Capítulo 03

1944 Palavras
No jardim se ouvia os instrumentos e as gargalhadas dos convidados. Muitos passeavam por entre as petúnias e jacintos fascinados pela beleza do jardim norte do castelo. O lugar estava cheio, nobres convidados e outros intrusos descarados. Talvez isso se sucedesse pela notícia do casamento do príncipe regente. Bisbilhoteiros. Muitos dos homens buscavam ver a face do príncipe que sempre se manteve escondido como um morcego com medo de gente, já às mulheres se encontrava ali para ver pela primeira vez o jardim do Cordial. Ramon titubeou atrás de Dixon, que com as mãos nos bolsos do terno n***o, fuzilava os indesejados convidados passeando despreocupados por entre suas flores. Ele queria m***r um por um como insetos. ― Não seriam apenas dez pessoas? E no salão de baile? ― Bem... Elisie desejava que o fizesse no jardim. ― Dixon soprou com força e virou-se para o servo. ― Ramon, eu estou com dor... Você é o culpado, incitou-me a sentir. E se eu ficar inconsciente no meio da cerimônia? E se... ― Não seja pessimista, vai ficar tudo bem, coloquei guardas para vigiar as suas plantas, além disso, antes de cada convidado entrar, foram informados de não tocar ou machucar as flores. ― explicou o servo se dirigindo à saída do escritório. ― Vamos... Percorrer o caminho para a sua cura. ― o jovem enrugou o nariz cético e o seguiu. Desceram as escadas a passos largos. Dixon se posicionou no lugar do noivo, sem se preocupar em cumprimentar as demais pessoas que o fitavam com curiosidade. O sacerdote sorriu tentando passar confiança ao noivo que o ignorou. Passaram-se alguns segundos, estava começando a ficar desconfortável, ele inclinou-se para sussurrar o porquê da demora da sua noiva quando os músicos mudaram a música, querendo fazer daquele momento, um acontecimento romântico e apaixonante. Ela surgiu na outra ponta do tapete. Usava um vestido azul de mangas longas e renda com pequenas pedras brilhantes. Seu rosto era coberto por um espalhafatoso véu grosso, e a suas mãos seguravam um buque de rosas-brancas. Ela deu alguns passos e quando finalmente encarou o seu noivo, parou. Ficou parada no meio do caminho como uma estátua. Até que uma mulher bem vestida aproximou-se dela séria e após sussurrar algo, a moça recomeçou a andar. Observou Dixon. Viraram-se para o sacerdote que deu início a cerimônia, começou mostrando-lhes três vasos de vidro, em um tinha areia vermelha, no outro a areia preta e o terceiro estava vazio. Ele entregou o de areia vermelha para Elisie e o outro para Dixon ― Os senhores são como essa areia ― explicou tocando na boca dos jarros e pedindo que eles escorressem no vazio. E continuou a observar as cores se misturando e preenchendo o vaso. ―, de agora em diante vocês estão ligados e misturados como um só. Do mesmo modo que as areias distintas misturaram-se tornando-se inseparáveis, esse será seu destino. Eu bendigo-os em nome dos deuses que morreram para dar vida a esse mundo onde vivemos. ― disse assim que eles colocaram toda a areia no recipiente vazio. ― O noivo pode retirar o véu que os separa e selar esse momento com um beijo. ― Dixon se virou para sua noiva que tentava disfarçar o pânico de ser exposta. Ele ergueu o véu e a sua face não conseguiu disfarçar a incredulidade. ― Não sabia que a minha noiva saia por aí usando as roupas de uma serva ― sussurrou e antes que ela abrisse a boca, beijou-lhe a testa. Os convidados bateram palmas e os músicos recomeçaram seus acordes divertidos. Dixon enrugou o nariz, a dor e Gomon agindo de modo estranho novamente. Aproximou-se de Ramon e sussurrou ao servo: ― Era ela. A mulher que fez Gomon surgir sem ser chamado. ― Ramon abriu a boca em espanto. Ainda tentava decidir se o que havia acontecido no escritório era algo mau ou bom. ― Não era uma serva?