Acordei no dia seguinte com o sol no meu rosto, tinha deixado as cortinas abertas na noite passada. Olhei e o relógio marcavam quase seis da manhã, levantei tomando já um banho para acordar, me vesti casualmente e fui à delegacia cedo, subi até o quinto andar e tudo que eu pedi estava lá, as mesas eram maiores, prateleiras suficientes, lousas para que pudéssemos anotar sobre os casos e um espaço para nosso técnico, sorri com satisfação.
Deixei a caixa com minhas coisas em cima da mesa que seria minha e desci até o escritório do Hawk, ele parecia estressado e bastante concentrado numa papelada que estava sob sua mesa. Dei dois toques na porta, ele me olhou e assentiu para que eu entrasse.
- Bom dia senhorita Hank. - disse com uma voz suave que poderia assustar tamanha condolência vindo dele.
- Bom dia Hawk. Só queria lhe agradecer e dizer que espero muito que nos demos bem aqui.
- Alice Hank - falou calmo. - Só está aqui porque atendi ordens que estão bem acima de mim, mas ainda assim, espero que não passe por cima de mim e de minhas regras.
- Sim senhor - falei séria.
- Acho que podemos recomeçar daqui e não faça meu trabalho mais difícil.
- Certo, senhor. Tenha um bom dia. - sorri e ele também.
- Tenha um bom primeiro dia, uma dica, conheço cada um dos detetives e, se confiar neles, irão confiar em você.
Apenas assenti e sai da sua sala, subi para o quinto andar e abri as percianas das janelas, coloquei a lousa num lugar mais adequado para nós utilizarmos.
- Chegou cedo - me virei, a mulher loura estava com uma caixa nas mãos.
- Queria ver se estava tudo certo - forcei um sorriso e ela passou os olhos por todo o espaço.
- Aqui é legal, qual mesa é a minha? - eu a encarei.
- Pode escolher qualquer uma, vocês escolhem. Esse será nosso novo local de trabalho.
- Aliás, meu nome é… - a interrompi.
- Jessica Fitz, formada com honra na academia de polícia. Foi uma ótima policial pelo pouco período que ficou, e se tornou detetive em menos de cinco anos. - ela sorriu.
- Claro que sabe quem sou.
- Eu vou para meu lugar organizar minhas coisas. Avise os outros para escolher suas mesas.
Minha mesa ficava no canto perto da janela. Não havia nada demais e nem ficava numa sala separada dos demais, comecei a analisar fichas de algumas pessoas com potencial para entrar para equipe e que tinham a ficha limpa, peguei de todos os policias que trabalhavam na delegacia e tinham se inscrito. Os outros chegaram e não me cumprimentaram, pois viram que estava ocupada.
*Ligação On*
“ Alô, detetive Hank?”
“Sim, pode falar”
“Temos um corpo. Na principal com a 37.”
“Estamos indo”
*Ligação Off*
Desliguei o telefone já puxando o casaco pendurado no encosto da cadeira. Eles me olharam rapidamente e se levantaram. Sabia que Jessica e Jesse eram parceiros, me sobrou Parker e confiava nele por alguma razão.
- Pessoal vamos. Principal com a 37. Parker quero você comigo. - o moreno me acompanhou enquanto os outros dois nos seguiam.
Descemos até o estacionamento e entramos nos carros. No caminho para o local, percebi que Parker parecia desconfortável e com uma v*****e insaciável de fazer uma pergunta. Eu me incomodava com muitas perguntas que me faziam, porque a maioria não podia responder e a outra metade, não tinha como responder, não tinha as respostas que queriam ouvir.
- Pergunte logo Lee. - ele me encarou.
- Porque me chamou para vir com você? E me chame de Parker só.
- Percebi que Jessica e Jesse estão juntos. Não queria que ficasse constrangedor.
- Como sabia? Ninguém sabe. - me encarou.
- Eu percebo muitas coisas Parker. Vocês costumam expressar muito mais do que falam - sorri e ele me encarou incrédulo - não quero ocupar o lugar do Russel, ele era referência de quem eu queria me tornar. Prender ele foi uma das piores coisas que já tive que fazer na minha carreira.
- Eu sei quem ele era, você não quis falar, mas eu vi a ficha dele e pelo que foi acusado. Caso era sólido e tinha provas - balancei a cabeça apenas. - Porque permitiu Jessica e Jesse continuarem?
