CAPÍTULO 4

1329 Words
Estou paralisado a sua frente. - Não é um humor n***o. É uma realidade. Quanto menos pessoas se apegarem a mim, melhor. - Você está fugindo do mundo? - Estou deixando de vivê-lo. Assim não me dói saber que não viverei mais aqui. - Esse pensamento é triste e horrível para uma pessoa jovem como você. - Luana te contou tudo? Me abaixo e fico de joelhos, encarando enormes olhos azuis. - Não me interessa o que me digam. Subo minha mão e levo uma mecha de seu cabelo para trás de sua orelha. - Ainda tenho a minha fé. - Perdi a minha faz algum tempo. - Percebi! Acaricio seu rosto. - Posso te pedir uma coisa? - Não vamos t*****r no balcão da cozinha. Estou cansada demais e lá no sofá parecia mais confortável. Está com um lindo sorriso no rosto. - Te deixo deitada no balcão e faço todo o ato. Você só precisa revirar os olhinhos. - Acho que não sei mais como fazer isso. Faz tempo que meus olhos se mantém firmes no mesmo lugar. - Certo! Estava tratando isso de sexo como brincadeira, mas agora ficou séria a coisa. Faz tempo que não tem um orgasmo? - Muito tempo! Minha boca quase despenca e vai ao chão. - Ninguém tem interesse em f********o com alguém doente como eu. - Isso não é verdade! Dou um belo sorriso e recebo em troca um tapa no braço. - Você deve ter alguma doença. Quem em sã consciência se envolveria com alguém que vai morrer. - Priscila! Seguro firme seu rosto, mantendo seus olhos nos meus. - Meu pedido é sobre isso. Me prometa que quando estiver comigo não falará sobre morte, doença e nada referente a sua situação. - Você quer que eu finja que nada está acontecendo? - Quero que deixe de pensar no que está acontecendo. Tente ao menos curtir nossa amizade. - Faz anos que vivo em torno da minha doença. Não me peça para deixar de pensar nela. Por anos ela vem comendo meus sonhos, esperanças e me deixando com medo. - Eu sei! Por isso mesmo estou pedindo que deixe de pensar comigo. Pelo menos tente e aproveite nossos momentos. Fica calada, mas mantém os olhos nos meus. - Posso evitar falar da doença, mas não posso evitar meu humor n***o. Esse já está gravado em mim. - Com o tempo ele some. - Talvez quando estiver em um... Avanço em sua boca e a beijo antes que diga caixão. Não a beijo de verdade. Apenas selo seus lábios aos meus, impedindo que continue. Afasto minha boca e vejo que está de olhos fechados. Sua língua percorre suavemente onde meus lábios tocaram. Seus olhos se abrem e ela sorri. - Cada vez que seu humor n***o aparecer, vou te calar com um beijo. Digo firme para que entenda. - Vai me calar assim? - Sim... Morde o lábio inferior e me olha de um jeito arteiro. - Quantas vezes meu humor n***o precisa aparecer, para que o beijo evolua para algo mais? - Olha só! Tem alguém aqui com pensamentos safados. - Seria você? Pergunta irônica. - Não sou eu quem está saindo beijando os outros. - Para de falar besteiras. - Você sabia que essa situação é completamente fora do normal? Poderia imaginar que era alucinação por causa dos remédios, mas sua boca me mostrou que não é. - Que situação? Eu te beijar? - Você ser um completamente estranho pra mim e estar enfiado a essa hora da noite dentro da minha casa, me beijando e me convencendo a ser feliz. Estreita os olhos pra mim. - Você pode ser um assassino de garotas a beira da morte e... Beijo-a novamente, para não continuar falando sobre morte. Solto sua boca e ela ri. - Mas eu não me importo se for me matar... Faz um bico esperando um beijo e dou, tentando não rir. - Porque já vou morrer mesmo. Dessa vez avanço em sua