Cora olhou pro lugar onde ele estacionou, parecia uma estalagem velha, um hotel de passagem, desses que tinha cara de abandono por fora, mas com luzes acesas e gente entrando e saindo, muito homem, muito barulho, movimento demais.
— Vamos ficar aqui?
— Não… só vou pegar água quente e algo pra assar… pode usar o banheiro se quiser, mas fica perto de mais, tem homem demais, e eu não acho seguro.
Ele abriu o porta-luvas, tirou uma corda fina, amarrou na calça que ele vestia,desceu do carro e estendeu a mão pra ela, depois amarrou a outra ponta na calça que tinha comprado pra ela mais cedo.
— Seraphin…
— Como eu disse, tem muitos homens… ficamos no máximo uma hora e partimos daqui.
— Não viu sair de perto de você…
— Eu sei, confio em você, mas não confio nos homens ao redor, você é muito bonita.
— Não sou mais… a cicatriz estragou o rosto.
— Não tirou nada da sua beleza, Cora… é a mulher mais bonita que já vi ainda… venha.
Ela caminhou com ele, de mãos dadas, os passos firmes, Seraphin fez um sinal com a cabeça pra um homem na porta, provavelmente dono do lugar.
— Quero quatro galões de 10 litros com água quente, e um banheiro pra ela usar.
— Ficam pra dormir?
— Não.
— Quem é ela?
— Minha mulher.
O homem sorriu torto, olhou Cora de cima a baixo, mas encontrou o rosto de Seraphin e parou de brincar. Jogou uma chave pra ele, e entraram no quarto.
__ Corto o rosto da mullher? Se era para ela ficar fei@, não resolveu...
__ Cuida da sua vida.. da sua vida e evita mortes.
foram para o quarto.
— Posso dormir um tempo?
— Não pode… sinto muito, não é lugar limpo, usam como motel, gente entrando e saindo o tempo inteiro, e eu não quero você deitada aqui, faz calor, pode usar sua mochila, tomar um banho rápido, já partimos.
Ele desamarrou a corda com cuidado, ficou encostado na porta, vigiando tudo, não vacilaria,
Cora correu pro banheiro, a água era fria, mas não fazia muito frio e depois se secou uma toalha de Seraphin, tinha um cheiro bom , ainda mais para quem vivia na estrada.. Colocou um vestido e a calça por baixo, porque ele disse que o lugar não era seguro.
não era uma combinação bonita, não se importou.Só queria ficar perto dele.E se isso significasse ficar amarrada pela calça, também não ligava, ele era segurança.
Não mais.
Seraphin olhou pra ela assim que ela saiu do banheiro, os cabelos ainda úmidos, o vestido e a calça, o corpo pequeno.
— Está bonita.
Ela sorriu sem perceber, porque outro homem não diria isso, não com o cabelo sem corte, não com aquele vestido simples e a calça por baixo, mas com ele… com ele, parecia que ela era outra.
Saíram dali, mas antes passaram pela cozinha do lugar, Seraphin abriu a geladeira, não gostou do que viu, nada ali agradava, tudo parecia sujo, velho, ma.l armazenado.
— Vem… encontro outro lugar e compro um lanche pra você.
Entregou algumas notas pro rapaz do balcão, e quando chegaram ao carro, os galões de água quente estavam ali, como ele pediu, colocou tudo na carroceria e voltaram pra estrada.
— Em algumas semanas, arrumo um lugar diferente., uma casa boa e grande;
— Mas você vai ficar comigo?
— Vou… vou precisar sair pra trabalho às vezes, mas sempre volto.
— Quero ficar na estrada com você.
— Não é confortável… e nem sempre consigo um lugar bom pra dormir.
— Durmo na barraca… ou no carro. Quero ficar com você.
Ele fez um gesto afirmativo com a cabeça, mas não disse mais nada. Sabia que nem todo trabalho permitiria levá-la, mas naquele momento, ela estava com ele.
Pararam duas horas depois, num mercado pequeno de beira de estrada. Ele desceu primeiro, colocou o boné nela e a levou junto, pegou fruta, suco, água, biscoitos, carne temperada, pagaram em dinheiro e seguiram viagem. No banco, ela comia os salgadinhos e bebia o suco, em silêncio, olhando a estrada.
Quando a noite caiu, ela estava cansada, os olhos meio fechados, e ele saiu da estrada, entrou por uma trilha, estacionou quase dentro da mata, desligou o motor e ofereceu a mão pra ela.
— Venha… tem rio… preciso de um banho.
Ela gemeu baixo ao imaginar a água fria, mas ele puxou um dos galões de água quente, tirou um banquinho pequeno do carro e ajeitou tudo com calma.
O galão tinha uma torneira adaptada, ficou em cima da carroceria, na beira do rio, o banquinho embaixo, ela podia sentar ali, a água quente caía, e ele podia olhar pra ela enquanto se banhava.
— Seraphin…
Ele se aproximou devagar, tocou o rosto dela..
— Sua água tá quente, Cora… e a gente dorme na beira da fogueira hoje.
Ele começou a se despir ali mesmo,tirou a camisa, depois a calça, e ficou nu, alto, firme, ele tinha pelos no corpo, e Cora o observou em silêncio, os olhos seguindo cada movimento, gostou de ver o corpo dele, sentiu o rosto esquentar.
Viu quando ele caminhou até a beira do rio com um xampú em barra nas mãos, se abaixou e mergulhou de uma vez só, o barulho da água espantando os pássaros, ficou um tempo ali, depois se levantou com a água batendo no meio das pernas, e começou a ensaboar o próprio corpo.. mesmo na estrada, ele tinha o cheiro bom.
Se despiu..
Ela prendeu os cabelos num nó frouxo no alto da cabeça, pegou o sabonete líquido que ele tinha comprado, ligou a torneira adaptada do galão, molhou o corpo todo de uma vez, depois desligou.
Ficou se esfregando com calma, os dedos passando pela espuma macia, o cheiro bom do sabonete subindo junto com o vapor, e mesmo com o vento soprando pela beira da mata, não teve frio, porque ele tinha pensado nela.
Ela se enxaguou com a água quente do galão, a espuma escorrendo pelo corpo, pelos joelhos, pelos tornozelos, os olhos fechados por um instante , preferia mil vezes passar o resto da vida com banhos diários assim, do que na fazenda chique de Alceu, mil vezes.
Quando abriu os olhos, ele estava ali, ajoelhado bem à frente dela, a respiração calma, o olhar direto, os ombros ainda molhados, o corpo nu.