ALICIA
O despertador tocou às 6h00, mas Alicia já estava acordada.
O corpo suado, os lençóis embolados, o coração acelerado.
Mais um sonho. Mais um maldito sonho com Rafael Calderon.
Ela fechou os olhos por um momento, tentando recuperar o fôlego.
Ele a tinha prendido contra a parede do escritório. As mãos dele em sua cintura. Os lábios nos seus.
Ela gritando. Ele gemendo. O corpo dele entre suas pernas.
E o orgasmo. Meu Deus. Tão real.
Olhou para baixo. A calcinha estava completamente molhada.
O c******s latejava como se ele tivesse acabado de sair de dentro dela.
— Isso não pode estar acontecendo — sussurrou. — Eu tô ficando maluca.
Tentou se convencer de que era só carência. Só desejo.
Mas não. Era ele. Só ele.
Ela saiu da cama e foi direto para o banho. A água fria bateu em sua pele quente como punição.
Mas nem o frio tirava a sensação de que, de alguma forma, Rafael estava dentro dela.
Mesmo sem nunca ter tocado de verdade.
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A faculdade estava cheia. Alunos se arrastavam pelos corredores com cara de ressaca.
Mel encontrou Alicia na escada.
— Você também acordou com o demônio no corpo? — perguntou, bocejando.
— Com outro tipo de demônio — respondeu Alicia, com um sorriso torto.
— Ontem você tava impossível, hein? Até o Calderon te olhou como se quisesse te comer viva.
Alicia soltou uma risada leve, tentando disfarçar o efeito que a frase causou.
— E você acha que eu notei?
— Cínica — Mel deu um tapa de leve no ombro dela. — Aquilo foi uma guerra silenciosa. E você ganhou.
Ela queria acreditar nisso.
Mas a guerra ainda estava longe de acabar.
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RAFAEL
Rafael entrou na sala antes de todos. Estava impecável como sempre. Terno preto, camisa branca, gravata fina. O olhar gelado.
Mas por dentro, um caos.
Não dormira. Não comera.
Só pensava nela.
No que fez.
E no que não podia mais fazer.
A cada segundo, a imagem de Alicia vinha como uma martelada no centro da testa.
Ela dormindo.
Ela dançando.
Ela o provocando.
Ela o chamando.
Ele não podia.
Não devia.
Mas queria.
E isso o consumia.
Quando os alunos começaram a entrar, ele manteve os olhos nos papéis.
Ignorou todos.
Inclusive ela.
Principalmente ela.
Alicia sentou-se na terceira fileira, como sempre. Perfeita.
Cabelo solto. Blusa branca. Decote discreto, mas letal.
Ele sentia o cheiro dela do outro lado da sala.
Mas fingiu não ver.
Durante toda a aula, fez questão de não chamá-la.
De não olhar.
De não respirar o mesmo ar.
E ainda assim… era como se ela estivesse sentada no colo dele.
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ALICIA
Ela percebeu.
Claro que percebeu.
Ele estava estranho.
Frio. Duro. Ainda mais do que o habitual.
Não a encarava. Não a provocava. Não a via.
E isso a irritou.
“Vai fugir agora?”, pensou.
“Depois de me encostar daquele jeito? Depois de me sussurrar no ouvido que queria me quebrar?”
Ela esperou até o fim da aula.
Quando ele desligou o projetor e os alunos começaram a sair, Alicia foi até ele.
Sozinha.
Parou ao lado da mesa.
— Professor Calderon — disse em tom firme.
Ele não a olhou.
— Algum problema, Srta. Alicia? — perguntou, seco.
Ela cruzou os braços.
— Sim. O senhor está me evitando.
Ele respirou fundo.
Lentamente, levantou os olhos.
E o olhar dele… a despia inteira.
— Você está se achando importante demais — disse ele, com frieza fingida.
— E o senhor está fingindo muito m*l — retrucou, sem hesitar.
Um silêncio pesado se instalou.
Até que ele deu a volta na mesa.
Ficou diante dela.
A centímetros.
Ela sentiu o cheiro dele.
O calor.
O perigo.
— Vai continuar me provocando até quando? — ele perguntou, baixo.
— Até você fazer alguma coisa a respeito — respondeu.
E então, aconteceu.
Ele segurou o rosto dela.
Puxou.
E beijou.
—
Não foi um beijo doce.
Foi violento. Quente. Necessário.
As línguas se tocaram com desespero.
A boca dele sugava a dela com sede.
Ela gemeu contra os lábios dele.
Ele a prensou contra a parede da sala.
As mãos dele em sua cintura.
O corpo dele colado ao dela.