― Dixon endureceu as suas feições. ― Bem, isso não vem ao caso agora. Tem certeza de que era ela? ― Sim, o monstro está se revirando... Mas não dói tanto quando ele absorve energia. ― explicou olhando ao redor as pessoas conversando animadamente. ― E agora? Devemos matá-la? Ramon negou com a cabeça e tomou um gole do seu champanhe, tranquilo. ― Nada de morte, vamos observar e continuar com o plano de início. Aos poucos vinham casais cumprimentar Elisie e o seu marido, que apenas acenava com a cabeça. Cansado, Dixon puxou ela pela cintura afastando-a da multidão risonha, e sussurrou impaciente: ― Vamos encerrar isso, já estamos casados e... ― ele emudeceu assim que um homem forte de cabelos loiros e rosto monstruosamente familiar aproximou-se sorrindo. Dixon apertou a cintura de Elisie a puxando inconscientemente para mais perto. Seu peito doía, e Gomon se contorcendo dentro de si o machucou com as correntes. Cordial encolheu-se. As emoções roubando o seu controle. Como que prevendo o que aconteceria Ramon surgiu: ― Rei Alexander, quanto tempo. Fiquei surpreso ao vê-lo. ― o homem sorriu tristemente concordando. ― De fato, esse lugar está carregado de dor e memórias más, mas como eu recusaria vir ao casamento do meu sobrinho que tão gentilmente convidou-me? ― Ramon concordou com um aceno. ―Tio... ― resmungou Dixon, ainda parado como uma rocha encarando o homem que era quase uma copia de Mercúrio, e isso fez o seu estômago revirar-se com as feridas que Gomon reabria dentro dele. ― Sim, sinto muito por nunca termos nos encontrado pessoalmente, contudo, como citei nas minhas cartas, você é bem-vindo no meu reino. Ao contrário daquele que não me atrevo a citar o nome em um dia tão alegre, não guardo rancor de você. Como poderia? O único que sobrou... ― Que gentileza a sua, meu tio. ― disse sentindo o amargo das palavras ditas. E finalmente soltando a cintura de Elisie que se encontrava rígida, cruzou os braços para pressionar contra a dor, sempre tentava apertar o peito para amenizar, era inútil, entretanto gostava de pensar que sim. Continuou: ― Alexyan está aqui? Necessito falar com ele. ― Conhece Alex?― medo passou pelos olhos do homem por uma fração de segundos, porém ele tratou de disfarçar. ― Sim, como um andarilho nas terras altas de Xingyun. Só descobri quem ele realmente era quando nos separamos na fronteira. ― explicou ―Ah! Esse garoto é um problema, não tem quem consiga controlá-lo, está longe de casa há cinco meses. Tenho medo de que no futuro negue o trono e terei de entregá-lo a Vincent, o meu filho de seis anos. ― Soube que tem uma filha mais nova que Alexyan. Ela poderia suceder ao trono caso o herdeiro renuncie. ― disse Elisie se recuperando do constrangimento do aperto do marido. Alexander olhou com desgosto para Elisie e respondeu autoritário: ― Que tolice! Mulheres não servem para reinar. ― a língua dela coçou por uma resposta educada a altura, contudo a conversa se deu por encerrada quando uma vertigem obrigou Dixon a se apoiar em Elisie. Que o abraçou pelo susto. Alexander repuxou os lábios num sorriso e antes de se afastar pegando uma taça de champanhe. Comentou: ― Meu sobrinho, tenha pudor. Assim que o velho estava longe o bastante, Ramon que permanecia quieto pronunciou-se: ― Elisie, leve ele até a cozinha discretamente. ― mesmo sem entender ela o fez, agarrou-se a ele e foram cambaleantes para a cozinha. Enquanto o servo dirigiu-se ao centro e encerrou a cerimônia com a desculpa de que o príncipe havia bebido demais e queria ficar a sós com sua dama. Alguns que observavam o jovem estranharam a desculpa do servo, no