No dia seguinte, fui para delegacia quando Howard mandou um SMS dizendo que era para ir imediatamente e urgente lá. Quando cheguei, ele estava me esperando na sala dele e os outros estavam em suas mesas fazendo sabe se lá o que.
- o que houve Howard?
- Jefferson está na sala de interrogatório. - engoli seco. - os caras das narcóticos estavam trabalhando num caso e prenderam ele. Disse que só falaria com você.
- Porque eu?
- Alice, eu sei quem é Jefferson e o que fez com você. Shaw é um grande amigo meu e pediu que eu tomasse conta de você aqui.
- Não preciso de babá. - o encarei.
- Não sou sua babá, mas sei como é passar metade da vida infiltrado e tendo que ser várias personalidades que não fazem parte de quem somos. Sei bem o que é ser torturado e não dormir a noite. Então escuta aqui Alice, gosto de você, é uma ótima detetive, você não está na cia ou no fbi, não precisa bancar a durona aqui. - suspirei e ele abaixou o tom de voz. - Acha que consegue falar com o Jefferson?
- Consigo.
- Ótimo. Porque temos um homicídio e Jefferson é a única testemunha também.
- Certo.
Saímos da sala e minha expressão com certeza não era das melhores. Só piorou quando ouvi Howard chamar Jesse para ir junto ouvir minha conversa com Jefferson.
- Ora, ora. É ela. - forcei um sorriso falso. - Alice Hank. Pensei que os britânicos tivessem matado você.
- Foi o que disseram? - sentei-me na cadeira do outro lado da mesa. Por mais que odiasse admitir, meu coração estava acelerado.
- Não. Não falaram nada sobre você.
- Sem enrolações Jefferson, conte o que eles querem saber.
- Com certeza, vai amar ouvir sobre a agente infiltrada e o que ela fez. - o encarei.
- Nada que possa provar. Jefferson você sabe que só está solto, porque cooperou, que tal cooperar e evitar provavelmente no mínimo uns 30 anos de prisão? Porque se não cooperar, pode ser preso por homicídio e tráfico, fora formação de quadrilha e suborno a autoridades.
- Você sabe conseguir o que quer Alice, acho que quase fiz um estrago com você. - ele sorriu sarcástico. - Tá, eu converso e vou contar tudo que sei a detetive.
Apenas levantei e sai, sentia que meu coração estava na boca do estômago e disparado, levei algum tempo para me acalmar e Howard entrou na sala para conversar com o Jefferson.
- Tá tudo bem? - Jesse tinha o olhar preocupado.
- Sim. - algumas lágrimas começaram a escorrer e Jesse me levou para saída de emergência, quase ninguém ia ou passava por lá.
- Calma, respira.
- d***a. - saiu quase num grito e sequei as lágrimas.
- Você não costuma chorar? - apenas neguei com a cabeça. - Quer contar o que está havendo?
- Jefferson fez parte de um caso meu quando estava na Cia. Quando ele descobriu quem eu era, me espancou até quase a morte, Shaw fez com que ele não contasse quem eu era, ou pegaria perpétua e passou a nos ajudar. Numa troca de carregamento houve uma troca de tiro, não sabíamos de onde vinham e nem quem eram. Uma das minhas balas acertou uma criança inocente. - respirei fundo e meus olhos continuavam marejados. - A CIA fechou o caso, prendeu os caras e escondeu a morte da garotinha. Os pais acham que ela foi sequestrada e que um dia ainda vai voltar. - Jesse me abraçou e parecia que eu ia desabar, mas esse abraço era tudo que eu precisava.
- Tá tudo bem Alice, não foi sua culpa. Como passou por tudo isso? - me afastei respirando fundo e secando as últimas lágrimas que escorreram.
- Jesse me promete que não vai contar para ninguém isso?
- Claro que não. - ele sorriu e eu saí.
Todos estavam envolvidos no caso do homicídio, apenas sentei na mesa e Parker me trouxe uma pasta com um resumo do homicídio e os potenciais suspeitos. Estava tentando me concentrar, mas era difícil, não poder falar sobre tudo.
- Jefferson disse que Rick, nosso cara morto, tinha negócios com os mexicanos. - entrou Howard falando.
- Existem muitos grupos mexicanos em Nova Jersey. - disparei tentando entender.
