Por Bianca
O sol já estava alto quando entrei na loja, o barulho das ruas de São Paulo me acompanhando enquanto me deslocava entre as prateleiras de roupas. As clientes passavam e olhavam as novidades, e o clima no ambiente estava mais tranquilo do que o habitual. Eu sabia que o dia estava apenas começando, mas algo dentro de mim parecia pesar, como se a tensão no ar fosse mais do que o movimento da cidade lá fora. Algo dentro de mim estava me consumindo, e eu não sabia exatamente como lidar com isso.
Era difícil ignorar o que estava acontecendo entre Pedro e Marcos. Eu não queria admitir, mas as coisas estavam mais complicadas do que eu imaginava. Eu sabia que Pedro estava me olhando de um jeito diferente, e Marcos… Marcos parecia estar tomando conta de todos os meus pensamentos, como uma presença constante. Eu queria dizer que estava no controle, que sabia o que fazer, mas, na verdade, eu estava perdida.
O jeito que Pedro falava sobre nossa relação, o carinho com que ele me tratava, me fazia questionar o quanto eu poderia me entregar a isso. Ele me amava, eu sabia disso, mas o medo de não ser boa o suficiente, o medo de falhar e ver o sofrimento nos olhos dele, me paralisava. Eu tinha a síndrome do ovário policístico, e isso impactava minha vida de formas que nem ele, nem Marcos podiam entender completamente. Era algo que não se via, mas que estava sempre ali, me lembrando de que meu corpo não era o que eu queria que fosse.
Mas então havia Marcos. Eu não sabia como ele tinha entrado na minha vida de forma tão intensa. Quando ele apareceu na delegacia, ele trouxe uma sensação de segurança e de desejo que eu nunca soubera que poderia sentir. A atração era inegável. Mas o que eu realmente sentia por ele? Era confuso. Eu sabia que o que eu sentia por Pedro era mais profundo, mais real, mais seguro. Ele sempre esteve lá, me ajudou a superar tantas coisas, mas Marcos… Marcos trouxe uma paixão avassaladora que me fazia questionar tudo.
“Oi, Bia! Como você está hoje?” a voz de Pedro me tirou de meus pensamentos.
Levantei os olhos e o vi ali, parado na entrada da loja. Ele parecia cansado, com os cabelos um pouco bagunçados, como se tivesse tido um dia difícil. Mas havia algo mais nos olhos dele, uma vulnerabilidade que me fez querer ir até ele e pedir desculpas por qualquer coisa que estivesse criando distância entre nós. Eu sabia que ele me amava, mas e eu? O que eu sentia? Como eu poderia retribuir esse amor sem ser a causa de sua dor?
“Oi, Pedro… estou bem. Só cansada, acho.” Eu tentei sorrir, mas ele podia ver que havia mais por trás das palavras.
Ele se aproximou, sem pressa, como se estivesse tentando decifrar o que eu estava pensando. “Sabe, Bia… Eu sei que você está com a cabeça cheia. E eu também. Às vezes, sinto que não estou fazendo o suficiente para te ajudar a ver o quanto você é incrível do jeito que é. Não sei o que se passa na sua cabeça, mas eu só queria que soubesse… que te amo, de uma maneira que talvez eu não saiba como explicar.”
Ouvi aquelas palavras, e elas me atingiram com força. Eu queria acreditar nelas. Eu queria me entregar a esse amor, mas a dor que eu carregava no peito, a insegurança que me consumia, me impedia de dar esse passo. Eu queria acreditar que ele me amava o suficiente para aceitar as minhas imperfeições, minhas cicatrizes internas e externas, mas como poderia pedir a ele para me amar do jeito que eu me via?
“Pedro, eu… Eu não sei como te dizer isso, mas eu não sou quem você pensa que sou. Meu corpo, minha saúde, meus medos… Eu não sei se sou capaz de ser a mulher que você precisa.” Eu tentei dizer essas palavras com calma, mas minha voz vacilava. Ele me olhou com aquela expressão calma, mas sabia que dentro dele havia uma tempestade.
Ele se aproximou, colocando a mão em meu ombro. “Bia, você é mais do que suficiente. Eu não te amo por causa do seu corpo ou pela forma como você acha que deveria ser. Eu te amo pelo que você é, pela força que você tem, pela mulher incrível que se tornou.”
As palavras dele me atravessaram, mas eu ainda não estava pronta para me entregar totalmente. Não sabia se eu podia. Mas sabia que o que ele sentia por mim era real, e isso, de algum modo, me dava esperança.
Antes que eu pudesse dizer algo, o som da porta se abriu novamente. Era Marcos. Ele entrou com aquele sorriso descontraído, como se não houvesse uma tensão no ar. Eu o olhei e senti uma pontada de desconforto. Eu não sabia como ele se encaixava nisso tudo. Ele olhou para mim e depois para Pedro, como se fosse algo natural.
“Oi, Pedro. Oi, Bia. Tudo bem por aqui?” Marcos perguntou, parecendo mais calmo do que eu me sentia.
Pedro e Marcos se cumprimentaram com um aperto de mão, mas havia uma tensão ali, algo que não estava mais escondido. Eu sabia que eles estavam cientes do que estava acontecendo. Eles só não diziam nada, talvez por respeito, talvez porque soubessem que as palavras que faltavam entre nós três poderiam destruir tudo.
Marcos então me olhou, seus olhos profundos, e falou de maneira suave: “Bia, eu estava pensando em você. Eu quero conversar mais sobre o que temos, se você estiver disposta.”
Eu olhei para Pedro, que estava com os braços cruzados, observando a troca entre nós dois. Ele não disse nada, mas eu sabia que ele estava esperando uma resposta minha. E, naquele momento, eu não sabia o que fazer. Eu estava dividida, entre o amor e a atração, entre o desejo e a segurança.
Eu respirei fundo e, antes que pudesse escolher o que dizer, sabia que minhas escolhas precisavam vir de dentro. O que eu realmente queria? O que eu realmente precisava?
E assim, eu me vi diante de um dilema que ia muito além do que poderia imaginar. Eu precisava tomar uma decisão. E, talvez, o tempo fosse o único capaz de me dar a resposta.