-Qual vosso nome, senhor? - Perguntou Vinícius, enquanto tentava subir a charrete, mas sempre dava erro.
-Meu nome é Amaurilho, e o seu jovem?
Vinícius deu um pulo e finalmente conseguiu subir, deu um sorriso de vitória estranho, o que fez Amaurilho ficar observando-o com atenção.
-Meu nome é Vinícius, meu sobrenome é silva, eu morava....-Este foi interrompido pela risada de Amaurilho.
-Cuidado jovem, não conte muito sobre sua vida para estranhos, ok? Confie primeiro nas pessoas. O povo aqui é bastante fofoqueiro.
-Ah sim, obrigado pela dica. Por favor, me dê dicas dessa cidade. - Amaurilho fez um movimento e o cavalo começou a andar, fazendo a charrete se mover.
-Veio atrás de emprego...Deixe me ver - Pensou por alguns minutos - Aqui quem manda em tudo é o Duque Alberto Augustos. Acho que você pode tentar um emprego com ele.
-Ah um duque? De verdade? - Questionou o garoto encantado.
-Por mais que os títulos de nobreza não sejam mais válidos, o título da família dele veio de gerações, então ele é sim um duque. Todo mundo o conhece assim. - O homem observava que Vinícius prestava atenção em tudo que ele dizia - Mas ele é um homem bem r**m - alertou - Ele não teme nada, ele é a lei nesse lugar, espero que ocorra tudo bem para você. Se ele falar algo para você, faça! Não pense em nada, faça, pela sua vida. - O mais novo se assustou com aquilo. - Mas é só seguir tudo direitinho que você vai conseguir esse emprego. - Deu um sorriso por fim.
-Espero que sim...
-Chegamos, jovem Vinícius. - Disse Amaurilho parando a charrete.
Um casebre de tamanho médio, de mais de um andar. Parecia bem organizado.
Amaurilho foi deixar a charrete no canto, onde era possível amarrar o cavalo.
-Venha, jovem. - Disse.
Os dois seguiram até dentro da pensão, era realmente organizado e bem limpinho.
-Olá - Disse uma voz de uma senhora. - Quem é esse Amaurilho? Não fazemos caridade.
-Oi - Se adiantou Vinícius -Eu sou Vinícius. É um prazer conhecê-la, senhora Anastácia! - Disse se aproximando, e estendendo a mão para a senhora, que sequer pegou na mão do mais novo.
-O que quer, garoto? Saiba que não faço caridade! - Falou com uma cara de impaciência.
-Tudo bem, senhora. Eu quero um quarto! - Ele mantinha o sorriso no rosto, mesmo depois de ter sido maltratado, a senhora pensou "que garoto estranho".
Lá fora o tempo ameaçava chover.
-Esse é o quarto - Falou Anastácia. - Como pagou pelos três dias, tem direito ao café da manhã, durante esses três dias.
-Ok, Obrigado dona Anastácia! - Falou observando todo o quarto, para ele aquilo ali era bem chique, ele morava em uma casa de barro. Já até tinha andado de trem, ele estava se sentido o máximo. Como diria a mãe dele "A última gota da lagoa".
A mulher saiu e o deixou só, naquele cômodo "grande". Ele foi até a janela, e sentiu seu estômago revirar, estava no segundo andar e nunca tinha pensado que uma casa poderia ser construída em cima da outra, sua prima já havia dito-lhe sobre, mas ele nunca acreditou.
A cama era confortável, ele rolou para um lado, para o outro. Depois começou a sorrir sozinho. De certo, um garoto estranho.
Colocou sua bolsa próxima da cama, procurou suas roupas e uma toalha que sua mãe o tinha dado. Juntou tudo e foi até o banheiro, que segundo dona Anastácia ficava no final do corredor, no andar de baixo. O banheiro era pequeno, mas tinha chuveiro e Vinícius nunca havia tomado banho com um. Ele ficou no banheiro por pelo menos meia hora, brincou com a água como se fosse uma criança. Vestiu-se e seguiu novamente até o quarto. Contou o dinheiro e notou que só poderia ficar ali apenas mais um dia, após os três dias que havia pago.
Vestiu-se e desceu, foi até a sala onde estava Amaurilho conversando com sua irmã, haviam outras pessoas, mas ele não as conhecia.
-Senhor Amaurilho, onde fica a casa daquele moço lá? - Perguntou, quando se aproximou.
-Que moço, jovem? - Questionou sem entender.
-O homem da cana-de-açúcar, onde ele mora? Eu preciso pedir um emprego a ele.
-Fala do duque? - O mais novo acenou com a cabeça. - Não vai descansar? Você veio de viagem, não acha melhor?
-Não senhor, eu preciso de um emprego. - O mais velho olhou sua irmã que olhava Vinícius como se fosse doido.
-Tudo bem, eu posso te levar lá, mas eu tenho que ir para casa ou minha esposa vai me obrigar a dormir no sofá. Tudo bem?
-Sim, senhor. Obrigado!
Observando tudo a sua volta, Vinícius ficava beatificado com tudo que via.
-Sua charrete é linda - Disse Vinicius. - Uma vez eu andei de carro, quando eu vinha, um senhor me deu uma carona, depois eu andei de ônibus, depois de trem. - O garoto fitou as mãos. - Meu irmão nunca nem saiu da roça. Eu quero trabalhar bem muito para trazer ele, para ele andar de trem, e subir nas casas que ficam em cima das outras.
Amaurilho riu do que o mais novo disse e prosseguiu o caminho até a fazenda da família Augustos.