Havíamos chegado em minha nova casa, ela era meio grande, mas não tanto quanto a anterior. Era bonita, de dois pisos e tinha uma linda sacada no meu quarto e era bem espaçoso, agora apenas com uma cama, sentiria falta de dormir junto do meu irmão e poder fazer farra com ele, mas pelo menos eu ainda o veria na escola, era o que me confortava um pouco. Porém, doía saber que eu não o teria mais para me proteger nos dias de tempestade ou pra fazer bagunça comigo, é, parece que eu havia perdido o meu melhor amigo. Acho que eu ia pedir pro papai me colocar no turno integral na escola, e o Richie podia pedir também, assim ficaríamos o dia todo juntos, seria muito legal.
- Eu vou o quê? - Perguntei a papai assim que ele me deu aquela triste notícia.
- Querida, aqui é muito longe da sua escola, não terei como te levar ou buscar e uma van escolar sai muito caro, eu até tentei ver isso, mas fugiria do meu orçamento. Sinto muito.
- Mas eu não quero mudar de escola. - Falei. - Tenho meus amigos, a prof que é legal e seria o único lugar que eu poderia ver o meu irmão.
- Eu sei, meu amor, mas tenta entender o lado do papai também.
- Não é justo, primeiro você e a mamãe se separaram, depois eu mudo de casa e agora isso...
- Desculpa, meu bem, eu não queria que as coisas fossem assim.
- Tá bem, papai. - Falei cabisbaixa.
Fui para meu quarto, deitei em minha cama e abracei a Nina, minutos depois acabei pegando no sono. Sonhei com mamãe e com meu irmão, como sentia falta deles, queria que nada disso tivesse acontecido.
Alguns dias se passaram, e eu estava cada dia mais triste, papai só dizia que o celular de minha mãe dava desligado e eu queria tanto saber notícias deles, pedia e pedia para ele me levar até minha antiga casa para ver os dois, porém ele só inventava desculpas, dizia que um dia iríamos mas esse dia nunca chegava, estava começando a pensar que nunca mais os veria e isso doía, doía muito, pois não imaginava a minha vida sem eles.
Comecei a estudar em uma nova escola, a professora era bem legal e paciente, fiz bastante amigos e quando estava com eles não me sentia tão triste, mesmo que eu ainda morresse de saudade da mamãe e do meu irmãozinho, que era o meu melhor amigo.
Havia chegado o dia das mães, a minha turma havia ensaiado uma linda coreografia para comemorar a data na escola, eu ensaiei também mas não queria apresentar, afinal, já não via minha mãe há semanas, para mim aquilo seria apenas uma festinha qualquer sem importância. E no dia quem estava lá era papai, o único pai no meio de dezenas de mães, afinal, acho que agora ele seria um pouco minha mãe também, mas com certeza não era a mesma coisa, sentia tanta falta da minha mãezinha, e doía ver meus colegas tão felizes com suas mães, e eu sem saber da minha, acho que nenhuma criança deveria passar por isso.
De manhã eu ia pro serviço do papai, ele era ator e diretor de TV e cinema, e estava começando a dirigir um novo filme, adorava poder acompanhar os ensaios e as gravações, papai queria que eu participasse do filme, mas eu tinha vergonha, era meio tímida para essas coisas. À tarde eu ia pra aula e quando ela acabava, meu pai me buscava e íamos pra casa, essa começou a ser minha rotina diária. Ah, nos finais de semana, ele não trabalhava e ficava o dia todo comigo, e sempre me levava pra passear, era legal, eu me divertia bastante, porém, sempre pensava que seria mais divertido se Richie estivesse comigo. Acho que papai se sentia um pouco culpado por eu estar tão lindo longe da mamãe e do meu irmão, e por isso, tentava se redimir me levando para passear.
Meu pai foi o melhor pai e mãe que alguém pode ter, me deu amor, carinho e atenção, brincava comigo de tudo o que eu quisesse, não me deixava faltar nada e se eu ficasse doente ele que me cuidava, uma vez fui para o hospital com febre muito alta, fiquei uns dois dias internada e nesse período ele se ausentou do serviço e não saiu do meu lado até eu receber alta, nunca vou me esquecer de tudo o que ele fez por mim.
Aos 11 anos fui ter um papo cabeça com meu pai.
- Pai, o que é s**o? - Perguntei enquanto ele dava um gole em seu café.
Papai ao ouvir aquilo cuspiu todo o café na hora.
- O que é s**o?
- Sim, foi o que eu perguntei. - Falei aguardando pela resposta.
Meu pai ficou tão nervoso, até foi engraçado, ele não sabia nem o que dizer, acho que não esperava por aquela pergunta, porém, ele sentou comigo e naquele dia ele me ensinou tudo sobre s**o.
- É assim que a mulher fica grávida? - Perguntei com repulsa. - Acho que eu nunca vou ter filhos. Isso é tão nojento.
- Por favor, continue pensando assim até seus 35 anos. - Suplicou papai.
