- Seu Amaurilho, como vai o senhor? O que faz nessas bandas? - Perguntou um homem grande que estava no portão da fazenda. Vinícius olhou bem e viu a arma na cintura do rapaz, o que fez ele ficar com medo.
-Oi Bernado. - Disse Amaurilho -Esse é Vinícius. - Apontou para o garoto do lado, que sorriu. - Ele veio falar com o Duque, ele quer um emprego, tudo bem se ele entrar?
-Se é o senhor que está pedindo, eu ajudo sim. Pode deixar o moleque aqui, eu mando ele entrar já.
-Obrigado, Bernado. - O mais velho se virou para Vinícius - Eu vou indo, o Bernado é filho de um grande amigo meu, ele é também meu vizinho. Pode confiar, eu espero que dê tudo certo, meu jovem.
-Obrigado senhor - E Vinícius abraçou o velho, que nem soube como reagir. O mais novo desceu da charrete. Dava tchau enquanto Amaurilho ia cada vez mais longe, sumindo.
Vinícius percebeu que o outro só ficava o olhando e isso estava o deixando constrangido.
-Vem - Falou o outro que o puxou pelo braço, vou te levar até o senhor Alberto. - O menor apenas acenou com a cabeça em sinal de confirmação.
Quando entrou na casa ficou de boca aberta. Por fora ele sabia que era grande, mas por dentro era grandessíssimo. Aqueles móveis eram tão bonitos, ele via a movimentação de algumas pessoas uniformizadas. Ele se sentou no sofá, estava esperando o duque. O Bernado o havia mandado entrar e tinha ficado do lado de fora.
-Quem é você e por qual motivo está sentado em meu sofá? - Falou uma voz grave, Vinícius procurou de onde vinha e percebeu que esta voz estava vindo da direção da escada. De lá, um homem muito bem vestido descia. Vinícius já estava de pé, muito nervoso. - Você é surdo?
-Desculpa, senhor - O homem percebeu pela fala que este era forasteiro. O homem se aproximou mais e fitou aquele rosto, aquele ser bonito em sua frente gritava por ele, ao menos ele pensava assim. - Eu sou Vinícius, eu venho atrás de um emprego.
-Emprego de que moleque? - Vinícius engoliu em seco. - Você tem estudo por acaso? - O maior fitou com mais atenção.
-Eu trabalho em qualquer coisa, senhor. Eu nunca fui em uma escola, mas a minha mãe me ensinou a contar. - O outro o observava, cada detalhe daquele menino. O que lhe chamava tanta atenção assim? Ele era um homem, não poderia se sentir atraído por outro. Todavia, aquele menino exalava algo..."O que você esconde menino?" Pensou ele.
-Nunca foi à escola, só serve para trabalhar no chiqueiro. Alimentando os porcos, você pega a lavagem e leva até o chiqueiro, se quiser o trabalho é isso. - Quando terminou de falar viu um sorriso surgir nos lábios do menino.
-Obrigado senhor, é sério? Oh, eu nem acredito. Mainha nunca vai acreditar...- Os olhos do menor marejaram, mas ele limpou com a mão bem rápido. E logo voltou a sorrir de novo. - Não vai se arrepender senhor, eu vou cuidar muito bem dos seus porcos! - Exclamou com total convicção.
-É claro que é sério, eu não brinco, garoto. - Ele se virou e saiu andando - Venha comigo. - O menor o seguiu.
Entraram no escritório do duque que era todo feito de madeira, impecável.
-Sente-se - Falou o duque enquanto se sentava na poltrona atrás da mesa.
-Nossa - Falou Vinícius todo largado na poltrona. - Como isso é confortável, é melhor que minha cama - Ele sorriu depois de ver a comparação.
-Você é sempre estranho assim, menino?
-Eu sou estranho? Me desculpa senhor. - Falou se ajeitando na poltrona.
-É estranho...Mas não importa - O duque anotou em um papel - É isso que vai ganhar.
-Nossa - O menino disse com um sorriso ainda maior que o outro. - Isso tudo? Eu vou ficar rico assim.
O duque observava aquele menino, que estranho. Aquele salário era baixo, mas o garoto não parecia está sendo sarcástico, pelo contrário ele realmente estava feliz.
-Onde você está ficando menino? Eu sei que não é daqui, você fala estranho.
-Eu estou ficando na pensão da dona Anastácia, ela é bem legal, mas está sempre séria sabe? Acho que ela se sente triste por algo.
-Não quero saber sobre a dona da pensão, apenas perguntei onde estava.
-Ah sim, me desculpa - Riu sem graça - Obrigado, senhor por me ajudar! Eu vou indo, começo amanhã? Bem cedinho? Lá onde eu fico, tem um relógio, mas não sei ver as horas. Quando o g**o cantar eu venho, tudo bem, senhor?
O maior quase riu com aquilo, o que em si era muito esquisito, ele nunca sorria. Ele em um momento se focou na boca rosada do menor, era linda. Ele era lindo, ele todo.
- Venha quando terminar seu café, não precisa vir tão cedo, tudo bem?
-Tudo sim, senhor. - Ele não conseguia conter a alegria de ter conseguido um trabalho.
-Ótimo, pode ir.
-Certinho - Disse ele.