BRASA NARRANDO Entrei pro banheiro mudo e virei sombra. Porta fechada, luz apagada, ouvido colado no mundo de fora. Cada palavra dele batia na cerâmica como navalha. “Saudade”, “amor”, essas p***a que homem frouxo fala quando tá tentando amarrar gente pelo sentimento. A voz dele vinha limpa, perfumada de motel caro. Me deu ânsia. Segurei no mármore pra mão não atravessar a parede. Eu respirava curto, no ritmo de tiro: puxa, segura, solta. O coração batendo no dente. Eu sabia o script todo: ele ia bancar ofendido, mentir bonito, jogar culpa na secretária, falar que eu sou bandido — como se novidade — e tentar puxar a Sol pro colo no final. Eu só precisava do momento. A cadeira raspando, o corpo dele levantando… a deixa. Fiquei engatilhando e desengatilhando no seco, só pra sentir o peso,

