Por Bianca
A água quente deslizava pelo meu corpo, levando consigo o peso do dia. Fechei os olhos por um instante, tentando apagar as lembranças do assalto, o medo, a sensação de impotência. Mas, inevitavelmente, outro pensamento tomou seu lugar.
O homem da delegacia.
Não sei por que meu olhar voltou para ele naquela noite. Talvez fosse a forma como ele me encarou, como se me enxergasse de uma maneira diferente. Eu não estava acostumada com isso. A maioria das pessoas me olhava e via apenas meu corpo – julgavam, criticavam, ignoravam. Mas ele… ele parecia curioso.
E isso me incomodava.
Desliguei o chuveiro e me enrolei na toalha, tentando afastar aqueles pensamentos. Não fazia sentido. Eu m*l o conhecia. Ele era um desconhecido com um passado duvidoso, enquanto Pedro…
Pedro.
Ele estava estranho desde que saímos da delegacia. Mais silencioso que o normal, tenso. Algo o incomodava, e eu tinha a sensação de que era mais do que apenas o assalto.
Saí do banheiro e fui até a sala, onde o encontrei na varanda, segurando o celular com força.
— Pedro?
Ele se virou na mesma hora, quase como se tivesse sido pego fazendo algo errado.
— Oi… Tá tudo bem? — ele perguntou, mas sua voz estava carregada de preocupação.
— Eu que pergunto. Você tá estranho.
Ele desviou o olhar, respirando fundo.
— Só preocupado com você.
Cruzei os braços.
— Não é só isso. Eu te conheço. O que tá acontecendo?
Ele abriu a boca para responder, mas antes que pudesse dizer qualquer coisa, um som nos interrompeu.
Uma mensagem no meu celular.
Peguei o aparelho de cima da mesa e desbloqueei a tela.
Número desconhecido:
"Espero que esteja melhor. Se precisar conversar… Me procure."
Minha respiração falhou por um segundo.
— O que foi? — Pedro perguntou, se aproximando.
Rapidamente, bloqueei o celular e forcei um sorriso.
— Nada. Era só propaganda.
Ele franziu a testa, desconfiado, mas não insistiu.
Fui para o quarto e me sentei na cama, ainda segurando o celular.
Marcos.
Como ele conseguiu meu número? E, mais importante… Por que eu não me sentia tão incomodada quanto deveria?