Capítulo 12 – O Peso das Expectativas

773 Words
Por Marcos Fui criado com um roteiro claro na cabeça. E, por mais que tentasse me desvincular dele, as correntes da minha família ainda me prendiam, sem piedade. Minha família era rica, e riqueza, para eles, não era apenas dinheiro. Era uma maneira de viver, de agir, de se comportar. E, mais importante, de se apresentar ao mundo. Para eles, o sucesso era só algo que se conquistava seguindo padrões bem definidos: ser médico, casar com alguém "da classe", não se envolver com o que não fosse aceitável para a sociedade. E, sim, ser absolutamente perfeito. Foi assim que cresceram todos os meus irmãos. Cada um no seu lugar, cumprindo o papel que lhes foi dado. Só eu, aparentemente, não me encaixava. Eu deveria ser médico, como meu pai, meu avô, e todos da família. Mas não era isso que eu queria. Desde muito jovem, me apaixonei por fotografia. A arte de capturar o momento, de transformar sentimentos em imagens. Era isso que eu queria, mas sabia que minha família nunca aceitaria. O que eles queriam era que eu continuasse a tradição, e eu, pelo simples fato de ser quem sou, me tornei a ovelha n***a. Eles sabiam o que eu fazia. Sabiam sobre o meu trabalho, e, mesmo com o dinheiro que ele me dava, me tratavam como se fosse uma vergonha para a família. Eles achavam que eu estava "desperdiçando" minha vida e que, se eu realmente quisesse ser alguém, deveria ser mais do que isso. Mas o que eles não entendiam é que, mesmo que eu fosse bem-sucedido na prostituição, isso não me fazia feliz. Eu não era feliz sendo o que eles queriam. A maior dor de todas? Eles não aceitavam que eu estivesse com alguém fora dos padrões. E, de alguma forma, Bianca era tudo o que eu mais queria e, ao mesmo tempo, tudo o que minha família nunca aceitaria. Ela não se encaixava nas expectativas deles. Bianca era mais jovem do que eu, tinha 21 anos, enquanto eu tinha 24. Para a minha família, ela era "muito nova". Eles diziam que eu precisava de alguém "mais madura", mais "adequada" para meu status. E isso era só o começo. O maior problema seria o peso dela. Bianca não se encaixava nos padrões de beleza da minha família. E, embora eles nunca dissessem isso diretamente, eu sabia o que pensavam. Para eles, o físico era uma moeda de valor. Quanto mais magra, quanto mais próxima do "ideal", mais valiosa a pessoa parecia ser. E Bianca, com seus lindos contornos e curvas, com a força que transparecia mesmo nas suas inseguranças, não cabia nesse mundo. Eu ainda não a apresentei para minha família. Não porque ela fosse menos importante para mim, mas porque eu sabia que seria um choque, que eles a olhariam com desprezo. Não queria que ela passasse por isso. Não queria ser responsável por magoá-la com a visão preconceituosa que minha família tinha do mundo. Naquela noite, peguei o celular e liguei para minha mãe, algo que eu fazia sempre que ela queria saber da minha vida. Mas, dessa vez, algo me queimava por dentro. "Oi, mãe", falei, tentando disfarçar a ansiedade na voz. "Eu conheci alguém. E, bem… estou apaixonado." Houve um silêncio, e eu podia sentir o peso da desaprovação dela, mesmo sem ela dizer uma palavra. "Quem é ela?", minha mãe perguntou com uma calma que eu sabia ser falsa. Eu demorei para responder. Eu sabia que ela esperava algo diferente, alguém mais "adequado" aos padrões da família, mas não sabia como explicar que Bianca era a pessoa que eu amava. "É uma mulher maravilhosa, mãe. Ela… ela é especial." Minha mãe suspirou, e eu podia ouvir o desapontamento dela na linha. "Não me diga que ela não é da sua classe, Marcos. E por favor, não me diga que ela não é do tipo de mulher que queremos ver ao seu lado." Eu me calei. Porque, no fundo, eu sabia que ela estava certa. Bianca não cabia na imagem que minha família queria para mim. "Eu só quero que você seja feliz, filho", minha mãe disse, quase como um último aviso. "Mas, se for uma escolha errada, não espere que nós a aceitemos. Temos expectativas para você." Eu desliguei, e o peso daquela conversa me afundou ainda mais. O que eu faria agora? Eu amava Bianca, mas sabia que minha família nunca a aceitava. Talvez eu tivesse que escolher entre minha família e o que realmente desejava para minha vida. Eu só não sabia como fazer isso sem perder o que eu mais queria. E o que eu mais queria… era ela.
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