Os anos se passaram, nunca mais vi minha mãe e nem meu irmão, nem imaginava como eles podiam estar atualmente. Ainda sentia muita saudade de ambos, sonhava todos os dias em reencontrá-los, mas o amor de meu pai diminuía essa dor.
Eu já estava com 17 anos, muitas coisas haviam mudado. Eu estava no último ano do ensino médio, tinha diversos amigos, mas os meus melhores amigos eram a Mikaelly, que eu chamava de Mika, o Ethan e a Gabriele, não me desgrudava deles, estávamos sempre juntos. Ethan era como um irmão pra mim, o irmão que eu não vi crescer, que eu nem sabia se ainda estava vivo ou onde estava.
Eu nunca tinha tido um namorado, papai surtava cada vez que eu falava de algum rapaz, nem sei como seria a reação dele se eu começasse a namorar, acho que ele tinha medo disso e consequentemente eu ainda era virgem, mas não me preocupava com essas coisas, acreditava que tudo tinha uma hora certa para acontecer, também nunca tinha beijado ninguém, acho que eu não era o tipo de garota que os caras queriam beijar.
Eu sempre fui uma adolescente tranquila, nunca dei trabalho para meu pai, tirava notas boas na escola, nunca ficava abaixo da média, e ele vivia dizendo como tinha orgulho de mim e era isso que eu queria, dar cada vez mais orgulho para meu pai porque ele conseguiu me criar da melhor maneira possível, sempre foi presente em minha vida e eu era muito grata a ele e fazia tudo para vê-lo feliz e orgulhoso de mim.
Aos 17 anos eu passei a crer que talvez mamãe que tivesse se afastado da gente, que não quisesse mais contato conosco e nem que tivéssemos contato com o mano, só não entendia o porquê disso tudo, ela falava tanto que me amava, mas que amor é esse?
Eu não pensava muito em ter filhos, mas eu queria ter algum dia, e de uma coisa eu tinha plena certeza, o dia que eu tivesse eles, jamais faria o que mamãe fez e cuidaria de todos com muito amor e carinho para sempre.
Ethan e eu estávamos deitados no gramado de minha casa olhando para as estrelas, que brilhavam no céu.
- Já sabe o que vai fazer na faculdade? - Ele me perguntou.
- Ainda não, estou em dúvida. Meu pai quer que eu faça Artes Cênicas pra eu seguir a carreira dele, eu acho bem legal a ideia, talvez eu faça, mas eu também penso em fazer moda ou Letras, amo Português.
- Então faz tudo. - Ele disse.
- Ah, claro, vai ser moleza pagar 3 faculdades, ficar uns 12 anos estudando, barbada... - Falei de forma irônica.
- Vou sentir sua falta. - Ele disse sem tirar os olhos de mim.
- Como assim?
- De te ver todos os dias na escola. - Completou.
- Ethan, você é meu melhor amigo e mesmo que eu vá pra outro país, a nossa amizade nunca mudará. - Falei ao olhar fixamente para o garoto.
- Nem brinca com isso. - Falou. - Se você fosse pra outro país, eu iria atrás de você.
Sorri meio encabulada e voltei a olhar para as estrelas que brilhavam imensamente naquele céu azulado.
Papai não estava em casa, havia ido viajar a trabalho para gravar umas cenas de seu filme em outra cidade, ele ficaria alguns dias fora, mas ligava seguido para saber como eu estava, se preocupava muito comigo, se eu estava bem e se estava me alimentando direito.
Ethan e eu acampamos no quintal de minha casa, montamos uma barraca e dormimos lá, podíamos ter dormido em casa, mas acampar era mais legal e divertido. Acho que éramos amigos desde que eu havia me mudado pra essa casa, foi o primeiro amigo que eu fiz e éramos colegas desde o segundo ano do ensino fundamental.
Ethan estava sentado bebendo um pouco de refrigerante quando eu decidi colocar meu pijama para dormir.
- Vou trocar de roupa, não me olha. - Pedi.
- Ok. - Falou se pondo a virar para a parede.
Lhe avisei assim que eu terminei e me deitei para dormir, mas ainda não estava com sono. Ethan terminou seu refrigerante e se pôs a tirar sua camisa, ele tinha o peitoral malhado, pois fazia academia a anos, estávamos conversando e rindo quando ele tirou sua bermuda para minha surpresa, virei o rosto meio envergonhada. Sabia que ele tinha o costume de dormir apenas de cueca, já tinha visto ele assim inúmeras vezes, para mim não era novidade, mas mesmo assim ainda ficava encabulada.
Estávamos deitados, um de frente para o outro, ficou um silêncio no ar, comecei a ouvir as batidas do meu coração, nunca tinha ficado daquele jeito, não sabia o que fazer, eis que resolvi sair daquela situação.
- Boa noite. - Digo me virando para o lado oposto.
- Sophie. - Me chama Ethan.
- Sim?
- Boa noite.