Todos trabalhavam normalmente. Cobras, malditas cobras. Eu estava fazendo algumas anotações sobre as pessoas enquanto não me mandavam fazer nada.
- Onde a nova assistente está? - Hanner saiu bravo de seu escritório. Eu saí de trás da mesa onde estava e levantei a mão. Ele veio até mim e me entregou uma pasta. - Dezesseis cópias para ontem. Nós teremos uma reunião e alguém se esqueceu disso. - Ele lançou um olhar de ódio para a secretária que, se pudesse, se enfiaria em um buraco.
- Sim senhor. - Falei. Juro que tentei conter a ironia, mas não consegui. Ele me olhou confuso, mas foi para sua sala com aquela cara de ponto de interrogação.
Tirei as cópias e as coloquei em pastas diferentes. Bati na porta da sala de Hanner e entrei. Ele falava no telefone, e esticou a mão para que eu o entregasse as pastas. Entreguei, e ele acabou desligando o telefone pois a ligação terminou.
- Obrigado. - Ele disse.
- Mais alguma coisa? - Ele negou com a cabeça e mergulhou nos papeis que estavam em sua mesa. Quando fiz menção de sair, um homem de cabelos escuros e olhos tão azuis quanto os de Hanner entrou na sala. Eu levei um pequeno susto e dei um passo para trás.
- Oi, me desculpe, não quis assustá-la. - O homem sorriu de forma doce. - Não te conheço ainda.
- Sou a nova assistente geral. Se precisar estou as ordens. - Eu retribuí o sorriso.
- E como é o nome da nova assistente geral? - Ele questionou.
- Sou Alex.
- E eu sou Matthew. Prazer em conhecê-la.
- Digo o mesmo. - Saí da sala, finalmente.
Eu sabia quem era Matthew, antes de qualquer coisa, mas não conhecia sua aparência. Seu nome esteve no jornal por muitas vezes como braço direito de Hanner, mas de acordo com as colunas em revistas de fofoca, Matt é o bonzinho e Hanner o malvado. Os dois são solteirões extremamente bonitos, e isso me ajuda, porque estão constantemente nos blogs de fofoca de Nova Iorque.
Hanner não namora há anos... Mas Matthew já trocou de namorada algumas vezes. Talvez, só talvez, se eu der em cima dele, possa conseguir algumas informações preciosas. Eu não ligo do que terei que fazer pra concluir minha vingança. "Os fins justificam os meios", como diria Maquiavel.
- O chefe está nervoso hoje. - A secretária de Hanner disse.
- Algum motivo especial? - Ela concordou. É uma tonta de óculos, que parece mais assustada do que um periquito fora da gaiola.
- A inspeção vem semana que vem e alguns dados estão irregulares. - Bingo. A corrupção ainda acontece... Se fosse meu pai, teria acabado.
- Irregulares como? - Vamos, fofoqueira, me conte.
- Te conto no almoço. Quer almoçar comigo? - Concordei prontamente.
A hora do almoço chegou e descemos pelo elevador até a rua. Fomos a um restaurante baratinho, de comida caseira, e eu tive que manter uma conversa trivial para que ela não desconfiasse.
- Então, você tem filhos? Que legal! - Ela sorria ao falar dos dois meninos.
- Eles são maravilhosos. - Ela disse.
Nós recebemos a nossa comida e finalmente achei uma brecha para perguntar sobre a empresa.
- E então, o que você ia me contar sobre a empresa? - Ela aparentemente se lembrou e depois da bocada no bife, ela mastigou e começou a falar.
- Então, é que já faz alguns anos que rola uma lavagem de dinheiro dentro da empresa. O Hanner é muito certinho, ele tenta resolver desde... Desde sempre. Mas nunca consegue descobrir, porque é muito bem mascarado. Só que esse ano, eles estão menos cuidadosos. - m*l sabem eles que sou um cavalo de tróia.
- Nossa, que coisa! - Fingi surpresa. - E o Hanner finge que procura, né? Ele tem a maior cara de corrupto. - Falei em tom de piada e tomei meu suco enquanto olhava para ela, tentando entender sua linguagem corporal.
- Ele é um filho da p**a, mas não consigo não confiar nele. Ele é... Sei lá. Eu não consigo imaginar ele como um corrupto. - Ergui as sobrancelhas. Talvez ela esteja enganada. - E já trabalho com ele há quatro anos.