boca e dou um verdadeiro beijo. Sua boca acolhe perfeitamente a minha e nossas línguas se encontram em um duelo delicioso por espaço. Sua boca é ainda mais gostosa de beijar do que eu imaginava. Suas mãos agarram minha nuca e sou puxado pra cima de seu corpo na cadeira. Priscila intensifica o beijo e geme quando meu braço circula seu corpo, trazendo seu corpo para o meu. Afasta a cabeça muito rápido em busca de ar e percebo que não está bem. - Priscila! Sua respiração é acelerada demais e começo a ficar assustado. Seus olhos estão fechados e suas mãos não soltam meu pescoço. - Priscila, olha pra mim! Abre os olhos e vai se acalmando. - O que está sentindo? - Vai... passar... Encosta a testa em meus lábios e sinto ela fria. - Você precisa deitar. - Não... Me abraça e fica em silêncio. - Só... espera... Fico agarrado ao seu corpo, esperando que ela fique bem. Talvez distraí-la com a conversa i****a ajude. - O que quer comer? Pode pedir que faço. - Nada... de... sopa... - Tem certeza? Acho que vai ser melhor pra você. Me afasta e encosta na cadeira. - Não aguento... mais tomar... isso. Abre um sorriso forçado. - Peguei nojo. - Vou ver o que tem na sua geladeira. Apenas balança a cabeça que tudo bem. - Vai ficar bem aqui? - Sim... Beijos sua testa e me ergo, mantendo meus olhos sobre ela. - Me chama se sentir algo. - Estou sentindo algo. - O que? - Pena de você. Vai ser difícil... Puxa o ar com força. - Me alimentar. Termina a frase e me parte o coração sua fragilidade. Não parece nada com a mulher cheia de vida há duas semanas atrás na varanda do quarto do Elias, naquela festa. Me pergunto se seus dias são assim. Altos e baixos, dias bons e ruins ou se isso é algo que raras vezes ocorre. Decido não perguntar e tentar tirar a conversa sombria sobre sua doença da gente. - Tenho esperança que goste da minha comida. Vou para os armários ver o que tem e passo pela geladeira. Sei que me observa, pois meu corpo sente pequenos arrepios. - Você parece dominar bem a arte de cozinhar. - Sempre cozinhei com minha mãe. Decido fazer algo leve. Um purê simples de batata com salmão na chapa. Pelo menos o purê deve comer. Vou fazê-lo bem suave e básico. - Luana me falou de você algumas vezes, nas poucas vezes que nos falamos. Parece que ela também evita ter contato comigo, para não sofrer com a minha morte. Balanço a faca em sua direção e ela sorri de forma arteira. - Falou morte só para eu ir te beijar? - Talvez! Dá de ombros e solto tudo, indo até ela e lhe roubando um beijo rápido. - Pare de me atrapalhar. Sussurro e volto para a pia. Coloco as batatas na água fervendo e começo a limpar o peixe. Algo me deixa curioso. - Você não tem irmãos? Pergunto olhando pra Priscila. - Não... sou filha única. - Seu pais estão... - Vivos... Completa minha frase. - Eles moram perto? - Não... Termino de limpar o peixe e o tempero. Verifico as batatas e ainda estão duras. Dá tempo de mais perguntas. - Eles sabem da sua doença? Priscila respira fundo e sei que tem algo errado. - Eles sabiam! Fico sem entender sua resposta. - Como assim sabiam? - Meu coração nunca foi perfeito. Durante anos eles sofreram comigo. Fiz três cirurgias e a última faz alguns meses. Para de me olhar e encara suas mãos. - Os médicos me disseram que não poderiam mais me ajudar e que só um transplante me salvaria. Pedi a eles que dissessem o oposto aos meus pais. Pedi para dizer que a cirurgia me curou. Volta a me olhar e vejo lágrimas em seus olhos. - Para os meus pais eu estou curada.
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