Estavam na estrada mais uma vez, o carro deslizando no asfalto velho, e o mundo passando devagar pelas janelas, ela no banco da frente, mais calma, o olhar solto, os ombros menos tensos, e Seraphin dirigindo..
Pararam numa cidade grande, o barulho diferente, mais gente nas calçadas, mais lojas, mais movimento.
— Onde estamos?
— Em Puebla… mas Cora, não ficamos, vou comprar algumas coisas, mas deixo você dentro do carro, assim que eu m***r Alceu, você vai poder caminhar comigo.
Ela enrolou os dedos no vestido, tomando coragem para pedir.. pensou um pouco, e finalemte perguntou:
— Posso pedir algumas coisas?
Ele pegou uma caneta no painel, rasgou uma folha de um bloco dobrado e entregou pra ela.
— Anota… nunca comprei itens de mulher, então precisa escrever.
__ Posso esvrcer tudo que rpciso?
__ pode sim
Ela fez uma lista pequena, tinha a letra bonita.: shampoo, condicionador, creme corporal, absorventes, um tênis e duas blsuas de fiiro.
— Eu procuro um vestido também… quer mais alguma coisa?
— Pode trazer livros?
— Sobre o quê?
— Não sei… livros, livors femininos , gosto de ler… mas ele nã me deixava ler, proque diz que eu ficariasohado om oque nao odia ter.
— Trago.
Ele olhou pra frente, calculando o tempo.
— O carro vai ficar trancado, no ar-condicionado, eu volto o mais rápido possível… depois vamos comer em algum lugar bom.
Ela ass
E Seraphin saiu, c a arma presa na cintura, e a certeza de que a vida dele nunca mais voltaria a ser só fuga e matança.
Agora tinha nome.
E estava esperando no banco da frente.
⚓⚓⚓⚓⚓⚓⚓⚓⚓⚓⚓⚓⚓⚓
Ele entrou numa loja grande, o tipo de lugar que vendia de tudo, roupas, calçados, produtos de higiene, cosméticos, acessórios, e m@l tinha cruzado a porta quando uma vendedora veio sorrindo, perguntando se ele precisava de ajuda, mas ele não gostava de gente em cima, não gostava de perguntas, nem de olhares simpáticos demais.
— Não… só preciso de uma cesta — respondeu, seco, desviando o olhar, e seguiu sozinho pelos corredores.
Parou próximo de uma prateleira, olhou os rótulos dos shampoos, pegou um, depois outro, mas não fazia ideia de qual escolher, então olhou os preços, pegou os mais caros, porque acreditava que seriam melhores, simples assim.
Fez a mesma coisa com o condicionador, depois com o creme corporal.
Na parte dos absorventes, hesitou, ficou parado por alguns segundos, até que pegou duas opções diferentes, jogou na cesta e seguiu.
Encontrou as peças íntimas embaladas e esterializadas, escolheu quinze peças com cores diferentes, nem sabia realmente o que estava fazendo, era a primeira vez comprando itens assim.
Na seção de tênis, escolheu um modelo simples, rosa, confortável, e colocou junto, mas pegou mais um par azul, todos tamanho 37.
Por fim, viu um vestido claro, tecido leve, não curto, não justo, e comprou, sem pensar muito, só pegou o que não pareceria provocativo..Pegou alguns conjuntos de moletom tamanho M, a estrada era fria..
Quando passou no caixa, a atendente perguntou se era presente.
— É pra minha mulher — ele respondeu, como se isso explicasse tudo.
E no fundo, pra ele, explicava mesmo.
Voltava pro carro quando lembrou do livro que ela tinha pedido, parou no meio da calçada, olhou em volta e se lembrou de uma livraria que tinha visto umas quadras antes, virou e foi até lá,.
Ficou um tempo olhando as capas, sem saber o que procurar, os títulos todos iguais, as palavras escorregando do papel sem fazer sentido, até que um atendente apareceu e, dessa vez, ele aceitou ajuda.
— Preciso de livros que mulheres gostam de ler.
O rapaz não fez pergunta, só apontou uma prateleira e sugeriu alguns, títulos variados, dramas, histórias de amor, dor, fuga, recomeço.Seraphin pegou cinco, não adiantava olhar o nome, nem a sinopse, não saberia escolher, não saberia julgar se era bom ou não, então pagou todos, colocou na sacola e ia saindo quando viu uma garrafa rosa de vidro, bonita,comprou também, porque estava acostumado com engradados de água mineral, mas Cora não gostava de garrafas plásticas, e ele tinha percebido isso sem precisar perguntar.
Voltou pro carro com várias sacolas, colocou quase tudo no porta-malas, mas os livros, esses entregou direto pra ela e também a garrafa.
Viu quando ela sorriu e alisou..
__ Obrigada..
— Está com fome?
— Estou, mas eu espero.
— Almoçamos na próxima cidade… depois dormimos num acampamento.
— Tá bem.
Ela não reclamava de nada, nada.
— Não se incomoda de estar na estrada?
Ela olhou pra frente, sorriu
— Gosto de uma casa… mas nunca tive uma… e prefiro ficar o resto da vida na estrada com você, do que numa casa com ele
Ele tirou um chocolate do bolso e deu pra ela, viu ela comer devagar, lamber os lábios, foi puxada para o colo dele.
— Passa a língua na minha boca assim, Cora… quero beijar você.
Ela ficou olhando sem saber como fazer..
— Um beijo, Cora… e podemos partir, prometo que vou arrumar uma maneira de te dar uma casa, preciso só organizar tudo, me livrar de Alceu… você leva o nome dele?
— Não levo.… minha irmã.
— Irmã?
— Isso… ele se casou com minha irmã, e me levou pra morar com eles, disse que era pra eu fazer companhia pra ela, mas quando fiz quinze anos, minha irmã sumiu, ele falou que ela tinha ido embora… depois disso, me transformou na mulher dele.
Seraphin respirou fundo, pesado, como se o ar do carro tivesse ficado sujo...o maxilar travou.— O cara era mais doente do que ele imaginava.
Ele não falou mais nada, só encostou o rosto no pescoço dela, cheirou..
— Eu vou descobrir o que houve com sua irmã, mas agora... Um beijo, Cora… pra eu voltar a dirigir… passa a língua na minha boca com o mesmo gosto que passou na sua.
Ela não respondeu, só inclinou o rosto, chegou mais perto e passou a língua devagar pela boca dele, contornando o lábio de cima, depois o de baixo, com calma, como quem explora um limite, e Seraphin gemeu baixo, grave, o som preso na garganta, apertou os cabelos dela com uma das mãos, puxou mais pra perto, e afundou o beijo.
A boca dele colou na dela com força, a língua invadiu, misturou, procurou, como se quisesse arrancar dela tudo o que Alceu tentou destruir, como se quisesse tatuar o próprio gosto nela, os dedos cravados na nuca, o outro braço apertando a cintura.
Ali, no banco do carro, com o motor desligado, o mundo do lado de fora, só existia Cora , e Seraphin começou a entender o que era amor..
Boca contra boca, língua contra língua.