As duas sumiram de uma vez, como quando apaga a TV puxando da tomada. Só ficou a lâmpada dançando e o quarto com cara de buraco limpo. Eu encostei a testa no dorso da mão e respirei fundo, contando até oito. A culpa afrouxou a corda um dedo. O pó, como sempre, cobrou a prestação: vem uma calma e um vazio pela metade. Abri a porta. O ar da boca entrou sem pedir licença, trazendo cheiro de cigarro e de fritura, um eco de risada cortada. Os meninos fingiram que não esperavam. O relógio da parede inventou um minuto novo. Eu lavei o rosto na pia do corredor, água fria, sabão sem cheiro, e a cara que voltou no alumínio amassado era a de sempre: olho que não desvia, boca que não promete, cicatriz que não debate. — Cadê o Rafael? — perguntei sem olhar pra ninguém. — Rodando a rua de cima, chefe

