Bar do Blues

1020 Palavras
Terminei de servir os cafés e o tempo inteiro olhei para os convidados. Três estavam mais desconfortáveis e ansiosos. Eu anotei o nome deles mentalmente, e assim que terminei de servir os cafés, saí da sala com o carrinho para levá-lo para a cozinha novamente. Hanner estava no corredor tremendo, com a boca branca. Eu o olhei e me assustei. - Senhor Hanner, o senhor está bem? - Ele passou as duas mãos pelo próprio rosto e eu o segurei pelo braço. Imaginei que se não o segurasse, ele cairia. - Vamos para a sua sala, por favor. Eu vou buscar uma água com açúcar. - Ele concordou com a cabeça e eu o levei até a sala, o deixando sentado em sua cadeira. Dois minutos depois, cheguei com o copo de água com açúcar. Ofereci a ele e ele sorriu de leve em agradecimento. - Obrigado, Alex. - Ele respirou fundo. - Eu não sou sempre nervoso assim. Não.. Não se assuste. Sei que você começou agora, não pense que sou um carrasco. - Tudo bem. - Falei. - Essas pessoas... Essas pessoas... Eles acham que eu sou i****a. - Hanner bebeu um pouco da água. Eu o olhava com atenção, e até com um pouco de dó. - Se você entendesse de contabilidade, talvez eu te explicasse o que estava ali. Era escancarado. Uma fraude daquelas, se fosse parar em algum jornal, levaria a Schneider Co. a falência. - Ele passou as duas mãos no rosto, nervoso. - Por que fazem isso? - Pergunta boba. Ele precisa me achar i****a. - Porque todo mundo quer o maior pedaço de bolo, Alex. Você começou agora, e você vai ver que aqui dentro é um ninho de cobras. - Abaixei o rosto por alguns instantes. Eu não posso ter empatia por Hanner, ele mandou prender meu pai. Mas apesar de tudo, a frase dele era exatamente igual a que pensei antes de entrar aqui. - Por que você não demite os responsáveis? - Ele me olhou como se estivesse sem esperança. - Porque eu não tenho provas. Teria que demitir todos. Um culpa o outro e assim vai. É... Simplesmente um absurdo. E eu sinto muito por estar desabafando com você, eu tenho que voltar para a reunião... - Não, ele não pode parar de falar agora. - Não precisa. Sou uma assistente geral, se você precisar de mim... Pra qualquer coisa, inclusive pra desabafar de coisas que eu não entendo, eu estarei aqui. - Sorri de forma doce e coloquei meu cabelo atrás da orelha. Antes de apresentar minha ideia ao chefe, li em um livro que franjas fazem com que as pessoas vejam você como se você tivesse um ar infantil e inocente. Pela forma como Henry me olhou, talvez tenha funcionado. - Quantos anos você tem, Alex? - Ele questionou. - Vinte e três. - Falei. - Eu tenho quarenta. Você não sabe a quantidade de coisas horríveis que já vi acontecer aqui dentro. - Ele se moveu na cadeira, olhando para baixo por alguns instantes, e depois, olhou para mim. - Não deixe esse mundo transformar você e tirar sua inocência. - Por que diz isso? - Questionei, o olhando com meus grandes olhos castanhos, fixos aos dele. - Porque você se sente um ser humano horrível pelas coisas que tem que fazer. - Ele disse e se levantou da cadeira. - Eu vou voltar para a reunião agora, muito obrigado pela ajuda. - Certo, se precisar, estarei aqui. Culpa. Aquele sentimento que te faz sentir a responsabilidade por algum dano, e que te leva a enlouquecer lentamente. Percebi, naquele momento, que Hanner estava vivendo seu próprio inferno particular por algum motivo, e eu não sabia o qual era. Mas sabia qual era o sentimento responsável e isso me agradava muito. A culpa é, por si só, uma verdadeira tortura. A reunião continuava e eu estava ansiosa para saber de algo. Fazia duas horas que ninguém saía daquela sala, e eu tive uma ideia: Água. Ninguém levou água para a reunião. Desci novamente até a cozinha e peguei os copos descartáveis, e também as grandes jarras de água para servir os convidados. Levei o carrinho até a sala e entrei, como se não estivesse interessada em nada. Por sorte, uma das convidadas da reunião levantou a mão para mim, como se eu fosse um garçom, e eu fui até ela servir. Hanner estava falando algo sobre os contratos assinados. Algumas assinaturas de movimentação de dinheiro investido foram claramente falsificadas, e ele colocava a assinatura original e a falsa lado a lado na tela. Transferências exorbitantes para compras de coisas inexistentes, entre outras coisas que só me fazia pensar que, das duas uma: Ou essa empresa vai falir, ou ela vai falir os clientes para quitar todos os desvios. Quando a reunião acabou, eu estava no cantinho da sala, com o carrinho de água, e ouvi Matthew e Hanner cochichando. - Por que você fez aquilo na reunião, Hanner? Não precisava daquele escândalo. Os funcionários ficaram assustados, você sabe disso. Deixa que da próxima vez eu falo, primo. Você sabe que sou mais polido que você. - Hanner respirou fundo. - Matt, eles precisavam de um choque de realidade. Vinte e sete dólares por uma caneta, Matt? Sério? Esse escritório tem caixas e caixas de canetas, e cada uma delas custou vinte e sete dólares? É ridículo. - Hanner negava com a cabeça. - Eu sei, também estou revoltado. Mas não podemos tratar as pessoas assim. Que tal bebermos essa noite, hm? - Matt sorriu para Hanner, que concordou com a cabeça. - Vamos no bar do Blues, assim, você ficará mais tranquilo. Pode até conseguir um encontro, que tal? Eu saí da sala de reuniões com o carrinho sabendo o que faria essa noite. O bar do Blues é um bar que só a alta sociedade frequenta, até porque, um copo de chopp é cerca de oitenta dólares. Mas, se os dois vão, talvez seja uma boa oportunidade para me aproximar como algo a mais de um deles e entrar de uma vez nesse rolo todo.
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