Meus pés sangravam contra o cascalho do jardim quando finalmente alcancei o portão dos fundos. Aisha esperava no jipe preto com o motor ligado, seus olhos âmbar brilhando na escuridão.
—**Entra!** —ela ordenou, puxando-me para dentro do veículo.
O portão do palácio desaparecia no retrovisor quando meu corpo começou a tremer incontrolavelmente.
—Ele vai me matar... —sussurrei, minhas mãos agarrando o assento.
Aisha acelerou numa curva fechada.
—Meu irmão é muitas coisas, Layla, mas não é um assassino.
O celular dela vibrou. Uma mensagem apareceu:
**"Traga-a de volta. Não force minha mão."**
Ela desligou o aparelho com um suspiro.
O apartamento era um santuário de luz suave e livros —tão diferente da opulência gélida do palácio. Aisha me levou direto ao banheiro, onde água quente já enchia a banheira de mármore branco.
—Vamos tirar isso de você —disse, examinando o colar com cuidado profissional.
—Ele tem... tem um mecanismo de segurança...
Ela sorriu, pegando uma pequena chave magnética.
—Zayn usa o mesmo sistema desde que éramos crianças.
O *click* da fechadura se abrindo ecoou como um tiro. Massageei meu pescoço marcado, estranhando a leveza.
—Por que está fazendo isso? —minha voz soou áspera de desuso.
Aisha despejou óleo de lavanda na água.
—Porque meu irmão esqueceu que escravidão não é amor.
Enquanto eu mergulhava na banheira, Aisha contou histórias que meu coração recusou a acreditar:
—Aos oito anos, Zayn ficou três dias acordado quando eu tive pneumonia —ela disse, lavando meu cabelo com movimentos suaves. —Quando nosso irmão mais novo morreu, ele assumiu todas as responsabilidades da família para me proteger.
Minhas mãos contraíram-se na água.
—Esse não é o homem que eu conheço.
Ela enxaguou meus cabelos em silêncio.
—O poder corrompeu algo nele. Mas o núcleo ainda está lá —seus olhos encontraram os meus—. Por isso preciso devolvê-lo a você *inteira*.
Naquela noite, vestida com um camisão de algodão que não revelava nada, deitei na cama de hóspedes e...
**Senti falta das mãos dele.**
Meus próprios dedos pareciam fracos, inúteis, quando deslizaram entre minhas pernas. Fechando os olhos, tentei recriar a pressão brutal, a dor doce que sempre me levava ao limite.
—Precisa de ajuda? —Aisha estava na porta, vestindo um robe de seda.
Escondi minha mão sob as cobertas, meu rosto em chamas.
—N-não, eu só...
Ela sentou na cama, pegando meu pulso com delicadeza.
Na manhã seguinte, a porta do apartamento explodiu.
**Zayn.**
Seu terno impecável estava amarrotado, seus olhos injetados de sangue. Aisha colocou-se entre nós.
—Ela não volta contigo.
Zayn olhou para mim —*através* de mim— como se fosse um fantasma.
—Você... está bem? —sua voz estava irreconhecível.
Minha garganta fechou.
Aisha avançou.
—Ela está ótima agora que você não está torturando ela.
Zayn cerrou os punhos, mas foi então que vi —*o tremor em suas mãos*.
—Layla... —ele começou, então parou, como se as palavras queimassem sua língua.
Foi Aisha quem quebrou o silêncio.
—Você tem duas escolhas, irmão. Ou volta sozinho agora, ou espera até ela *querer* te ver.
Algo mudou em seu rosto. Algo *quebrou*.
—Ela... ela vai querer?
Minha resposta veio antes que eu pudesse pensar:
—Um dia.
Zayn assentiu, virando-se para sair. Na porta, parou:
—O colar... tem um rastreador. Desativei-o ontem.
E então ele se foi.
Aisha me levou à varanda, onde o sol da manhã banhava a cidade.
—Ele vai esperar? —perguntei, meus dedos tocando o pescoço nu.
Ela sorriu, servindo-nos chá.
—Meu irmão esperaria até o fim dos tempos por algo que realmente quer.
Peguei a xícara com mãos trêmulas.
—E se eu nunca estiver pronta?
Aisha encostou sua xícara na minha.
—Então você será livre. *Verdadeiramente* livre.
E pela primeira vez desde que me lembrava...
**Eu acreditei