Eu estava muito triste com toda essa situação, não queria que meus pais se separassem, eu gostava muito de morar com os dois e estava feliz do jeito que estavam as coisas. Richie também não estava gostando nada disso, sua professora passou a entender as atitudes dele e lhe dar mais atenção, a minha também, mas eu não queria atenção, só queria meus pais juntos, será que era pedir muito? Eu via todos meus colegas felizes com seus pais juntos, por que a minha família não podia ser assim também? Não era justo, eles se amavam tanto e eram tão felizes, não entendia o porquê de quererem se separar assim do nada?
- Com quem será que a gente vai morar? - Perguntei ao meu irmão.
- Não sei, acho que com a mamãe. Na minha turma tem algumas crianças que os pais são separados, e todos moram com a mãe.
Coloquei a cabeça no ombro do meu irmão e ficamos em silêncio, um entendia bem o que o outro estava sentindo.
Alguns dias se passaram, papai havia saído de casa, estava morando em um hotel, mas era provisório, ah, víamos ele todos os dias, pois ele nos buscava na escola, passeava com a gente e depois nos deixava na nossa casa com a mamãe, mas não era a mesma coisa, queria que ele voltasse a viver com a gente como antigamente, queríamos que fosse uma família como antes.
E de repente papai chegou lá em casa, um domingo à tarde, mandou meu irmão e eu para o quarto e ele e mamãe ficaram conversando um tempão na sala. Richie e eu só queríamos saber o que estava acontecendo, sobre o que eles estavam falando, não conseguíamos escutar nada por mais que a gente tentasse, talvez estivessem conversando baixo de propósito pra gente não poder escutar.
- O que está havendo? - Perguntei.
- Também queria saber. - Falou meu irmão bastante assustado.
Umas duas horas depois, os dois entraram no nosso quarto, se sentaram de frente pra gente, e logo mamãe falou:
- Como vocês já sabem, a mamãe e o papai vão morar em casas diferentes…
- Por quê? - Perguntei.
- Porque nós temos brigado, e quando a gente briga, nós ficamos muito tristes. Vocês querem ver a gente tristes?
Meu irmão e eu acenamos a cabeça num gesto negativo, e logo ela continuou:
- Por isso a gente decidiu se separar.
Mamãe começou chorar, detestava vê-la chorando, me dava vontade de chorar também, acabei derrubando uma lágrima. Richie pegou em minha mão e nos olhamos sem dizer nada, um entendia a dor do outro.
- Nós andamos conversando muito e chegamos a uma decisão. A gente não conseguia chegar num consenso sobre com quem vocês ficariam, e depois de muito pensar decidimos que você querida vai ficar comigo. - Falou papai se dirigindo para mim. - Eu comprei uma casa bem legal, tem um lindo pátio, você vai adorar.
- E eu? - Perguntou Richie.
- Você vai ficar morando comigo, meu amor. - Falou mamãe para meu irmão.
- Não, eu não quero me separar do meu irmão. - Falei começando a chorar.
- E eu quero ficar junto da Soso. - Disse Richie ao me abraçar.
- Queridos, assim vai ser bom pra todos. - Falou mamãe.
- Só se esse ´´todos´´, for vocês. - Retruquei.
- E você vai ter um quarto só seu, querida. - Me disse papai.
- Mas eu gosto de dividir o quarto com meu irmão.
Tentamos argumentar que não queríamos nos separar, mas meus pais não quiseram nem saber, falaram que estava tudo decidido e como palavra de criança não tem poder… A gente não queria, mas não tínhamos escolha, éramos pequenos, não podíamos fazer absolutamente nada, por que ninguém ouve as crianças?
Era minha última noite com mamãe e meu irmão, tentei aproveitar os dois ao máximo, dormimos os três juntos naquela noite, por diversas vezes eu a vi chorar, embora ela tentasse disfarçar, e eu tentava consolá-la, mas parecia que não adiantava, ela estava tão triste, só que a tristeza dela não a deixava ver que nós também estávamos muito tristes com tudo o que estava acontecendo.
No dia seguinte, papai chegou para me buscar, mamãe e o mano me ajudaram a fazer minha mala, levaria minhas roupas e meus brinquedos. Arrumei tudo aos prantos, estava doendo muito, como queria que nada disso estivesse acontecendo.
- Nós vamos continuar nos vendo, né? - Perguntei para meu irmão.
- Vamos sim. - Falou Richie. - Mas saiba que se isso não acontecer, eu vou te encontrar nem que seja a última coisa que eu faça na vida.
Nos abraçamos fortemente, e então mamãe entrou em nosso quarto para avisar que papai já havia chegado.
- Eu não quero ir. - Falei começando a chorar. - Quero ficar com vocês.
- Amor, vai ficar tudo bem, eu prometo. - Falou mamãe se pondo a me abraçar.
A abracei, peguei a Nina, minha boneca preferida e fui até a sala onde estava papai.
- Ela precisa mesmo ir? - Perguntou Richie para mamãe.
Mamãe não respondeu, apenas o abraçou. Meu pai pediu pra eu me despedir deles, mas eu não queria, não gostava de despedidas.
Olhei para os dois com lágrimas nos olhos e os abracei. Era um tremendo chororô, papai foi o único que não chorou porque ele sempre tentou ser forte, nunca gostou muito de demonstrar sentimentos de fraqueza, mas eu sabia que no fundo ele estava tão arrasado como a gente.
- Eu te amo muito, meu amor. - Falou mamãe.
- Eu também te amo. - Falei cabisbaixa.
Meu irmão e eu ficamos frente a frente e nos abraçamos fortemente, como costumávamos fazer cada vez que um sentia medo.
Papai também se despediu de Richie com um forte abraço e um beijo. Peguei na mão dele e saímos.
E m*l sabia eu que a partir daquele dia minha vida mudaria pra sempre.