Eu ainda estava preso em pensamentos, lembrando de Sana, mas dessa vez parecia um sonho bem real, ela tocou em meu rosto e disse:
—Você precisa ajuda-la. Acorde!
—Quem? –questionei no sonho.
—Acorde, Nīsan! –ela falou alto.
Despertei do meu pequeno devaneio, eu estava sentado em um banco na rua, de cabeça baixa e capuz cobrindo a cabeça, já tem alguns anos que eu vivo assim, cometendo pequenos delitos para sobreviver, depois da morte da minha irmã tudo desandou, meus pais enfrentaram uma crise grande no casamento, meus tios e avós me condenaram pelos meus atos, porque segundo eles eu não deveria ter matado meu tio, eu deveria denunciá-lo.
Mantive a atenção porque aquele sonho pareceu tão real, foi então que eu ouvi, na rua atrás da minha, ouvi uma voz feminina pedindo ajuda, só ouvi duas vezes e suspirei antes de levantar e ir ver o que era.
Devo dizer que eu odeio agressores de mulheres ou pedófilos, abusadores e etc. Em todos esses anos a lista de assassinatos de gente assim cresceu a ponto de eu achar que minha alta não tem mais nenhuma salvação.
Eram três homens contra uma mulher, que estava deitada no chão, se debatendo enquanto eles tentavam tirar sua roupa e leva-la para o lado mais escuro da rua, minha mente não processou a informação direito, apenas corri e derrubei o primeiro com um chute na cabeça, ele já caiu desacordado, lutei contra os outros dois e não foi nada difícil derrubá-los. Antes que eu pudesse avançar novamente eles pegaram seu pedaço de merd@ que chamam de amigo e saíram correndo dali.
A moça virou de frente para mim e me encarou, ela estava muito assustada, seu olhar parecia atravessar minha cabeça, me perguntei se foi assim que Sana olhou para o desgraç@do que a matou antes de morrer.
Abaixei até ficar da altura da mulher no chão e falei:
—Você está segura, agora. Ok? Estou ligando para a polícia.
Retirei meu telefone do bolso e liguei para a emergência, relatei o acontecido e eles disseram que já estavam enviando uma viatura. Eu permaneci ao lado da moça, mas ela não conseguia dizer nada, só me encarava, um tempo depois ela pareceu desmaiar e por isso eu fiquei lá até a ajuda chegar. Coloquei o capuz na cabeça novamente e saí da rua.
Eu deveria ter continuado no Sul, com o motoclube que me acolheu quando passei por lá, mas decidi precipitadamente vir morar em Chicago, o mais longe possível dos meus familiares.
A situação da menina me incomodou tanto que eu decidi fazer uma coisa, caçar todos os três.
O primeiro foi fácil de encontrar, o i****a é filho do prefeito, por isso que ele age assim, sem limites, o rapaz estava saindo de casa, falava ao telefone e estava com um sorrisinho irritante que eu odiava no rosto. Ele ia ao carro, corri rápido e atravessei a rua, entrei no carro pela porta dos fundos, o i****a ainda falava ao telefone e não percebeu que eu estava lá.
Quando ele desligou e entrou no carro, decidi aguardar até que estivesse em uma distância boa. Minha faca fiel já estava em minhas mãos.
O i****a dirigiu por quase vinte minutos, minha chance chegou quando ele entrou em uma área mais afastada, com poucas casas.
—Entre na rua 15 e siga até o bosque que fica atrás daquele condomínio de ricos. -Eu falei. Ele gritou como uma menininha e freou o carro, quase derrapando na estrada.
—Quem é você, p***a? cai fora do meu carro. -Ele berrou.
Eu sentei mais pra frente e coloquei a faca em sua garganta.
—Faça o que eu mandei ou vai morrer aqui.
—Você quer o carro? Eu te dou, cara. —ele perguntou, eu pressionei um pouco mais a faca em sua garganta e ele voltou a arrancar com o carro.
Eu não disse mais nada, apenas pressionando a faca lá, ele dirigiu por mais quase quinze minutos, entrou no bosque até onde dava pra ir.
—Aqui está bom. —Eu falei e ele pisou no freio e desligou o carro. —Sabe quem eu sou?
—Não, e nem quero saber, cara. Você quer meu carro, é isso? Eu te dou. Cara, olha, minha família tem muito dinheiro, meu pai é prefeito... ele...
Porra. agora as coisas ficaram um pouco difíceis, mas eu já estava na chuva, ia me molhar.
—Não quero dinheiro, quero saber por que atacou aquela menina.
Ele olhou pelo retrovisor do carro tentando me enxergar, mas eu já estava totalmente escondido na escuridão e pelo moletom que cobria até meu nariz.
—Você é o namorado dela? Cara, foi só uma brincadeira, a gente só queria curtir, ela agrediu meu amigo e...
—Mentiroso. —eu rosnei —Odeio pessoas mentirosas.
—Desculpa, mano, olha, eu nem sei quem é a moça, prometo que nunca mais faço isso e você pode... —Eu já estava farto dessa conversa toda.
—Você pode ter certeza de que nunca mais vai fazer nada. —deslizei a faca em sua garganta e senti o sangue molhar meu punho.
Saí do carro e deixei o cara lá, se engasgando no próprio sangue. Limpei o sangue da minha mão e guardei a faca no bolso.
Merda. Trouxe o cara para essa área escondida e agora vou ter que andar até tarde de volta para casa. Outro dia eu pego o restante.
Procurei um local seguro para dormir e sonhei novamente com minha irmã, ela parecia me dizer que estava orgulhosa de mim, mas como assim orgulhosa? Eu agora vivia fugindo, acabei de assassinar um homem e provavelmente irei assinar outros em breve. Por que ela estaria feliz?
Porque Sana era assim, ela via bondade em tudo, inclusive em pessoas como eu, ela era tudo para mim, a alegria da minha vida, o dia em que encontramos seu corpo está tatuado em minha mente e nada nesse mundo é capaz de apagar aquilo.