Eu não vi você aí. Como está?
— Bem — respondi, tentando manter a voz neutra.
— Espero que não se sinta incomodada por eu estar aqui. Seu marido me convidou. — disse, ainda sorrindo.
Meu sorriso se desfez, frio.
— Não se preocupe. Adoro quando meu marido se envolve com outras mulheres e me deixa em paz. — falei, sem me permitir tremer.
A empregada deu passagem a Laura, que subiu sem olhar para mim. Peguei meu celular de volta e respondi a Miguel:
— Não me incomoda.
Duas semanas se passaram trocando mensagens com Miguel. Eu não havia visto ele pessoalmente, e a cada insistência minha ansiedade crescia. Não queria que Roberto descobrisse nada; ele já era imprevisível o suficiente. Ele estava cada vez mais nervoso, planejando algo, e eu podia sentir que grandes coisas estavam por vir. Rezava para que ele tivesse o mesmo destino de Kaio — a morte — e para que eu pudesse finalmente me ver livre dele, longe desse inferno que chamava de casa.
Meu celular vibrou de novo. Rapidamente apaguei a mensagem e coloquei em modo avião antes que Roberto notasse.
— Quem é? — perguntou ele, olhando curioso.
— É a clínica. Os exames estão prontos — respondi rapidamente, mudando de assunto. — Se estiver tudo ok, consigo fazer a inseminação.
Ele me lançou um olhar intenso:
— Isso é bom. Mas acho que teremos que esperar alguns meses.
— Por quê? — perguntei, sentindo um misto de alívio e medo. Não queria filhos dele agora, jamais.
— Estou com uma guerra começando — respondeu, frio. — Hoje dou o primeiro passo. Vou organizar o embate com eles.
Engoli em seco.
— É perigoso? — perguntei.
— Para mim, não — ele disse, levantando-se. — É perigoso para os meus homens que vão enfrentar os bandidos.
— E você não sente pena deles? — arrisquei.
— Eles escolheram esse caminho — disse, seco. — Precisam assumir os riscos.
Ele suspirou, limpando a boca com um guardanapo:
— Eu provavelmente não volto para o jantar. Talvez só amanhã à noite.
— Vai passar a noite com Laura? — perguntei, tentando esconder o ciúme.
— Não sabia que você sentia ciúmes — respondeu, olhando-me fixamente.
— É apenas curiosidade — murmurei.
— Se você me amasse, Marcela, sua vida seria mais fácil — disse ele. — Você tem a vida que merece.
— Ser trocada por uma dívida, obrigada a viver do jeito que você quer — retruquei. — É assim que você quer que eu te ame?
Ele sorriu, irônico:
— Poderia ter a vida de qualquer uma das minhas amantes, mas prefere ficar aqui, sendo humilhada, abusada e dona de casa. A escolha é sua.
— Se a escolha é minha, prefiro morrer — falei, encarando-o.
Ele me olhou, sério.
— Tem certeza? Porque posso atender seu pedido.
Com isso, ele pegou sua maleta e saiu, me deixando sozinha. Respirei fundo e desabafei, socando a mesa repetidamente. Não aguentava mais viver com aquele monstro.
Coloquei o celular novamente fora do modo avião e uma nova mensagem chegou:
"Eu quero te ver. Vamos nos encontrar. Você é linda. Tenho certeza de que seu marido não te valoriza como merece."
Olhei para a mensagem, meu coração acelerado, e finalmente decidi responder:
"Estou em casa a noite toda sozinha. Meu quarto é a primeira janela da esquerda."