- Exato, mas… Jefferson apontou esse cara. - entregou a foto de um homem mexicano branco e com cabelos negros. - Henrique Englis. Ele comandou um dos maiores grupos aqui em Nova Jersey, possivelmente envolvidos em muitos outros crimes como, assaltos ao banco, roubo de carro e homicídio.
- Pedimos uma busca ao Juiz? - Jessica se manifestou já com a papelada em mãos.
- Claro, enquanto isso vamos verificar possíveis endereços de Englis.
Todos começaram a se mexer rapidamente, só que ao analisar os papéis e o depoimento que Jefferson deu, havia controvérsias. Jefferson disse que estava numa lanchonete, que abria só por volta das sete da manhã e o assassinato tinha ocorrido uma hora antes. Fechei a pasta e saí em direção a sala de interrogatórios, todos apenas olharam e voltaram a fazer o que estavam fazendo. Entrei na sala e o Jefferson ainda estava lá com uma expressão séria.
- Ela voltou. Sentiu saudades? - joguei a pasta na mesa e me sentei.
- Claro. - forcei um sorriso. - Vamos falar sobre esse seu depoimento, disse que estava numa lanchonete às sete certo? - ele confirmou. - Só que Jefferson, o homicídio aconteceu às seis. O que está escondendo?
- Nada. Devo ter me confundido com os horários.
- Não mesmo Jefferson. Eu te conheço, sei como age. - soltei as algemas.
- O que está fazendo? - me encarou e eu acertei seu rosto com um soco.
- Vamos Jefferson, a última chance. - abri os braços.
Jefferson adorava uma briga, mas ele não sabia que eu havia treinado muito mais do que quando me conhecia, ao tentar me acertar o empurrei pelo abdômen com o pé o jogando na parede. Ele acertou uma joelhada perto da costela, dobrei o braço e acertei uma cotovelada com encaixe perfeito em seu rosto, começou a sangrar e ele pôs a mão. Conseguiu me empurrar e acertou um soco no meu rosto que com certeza iria deixar marca, acertei um chute no meio do seu corpo e em seguida um soco.
- Tá bem, tá bem. - o algemei a mesa novamente. - Foi meu filho, Janks.
- Você não entregaria o próprio filho. - sorri falsa.
- Janks é meu filho, mas não somos nem um pouco próximos. Ele foi um caso de uma noite apenas, pensei apenas em tentar protegê-lo uma vez na vida.
- Você tem certeza?
- Sim. A a**a utilizada está na lixeira da 37 com a 39, eu o vi jogando lá.
- Preciso do endereço também.
Jefferson assinou depoimento passando a localização da a**a e endereço de Janks, relatou que tudo havia acontecido. Peguei e subi para ir ao escritório do Haward.
- O que houve? - todos levantaram quando viram meu rosto machucado.
- Cancela o pedido, Jefferson confessou que mentiu e quem realmente matou. Já pedi para os policiais irem verificar se a a**a está no local que informou.
- O que você fez Alice? Quer saber, nem quero saber. Vá pra casa Alice, hoje era sua folga, então aproveita o resto do dia.
Sai pegando meu casaco e não era meio dia, mas resolvi ir ao bar longe da delegacia. Era bacana e o lugar era aconchegante, me sentei no balcão e pedi uma bebida. Acabei almoçando lá mesmo e continuei bebendo, estava jogando pequenas flechas no centro vermelho da parede, tinha umas pessoas jogando junto e pela primeira vez em muito tempo eu estava sorrindo e não pensando em mais nada.
Sentei novamente no balcão e coloquei gelo no meu rosto onde tomei um soco, estava um pouco dolorido, mas suportável.
- Acho que nunca te vi tão alegre. - olhei e Jesse estava sentado ao meu lado com um copo de whisk.
- Desde quando tá aqui? - bebi um shot de tequila.
- Tempo suficiente para ver você conversando e rindo com estranhos. - ele sorriu. - Está bem?
- Sim. - comecei a rir e ele riu.
- Acho melhor ir para casa.
- Você sabia que sempre teve olhos bonitos? - ele sorriu. - É uma d***a não podermos ficar juntos. - ele me encarou e eu tirei o gelo do rosto e peguei meu casaco.
- Eu te levo.
Jesse acabou me levando para casa, o carro dele estava no concerto, então foi dirigindo o meu. Eu queria tanto poder, conseguir falar tudo que sentia e o que estava passando para ele, mas era mais difícil do que imaginava. Ele apenas me deixou em casa e chamou um táxi para ir embora. Eu subi e m*l sai do banho, tinha adormecido na cama.