- Porque não está atrapalhando nenhum caso, quando atrapalhar, não irei permitir.
- Você é legal, devia pegar leve com pessoal.
- Eu pego leve, eu sei que não gostam de mim.
- Eu gosto de você - ri. - eles só não conhecem você e, não começou de uma forma boa. A quanto tempo é detetive?
- A mais tempo do que me lembro.
Chegamos no local, tinha muitas viaturas da polícia, pessoas curiosas atrás da faixa amarela utilizada para isolar o local e preservar possíveis pistas e provas. O lugar fedia a esgoto, o sangue estava mais escuro do que o normal, a bala foi diretamente na cabeça, indicava ter sido por um atirador muito bom.
Não tinham encontrado nenhuma cápsula próxima ao corpo, o que fazia pensar que o tiro poderia ter sido mais distante, podendo ser em uma distância de mais de 500 metros. Teríamos que esperar a perícia para sabermos a hora e a distância exata.
- Temos duas testemunhas que possivelmente viram o atirador. - disse Jesse parando ao meu lado. Estava agachada ao lado da vítima.
- Ótimo, levem para delegacia e interroguem. - respondi sem olhar para ele. - Quero a autópsia mais rápido possível e Parker, precisamos descobrir se ele tem família. - Parker apenas assentiu e saiu.
Voltei para delegacia, contatei a balística e a perícia para pedir que enviassem os resultado assim que possível. Os testemunhos que Jesse e Jessica pegaram não diziam muita coisa.
- Com licença, detetive Hank - olhei e Jesse estava acompanhado de Matthew e Kyera. - Disseram que pediu para eles virem aqui.
- Sim, claro. Sentem - sorri. Os dois sentaram a minha frente. - Se inscreveram para inteligência, certo?
- Sim senhora - responderam.
- Bom, eu estudei a ficha e o desempenho de vocês na academia. Quero vocês dois, mas saibam que não é a mesma coisa que faziam antes e não devem questionar os meus métodos - eles assentiram. - Se troquem e falem com a detetive Fitz, estamos em meio ao um caso.
- Sim senhora, obrigado - respondeu Matthew. Os dois ainda vestiam a farda de policial.
Eles saíram, recebi e-mail da perícia e da balística, estava claro que a morte tinha sido encomendada, o atirador era profissional e o calibre da a**a, era armamento militar.
- Stockler! - o chamei anda entrando o computador.
- Oi? - perguntou se aproximando da minha mesa e gesticulei para que olhasse o computador.
Foi a primeira vez que ficamos tão próximos, pude sentir seu perfume amadeirado, sua respiração era tranquila e suave. Por alguma razão meu coração começou a acelerar, minhas mãos soavam frio e eu senti um calor.
- isso é de uma a**a militar - falou virando o rosto para mim e estávamos próximos demais. Levantei rapidamente.
- Sim, está aqui a bastante tempo? - ele assentiu. - Sabe se existe, mínima que seja, a possibilidade de uma g****e estar contrabandeando armamento militar, ou que tenha um militar ou sei lá.
- Não, mas isso aqui é um profissional detetive, um tiro no lugar certo, foi para m***r. Não é coisa de g****e - disse firme e eu assenti.
- Eu sei - respondi pensativa e ele me olhou indiferente.
- No que está pensando?
- Foi acerto de contas isso Stockler!
- Vou revirar a vida dos pais da nossa vítima.
- Faz isso - falei assentindo e ele saiu.
Suspirei aliviada e voltei a me sentar, estava ficando inquieta, esperar tanto não era meu forte, mas precisava aprender a ter paciência e resolver os casos junto com a equipe. Jessica juntou a lousa informações sobre a família do garoto, eram parte de uma g****e do lado sul de jersey, local dominado e mesmo que encontrassemos o atirador, seria arriscado ir lá e prender somente um.
- Tem certeza? - perguntou Parker.
- É o nosso trabalho, independente do que os pais do garoto são, ele não tem culpa. - falei séria e todos continuavam me olhando.
- Se irmos lá, sabe que será um m******e. - disse Parker.
- Não, iremos civilizadamente. Conversaremos primeiro. - falei firme pegando minhas coisas.
- Tem certeza? - perguntou Jessica. Matthew, Jesse e Kyera observavam em silêncio.