O p*u dele duro contra sua barriga.
Ela sentiu.
Ele também.
E nenhum dos dois quis parar.
Mas ele parou.
De repente.
Soltou-a com força.
Deu dois passos para trás, como se tivesse encostado em fogo.
— Isso… não pode acontecer — disse, ofegante.
Ela o encarou, confusa. Excitada. Furiosa.
— Por quê?
Ele passou as mãos no cabelo, transtornado.
— Porque você é perigosa.
Porque eu vou destruir você.
E porque… eu vou me destruir também.
E saiu.
Deixando-a sozinha.
Trêmula.
Molhada.
E completamente rendida
⸻
Alicia sentia-se embriagada.
Mas não pelo álcool.
Pelo poder.
Desde o beijo com Rafael, o corpo dela queimava. A alma também.
Ele a tinha beijado como um homem faminto. Depois fugido como um covarde.
E agora ele fingia que nada tinha acontecido.
Mas Alicia não era o tipo que se calava.
Se ele queria fingir, ela jogaria ainda melhor.
Ia provocar. Lentamente. Dolorosamente.
Foi aí que entrou Lucas, o novo aluno da turma da tarde.
Alto, loiro escuro, olhos verdes e sorriso que derretia até professoras.
Gentil, educado e… interessado.
— Você é Alicia, né? A garota que deixou o professor Calderon sem palavras outro dia — disse ele no refeitório.
Ela riu, fingindo modéstia.
— Nem foi tudo isso.
— Foi sim. Eu estava lá. Quer sair comigo essa semana?
Ela pensou dois segundos.
“Rafael vai surtar.”
— Claro. Sexta?
—
Na sexta, Alicia usou um vestido florido, batom nude e perfume doce.
Lucas a levou num bistrô charmoso, elogiou tudo nela.
E no final do encontro, segurou o rosto dela com cuidado.
— Posso te beijar?
Ela hesitou.
Não por falta de vontade.
Mas por… estratégia.
Sim. Rafael precisava ver. Precisava sentir. Precisava arder.
— Pode — respondeu.
—
Na segunda-feira, Alicia e Lucas chegaram juntos à faculdade.
Riam de algo bobo.
Caminhavam lado a lado.
E pararam no corredor em frente à sala de Rafael.
Ela sabia o horário. Sabia que ele passaria ali.
E quando ele apareceu, com aquela expressão gelada, impecável no terno escuro e olhar de assassino…
Ela puxou Lucas e o beijou.
Na frente dele.
Um beijo lento.
Aberto.
Molhado.
Lucas segurou sua cintura.
Alicia inclinou o corpo.
Rafael passou por eles sem dizer uma palavra.
Mas o maxilar dele estava travado.
O olhar… assassino.
Por dentro, Rafael Calderon queria matar.
Queria arrancar Lucas pelo colarinho, enfiar a cabeça dele na parede e gritar que Alicia era dele.
Mas não era.
Ainda não era.
Por fora, ele passou reto.
Mas por dentro… era lava.
—
No fim da aula, ele ignorou todos como sempre.
Mas dessa vez, Alicia sentiu a diferença.
A energia.
A raiva contida.
O fogo silencioso.
Ela sorriu por dentro.
Ela tinha vencido. Por ora.
—
Nos dias seguintes, os jogos aumentaram.
Ela usava vestidos mais curtos.
Sorria demais para Lucas.
Cruzava as pernas lentamente na sala.
Rafael a ignorava com perfeição.
Mas cada músculo do corpo dele dizia o contrário.
Quando Alicia falava algo inteligente na aula, ele elogiava com ironia.
Quando Lucas a abraçava no pátio, Rafael quebrava lápis na sala.
E então veio o ensaio de oratória.
Alicia foi a última a falar.
Sozinha na frente.
Rafael sentado atrás, observando.
— O Direito precisa de coragem — ela disse. — E coragem às vezes é se jogar mesmo sabendo que vai se machucar.
Ele a encarou.
Ela não desviou.
— Às vezes… o que é certo parece errado. E o que é errado, inevitável.
A sala aplaudiu.
Rafael ficou em silêncio.
Mas quando ela passou por ele na saída, ele sussurrou:
— Já chega.
Ela parou.
— Chega do quê, professor?
— Do jogo.
— Quem disse que é um jogo?
Ele a encarou. De perto. De verdade.
— Eu não divido o que é meu, Alicia.
— Mas eu não sou sua.
— Ainda não.
E saiu.
O sangue dela ferveu.
O corpo inteiro reagiu.
A alma gemeu.
O jogo havia começado.
Mas ele estava longe de terminar.