- E quem você acha que é a fonte da corrupção? - Lancei. Ela olhou para os lados, como se estivesse com medo de falar. Inclinou-se na mesa e falou baixinho.
- Eu acho que é o Matthew Schneider. - Dessa vez, eu fiquei surpresa.
Não acredito que essa tonta desconfia do Matthew... Mas ela está aqui há quatro anos, talvez tenha motivos para isso. Eu não vou pressioná-la, para que ela não se assuste. Preciso ficar de olho no Matthew também e, meu plano de seduzí-lo parece fazer bem mais sentido agora.
- É melhor nós irmos para a empresa. Jogamos tanto papo fora que nem vi o tempo passar! - Falei, de forma divertida. Ela riu.
- Fazia tempo que não me divertia tanto com alguém, Alex. Obrigada por isso. Fico tão imersa no trabalho que esqueço de viver. - Concordei com a cabeça.
- Podemos fazer isso mais vezes, sem problemas.
Voltamos para a empresa e assim que entrei, Hanner passou e já me fez seguí-lo.
- Comigo, Alex. - Ele disse. Manda quem pode, obedece quem tem juízo.
Segui Hanner até a sala de reuniões. Ele me entregou as pastas que carregou até lá.
- Quer que eu distribua na mesa? - Ele concordou enquanto ligava o computador da sala. - E o que mais precisa, senhor Hanner?
- Preciso que peça para a cozinha trazer os cafés e bolinhos que encomendei. E traga canetas e blocos de notas, estão na gaveta azul no depósito.
Eu corri para realizar o pedido de Hanner. Fiz todas as solicitações e tive uma ideia bastante proveitosa: Não, a cozinha não precisa entregar os cafés... Eu poderia fazer isso e escutar um pouco da reunião.
Distribuí os blocos de notas e também as canetas em cima das pastas que já havia distribuído. O ambiente começou a se encher de homens e mulheres de roupas sociais e perfumes caros.
Saí da sala e fui procurar o rapaz da cozinha. Assim que o encontrei, parei na sua frente e sorri de forma doce.
- Querido, você deve estar tão ocupado! Deixa que eu os sirvo, o que acha? - Falei. Ele concordou.
- Estou atolado de serviço. Obrigado. - Ele saiu andando com pressa e eu peguei o carrinho com uma grande térmica de café e os bolinhos. Minha estratégia seria servir um por um, e ouvir o máximo que conseguisse da reunião.
Entrei com o carrinho na sala. Matthew deu as boas vindas aos convidados e, quando a introdução terminou, eu olhei para Hanner e apontei para os cafés. Falei sem voz, para que ele pudesse ler meus lábios.
- Posso servir os cafés? - Ele negou com a cabeça e fez do mesmo jeito que eu, falando sem voz.
- Espere um pouco. Quando eu terminar de falar. - Excelente. Hanner me deixaria lá por algum tempo.
Quando Matthew saiu do comando da reunião. Quando Hanner entrou, percebi que o clima mudou. Todos estavam tensos, as posturas mudaram, e Hanner olhava para eles com o queixo erguido e olhar extremamente mandão.
- Boa tarde. - Ele disse. Apertou o botão do projetor e o ligou, expondo um enorme documento na tela. Um documento obviamente fraudado. Ele olhava para todos com ódio. Caminhou até a mesa e deu um soco ali. Algumas pessoas levaram um susto e tremeram em seus lugares.
- Inaceitável! - Ele gritou. - Inaceitável! Eu zelo por essa merda de empresa pra vocês fazerem esse tipo de coisa! Eu não quero saber quem foi, porque se eu souber, eu empurro pela janela! Seus filhos da p**a! - Ele gritava. Uma veia de seu pescoço saltou, e outra em sua testa. - Vocês acham que o CEO de vocês é i****a, senhores? - Matthew se aproximou de Hanner e o segurou.
- Primo, você está muito nervoso. Se acalme. Por favor, saia da sala um pouco, eu converso com os nossos companheiros. - Matthew parecia frio o suficiente para lidar com a situação. Hanner abandonou a sala revoltado. - Vamos dar uma pausa, pessoal, é... Alex, sirva os cafés.
- Claro, sim senhor. - Eu comecei a servir os cafés enquanto os ânimos se acalmavam na reunião.