- Achei que estivessem aqui para proteger aqueles que não podem proteger a si mesmos. - falei e todos me encararam.
Desci até o estacionamento sendo seguida por todos, pedi apoio do patrulhamento, estava entrando no carro quando Jessica me entregou uma pasta. Mandei Parker dirigir, enquanto abria a pasta, já tínhamos o nome do possível atirador Garett Herrera.
Chegamos ao lado sul de Jersey, era um bairro difícil de adentrar, as pessoas nas ruas nos olhavam f**o e não tinham um fio de medo do que poderíamos fazer. Me lembrou de uma incursão que fiz para o FBI no México uns anos atrás.
- O que querem? - perguntou um homem alto, loura e forte, tinha uma a**a pendurada no ombro. Descemos do carro.
- Procuramos por Garett Herrera. - falei firme e ele sorriu.
- E acha que diremos onde ele está? Quem é você, nunca vi você aqui antes. - outros homens surgiram atrás dele e tinha mais pessoas do que conseguia contar.
- Sou a comandante Alice Hank. - meu pessoal me olhou de esguelha e eu apenas ignorei. - Substituindo o Sargento Russel da Inteligência.
- Comandante é? - ele sorriu se aproximando. Levantou a mão, antes que tivesse reação o imobilizei no chão e todos apontaram as armas um para os outros.
- Não sou sua inimiga e nem pretendo ser. Casey Gonzalez foi assassinado hoje com um tiro na cabeça, uma morte encomendada. Ele só tinha cinco anos. - sussurrei com nojo e desdém em seus ouvido. Ele me olhou sério e parou de fazer força, o soltei.
- Abaixem as armas - disse para sua g****e e eu gesticulei para que meu pessoal também baixassem as suas. - Não matamos crianças. - disse firme me olhando nos olhos.
- Então vai me ajudar?
- Julian e Ethan tragam o Herrera. - disse para dois homens atrás dele e os dois saíram. - Não sabíamos o que ele tinha feito, mas ele apareceu hoje de manhã muito assustado. - falou baixo e eu assenti.
- Desculpe, qual o seu nome? - perguntei e ele riu.
- Você realmente não é daqui. Sou Henry, só entregarei Herrera porque pareceu ser verdadeira, mas não quer dizer que ajudarei sempre de boa v*****e.
- Não se preocupe, a próxima vez que precisar de você. Será compensado. - falei tranquila e ele assentiu.
- Não deixe que me levem. - gritou Herrera para Henry. - Por favor, vão me m***r.
- Cala a boca. - disse Parker o algemando. - Está preso pela morte de Casey Gonzalez… - sua voz sumiu com a distância que houve até levá-lo para o carro dos policiais.
- Até breve Henry.
- Comandante.
Entrei no carro e Parker dava risadas sozinhos, apenas sorri e fizemos um toque com as mãos. Chegamos no prédio da delegacia, subi rápido para fazer a papelada e os outros subiram em seguida.
- Foi loucura - disse Kyera animada enquanto sorriu para Matthew e Jessica.
- Loucura até demais - disse Jessica com a voz indiferente.
- Para, nunca conseguimos chegar tão perto de Henry. - resmungou Parker.
- Eu respeito suas decisões por sua patente ser superior a minha, mas não quer dizer que concorde com elas. Você tem noção do que acabou de fazer? - perguntou Jesse sentando em uma cadeira ao lado da minha mesa.
- Tenho Stockler, ganhei o respeito de um gângster importante.
- Importante? Ele só é o maior traficante de Nova Jersey e é tão intocável que nunca conseguiram prender ele. - disse com a voz grossa, mas ainda baixo para que os outros não ouvisse.
- Os fins justificam os meios. Um ex militar deveria saber disso. - falei séria e ele sorriu debochado.
- Nunca me aliei a inimigos ou errei meu alvo. - falou sério.
- Stockler vai para casa e esfria sua cabeça. - disse firme me levantando e com minha papelada.
Deixei na gaveta na pasta das provas que juntamos no caso do menino. Stockler fez o mesmo e saiu quase correndo.
Entendia os motivos dele para não confiar em mim, era um m*l de militar e passei por isso quando sai do exército. Foram tantos disfarces e uma vida solitária que eu realmente parei de me importar com os meios, contato que eu conseguisse o que queria.