entanto, apesar de duvidarem, se dirigiram ao saguão principal onde na porta esperaram as suas carruagens. Elisie ajudou o seu marido a se sentar próximo à mesa que continha vários bolos e doces. Seu estômago roncou, nem se dera conta de que não havia comido o dia inteiro. Uma serva que aparentava estar exausta se aproximou com um copo de água, que ele aceitou sem piscar. ― O que você tem? Dói em algum lugar? ― cerrando os dentes em agonia, fitou a sua esposa que o encarava com preocupação, ela parecia uma pintura, isso o acalmou um pouco, mas não Gomon. ― Estou bem, você pode ir para seu quarto, esperarei Ramon. ― Não posso deixá-lo aqui. ―Vá, isso não é problema seu. ― Elisie ofendida iria rebater com uma resposta rude, mas como sempre alguém a interrompeu. Era Elena, a sua mãe parada na porta que dava ao jardim. ― Querida, o seu marido não parece bem... está pálido...― começou Elena se aproximando, mas foi parada por Elisie que se virou ocultando o corpo de Dixon. ― Ele bebeu demais, a senhora já está de partida? Eu devia acompanhá-la até a saída? Gostaria de ver papai antes da sua partida, já que agora serão limitados os nossos momentos juntos. ― falou tentando ocultar o seu desprezo pelo homem que a mandará para aquela prisão. ―Ah! Sim, ele foi cumprimentar o rei Fryando, vamos. ― Elena passou o braço pelo de Elisie para conduzi-la e de costas virou o rosto para o genro e disse em tom angelical: ― Alteza, machuque, humilhe ou deixe-a sofrer, e eu esquecerei o nosso parentesco e aliança e o pendurarei com as vísceras de fora na muralha do reino de Nox. Então, espero que fique bem e saudável. Coma melão, ele fará você urinar todas as bebidas. ― Dixon com as sobrancelhas franzidas, sorriu involuntariamente ao ver a mulher sorrir antes de sair, deixando trêmulo o homem que não teme multidões. *** ― Ramon, eu não minto, ela tinha aquele olhar... um olhar de assassino quando falou para mim. Uma mulher, como uma mulher tão pequena pode ser tão assustadora? ― relatou o Cordial ao servo que colocava a jarra de água no criado mudo. ― Imagino, Elena Allen era uma simples camponesa, mas com a sua coragem conseguiu roubar o coração do rei. Sente dor? Devo entregar o bilhete? ― Dixon negou, a dor havia passado, mas a fraqueza do corpo apareceu no seu lugar. Em breve precisaria alimentar Gomon com uma vida pura, antes que a sua fosse completamente sugada. Mas não naquele dia. ― Hoje não... só me deixe dormir. Ramon suspirou pesadamente se sentando no canto da cama, observando o jovem pelas luzes bruxuleantes das velas, estava branco como se todo o sangue fugisse da face, e os lábios secos. ― Espero que ela seja a cura. ― Sinceramente... Bem no fundo... eu também.― trôpego e quase sem voz Dixon murmurou antes de adormecer. Ramon abriu as cortinas da varanda para deixar entrar a luz da lua; apagou as velas antes de sair. Elisie aguardava do lado de fora, já havia tomado banho e usava um camisolão branco com laços e babados no pescoço e nas mangas, horrendo. Ela tinha esperança de que talvez ao usar isso o Cordial não a olhasse. Assim que Ramon saiu do quarto, ela desencostou-se da parede e fitou o servo. Estava nervosa, as mãos tremiam atrás das costas. ― Ele está doente, não é? Eu devia dormir no meu quarto hoje. ― o servo negou com a cabeça. ― Não, você é esposa dele. Durma com ele... Isso o fará se sentir melhor... ou assim espero.― sussurrou para si mesmo as últimas palavras. ― Mas... ― Ramon a interrompeu e abriu a porta do quarto ― Ele providenciou tudo, você dormirá em uma cama de solteiro no canto do quarto. Os senhores não precisam compartilhar a cama ainda. ― ela quase cantou de alívio.
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