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Blurb

O demônio dos desejos caminha solto pela terra. Sua influência sob as almas humanas nunca foi maior e depois de tantos séculos naquele mundo, ele sabe do bom, do pior, do pior ainda, e adora a faceta nojenta que se esgueira pelas faces sorridentes espalhadas por ai.

Então, vislumbrando a noite, sentado em um dos vergalhões que construía a ponte do Brooklyn, seu caminho foi cruzado por um desejo ardente de recomeçar.

Helina Groover era a dona do desejo, mas ela já estava à meio milésimo de atingir o espelho de água quando o fez. Àquela altura, o gélido rio se tornava um chão sólido de concreto que estilhaçou cada um de seus ossos e transformou todo o anseio em escuridão completa e total.

Dentro do silêncio daquela estranha quarta-feira, Noradath tirou o cadáver da água.

Frio, botou os olhos sob a figura lôbrega, pensando que talvez não fosse má ideia usá-la um pouco.

Talvez não fosse uma péssima ideia usá-la um pouco.

Mas ele não conhecia Helina Groover.

Nem nenhum de seus motivos.

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PRÓLOGO
― Prólogo.  Era quase meia-noite de uma quarta-feira quando resolveu largar o carro no acostamento de emergência da ponte. Deixou a chave na ignição e só depois de ter se afastado pelo menos dez metros é que notou que tinha trazido a bolsa consigo. O nariz fungava e os olhos estavam inchados. Tinha chorado a tarde inteira, dirigindo sem rumo pela cidade que tanto odiava, mas que conhecia como a palma da mão. Helina abraçou a si mesma em uma tentativa inútil de espantar o frio que lhe assolava, e ela tinha a impressão de que nem no pior calor o faria ir embora. Tinha a nítida sensação de que aquilo era algo vindo de dentro, rastejando para fora como uma minhoca saindo da terra. As mãos trêmulas acenderam o cigarro. Uma chuva fina se iniciava dificultando o processo e ela precisou cobrir a chama com uma das mãos para conseguir finalmente tragar a fumaça que trazia uma estranha sensação degradante ao seu já degradante estado, uma espécie de recompensa tragada entre um soluço e outro, no meio da ponte do Brooklyn numa quarta-feira amaldiçoada.             Helina fechou os olhos, tentando acalmar a vontade de chorar que transbordava pelos olhos sem qualquer controle enquanto o ar que entrava nos pulmões lembrava algum veneno corrosivo que queimava cada centímetro de sua carne.             A lágrima que escorreu pelo rosto até o queixo pingou no alumínio conforme se apoiava no corrimão gélido. Colocou o cigarro entre os lábios e o tragou novamente, dessa vez tão forte que a brasa se desprendeu e morreu em pleno ar, sumindo antes mesmo de chegar ao asfalto da ponte.             Não havia carro algum a não ser o próprio, numa distância segura o bastante de algum arrependimento. Era bem sucedida, poliglota, advogada, e atualmente uma empresária de mão cheia, com vinte e seis anos de pura garra. Mas quando olhou para os faróis ao longe, foi um choque de realidade. O choro irrompeu pela garganta e o cigarro quase caiu no chão enquanto tudo que passava por ali era o vento gélido fazendo seus poros se arrepiarem. As lágrimas escorriam livremente pelo rosto feminino quando tragou mais uma vez. Os dentes batiam e o coração doía, não era qualquer dor. As entranhas reviraram conforme a cinza do cigarro voava longe e a fumaça saía pela boca devagar. Com a bolsa delicadamente posta no ombro, o terno perfeitamente engomado, as meias intactas e os sapatos engraxados. Os cabelos presos num coque apertado o bastante para fazer sua cabeça inteira latejar. Os olhos castanhos se fecharam.             Vinte e seis anos e sentia-se como uma fruta podre, caída no chão esperando ser devorada por pássaros e larvas. Esperando que seu estado de putrefação lhe reduzisse a adubo que não sentia nada, não via, não ouvia. Nada era além de vitamina para a terra. Tinha desperdiçado a juventude. Tinha jogado tudo até agora em uma enorme e fétida lata de lixo. A fumaça que saiu dos pulmões de uma maneira tão vazia que era como se nem ao menos fizesse alguma ideia do que tinha significado viver até ali. Como se de repente, todos os seus propósitos e ambições evaporassem.             Helina respirou profundamente e jogou a bolsa no chão, arrancando os sapatos e soltando os cabelos. Ela desabotoou o primeiro botão da camisa branca, respirou mais uma vez, mas àquela altura não havia nada capaz de aliviar o peso que parecia uma bigorna nas costas.             Deu uma última tragada no cigarro antes de jogá-lo para fora da ponte, em direção à água lá embaixo, e observando sua queda, notou que dentro de si havia aquele sentimento, enquanto apoiava as mãos no corrimão...             Um sentimento de abandono tão grande que fez as pernas femininas se impulsionarem e num último salto, num último piscar de olhos, num último respirar desesperado, Helina pulou dali.             O inusitado desejo vibrando dentro da alma era a genuína vontade de começar de novo. De fazer tudo diferente. De viver. De ser feliz. Um arrependimento que engoliu-lhe a alma antes que chegasse à água e só naquele instante, percebeu que era necessária maior coragem para enfrentar a vida do que a morte. Era perfeitamente capaz de encarar o fim... Mas aceitá-lo... Era impossível.             ― Uma segunda chance... É tu- Mas sua palavra foi cortada pela água que se tornara dura como o asfalto e Helina sentiu cada osso do seu corpo se estilhaçar, conforme tudo desaparecia dentro da mais completa escuridão.        

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