59. Caveira

1035 Palavras

Eu desci do carro com o motor ainda quente e a ladeira me recebeu como recebe filho que some e volta com cheiro de ferro: sem abraço, só silêncio atento. A boca respirava mais baixo quando ouviram meu passo. O barulho de moedas em copo de plástico parou, um rádio foi desligado no susto, e o menino do caixa ajeitou a postura como quem endireita a própria história. Passei por eles sem aceno. Quem precisa de gesto não aprendeu a ler o ar. O balcão estava limpo, a vitrine fechada com fita, as anotações do plantão alinhadas sob o peso de um isqueiro, tudo do jeito que eu sempre quis e, ainda assim, torto. Porque hoje não era o dia do funcionamento; era o dia do que mora atrás do funcionamento. — Três saem do beco 4 — eu disse, sem olhar para o relógio. — Dois descem com o Niltinho pro asfalto

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