Capítulo IV

1053 Palavras
     Quando achei que mais nada pudesse me surpreender aquela semana, conheci Sarah Rocks, uma agente da tal empresa terceirizada que fechara contrato com a empresa de Joliet. Ela era uma mulher morena de cabelos longos e escovados. A cintura era muito fina e os quadris lagos.   - Prove – mandou, sem esconder a impaciência. - Não – ela balançou a cabeça – providencie um numero a menos – exigiu para a atendente.        Ficamos a tarde inteira juntas, indo de uma loja para a outra e ainda sim, ela não trocou meia palavra comigo. Era como se eu fosse um manequim ambulante que usaria apenas o que ela decidisse e ponto final. Quando tentei opinar, ela me deixou no vácuo, falando sozinha. Era assombrosa a necessidade que as pessoas tinham de humilhar as outras.       Como era possivel que aquela mulher nem houvesse aberto a boca e ainda sim havia conseguido fazer eu me sentir menos que uma merda de cachorro?         Para a minha infelicidade, no dia seguinte tive que aguentá-la por mais um dia e me perguntei por quanto tempo duraria aquela tortura. - Amanhã as 8h da manhã esteja neste endereço – ela me entregou um cartão e sumiu da minha frente.       O cartão que ela me deu era de uma clínica odontológica. Bom, pelo menos eu teria a oportunidade de clarear os dentes. O celular tocou, era Júlio. - Abra o aplicativo da sua conta bancária – ele falou tomado de euforia. - Por quê? – perguntei colocando os fones de ouvido e entrando no aplicativo. Quase engasguei quando vi dez mil nela. - Onde você está? Precisamos falar sobre esse boy! – ele falou ansioso.        Júlio chegou ao shopping tão rápido que até me assustei. Sentada em uma área comum, eu ainda sorria diante da soma que se encontrava em minha conta. - Consegui dez mil, o Júlio me emprestou – avisei minha mãe pelo telefone. Não aguentaria chegar ao hospital para dar a notícia. - Isso é ótimo – ela respondeu, mas não havia entusiasmo em sua voz. - O que está acontecendo mãe? – Perguntei preocupada. - Sua tia não conseguiu o empréstimo, mas eu consegui vender o carro por sete e quinhentos. - O que? – Eu quase gritei.   - Infelizmente as pessoas se aproveitam como pode da necessidade dos outros – senti a amargura na voz dela.      Toda a alegria se extinguiu na mesma velocidade que surgiu. Dez mil era muito dinheiro para uma pessoa desenterrar do dia para a noite, mas era pouco para o que eu precisava. A cirurgia custava trinta mil.      E pensar que para algumas pessoas aquilo não significava nada, quando para mim significava a vida de minha irmã. - Acho que vou precisar de outros clientes – falei apavorada – mais uma semana vai demorar muito, preciso de dinheiro rápido. - Ouvi Joliet dizer que seu contrato não te permite ter outros clientes. - Convença Joliet a me emprestar vinte mil – pedi a Júlio o fitando com seriedade – Diga que pagarei dez por cento do valor e que ela já poderá ficar com o dinheiro que forem depositando. - Eu posso falar com ela, mas e se você for dispensada pelo cliente? Você não tem nenhuma experiência e pelo perfil que temos dele, é um peixe grande e peixes grandes não dá para segurar apenas com um rostinho bonito, precisa de traquejo, precisa de experiencia. - Acha que eu não vou conseguir? – Perguntei aflita. - Eu não disse isso, mas fazer um empréstimo sem se quer conhecer o cliente, me parece um passo maior do que as pernas. Digo isso porque Joliet não é do tipo que perdoaria uma dívida. - Fale com ela e me diga o que devo fazer para que esse homem não me dispense. - Posso te dar umas dicas, mas sem querer te desanimar, eu só sugeri esse trabalho por causa da situação de sua irmã. Você não tem o menor jeito pra isso – em outro momento aquelas palavras teriam soado como um elogio. - Não sou nenhuma virgem inocente Júlio. - Você sabe rebolar? Porque não pense que a vida de quem segue esse ramo é fácil como todos pensam.          Segui com Júlio para a boate em que ele trabalhava. Aquela era a terceira vez que entrava ali, como ainda era dia, o salão estava vazio e os funcionários cuidavam da limpeza.       Joliet estava em sua sala, aparentemente muito bem-humorada conversando por telefone. Não era de se estranhar que estivesse de bom humor, havia acabado de ganhar dez mil sem precisar lixar as unhas. Conversamos com ela sobre o empréstimo e ela teve a mesma reação do Júlio, dizendo que uma coisa era eu ter ganhado dez mil para ir ao Spa e outra era um empréstimo sem se quer ter conhecido o cliente. - Bom, se não puder me ajudar, então vou ter que ir atrás de alguém que acredite no meu potencial – falei, cheia de uma confiança que não tinha. - Calma lindinha, eu posso sim te arrumar esse dinheiro, mas se for dispensada terá que vir trabalhar todos os dias na boate e aceitar os clientes que eu conseguir, não pense que é fácil conseguir um cliente fixo como consegui para você. - Estou ciente disto – não agradeci pois ela estava ganhando metade do meu dinheiro sem fazer nada. - Muito bem, irei preparar os documentos – as palavras dela me inundaram de alegria, ansiedade, alivio e aflição. Tudo ao mesmo tempo.       Como Júlio trabalhava como drag queen na boate a noite, tive que treinar os movimentos de dança que ele havia me ensinado sozinha. Descobri que meu corpo era bem mais duro do que eu imaginava. Deitei no sofá e coloquei um dos filmes pornôs que ele havia me indicado. Definitivamente aquela vida não era para mim. Desliguei a televisão horrorizada. Eu já tinha visto um filme pornô uma vez, mas nunca havia me imaginei nas cenas.       Eu já estava dormindo, quando acordei com o celular tocando. - alô... – atendi ainda grogue. - O cliente quer vê-la. Em trinta minutos estarei aí na boate. - Está certo – falei pulando da cama. Renan achava que eu morava na boate, pois havia dado aquele endereço a ele. Não podia arriscar deixar minha mãe descobrir alguma coisa. 
Leitura gratuita para novos usuários
Digitalize para baixar o aplicativo
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Escritor
  • chap_listÍndice
  • likeADICIONAR