Capítulo 8

1366 Words
ALICIA O despertador tocou às 6h00, mas Alicia já estava acordada. O corpo suado, os lençóis embolados, o coração acelerado. Mais um sonho. Mais um maldito sonho com Rafael Calderon. Ela fechou os olhos por um momento, tentando recuperar o fôlego. Ele a tinha prendido contra a parede do escritório. As mãos dele em sua cintura. Os lábios nos seus. Ela gritando. Ele gemendo. O corpo dele entre suas pernas. E o orgasmo. Meu Deus. Tão real. Olhou para baixo. A calcinha estava completamente molhada. O c******s latejava como se ele tivesse acabado de sair de dentro dela. — Isso não pode estar acontecendo — sussurrou. — Eu tô ficando maluca. Tentou se convencer de que era só carência. Só desejo. Mas não. Era ele. Só ele. Ela saiu da cama e foi direto para o banho. A água fria bateu em sua pele quente como punição. Mas nem o frio tirava a sensação de que, de alguma forma, Rafael estava dentro dela. Mesmo sem nunca ter tocado de verdade. ⸻ A faculdade estava cheia. Alunos se arrastavam pelos corredores com cara de ressaca. Mel encontrou Alicia na escada. — Você também acordou com o demônio no corpo? — perguntou, bocejando. — Com outro tipo de demônio — respondeu Alicia, com um sorriso torto. — Ontem você tava impossível, hein? Até o Calderon te olhou como se quisesse te comer viva. Alicia soltou uma risada leve, tentando disfarçar o efeito que a frase causou. — E você acha que eu notei? — Cínica — Mel deu um tapa de leve no ombro dela. — Aquilo foi uma guerra silenciosa. E você ganhou. Ela queria acreditar nisso. Mas a guerra ainda estava longe de acabar. ⸻ RAFAEL Rafael entrou na sala antes de todos. Estava impecável como sempre. Terno preto, camisa branca, gravata fina. O olhar gelado. Mas por dentro, um caos. Não dormira. Não comera. Só pensava nela. No que fez. E no que não podia mais fazer. A cada segundo, a imagem de Alicia vinha como uma martelada no centro da testa. Ela dormindo. Ela dançando. Ela o provocando. Ela o chamando. Ele não podia. Não devia. Mas queria. E isso o consumia. Quando os alunos começaram a entrar, ele manteve os olhos nos papéis. Ignorou todos. Inclusive ela. Principalmente ela. Alicia sentou-se na terceira fileira, como sempre. Perfeita. Cabelo solto. Blusa branca. Decote discreto, mas letal. Ele sentia o cheiro dela do outro lado da sala. Mas fingiu não ver. Durante toda a aula, fez questão de não chamá-la. De não olhar. De não respirar o mesmo ar. E ainda assim… era como se ela estivesse sentada no colo dele. ⸻ ALICIA Ela percebeu. Claro que percebeu. Ele estava estranho. Frio. Duro. Ainda mais do que o habitual. Não a encarava. Não a provocava. Não a via. E isso a irritou. “Vai fugir agora?”, pensou. “Depois de me encostar daquele jeito? Depois de me sussurrar no ouvido que queria me quebrar?” Ela esperou até o fim da aula. Quando ele desligou o projetor e os alunos começaram a sair, Alicia foi até ele. Sozinha. Parou ao lado da mesa. — Professor Calderon — disse em tom firme. Ele não a olhou. — Algum problema, Srta. Alicia? — perguntou, seco. Ela cruzou os braços. — Sim. O senhor está me evitando. Ele respirou fundo. Lentamente, levantou os olhos. E o olhar dele… a despia inteira. — Você está se achando importante demais — disse ele, com frieza fingida. — E o senhor está fingindo muito m*l — retrucou, sem hesitar. Um silêncio pesado se instalou. Até que ele deu a volta na mesa. Ficou diante dela. A centímetros. Ela sentiu o cheiro dele. O calor. O perigo. — Vai continuar me provocando até quando? — ele perguntou, baixo. — Até você fazer alguma coisa a respeito — respondeu. E então, aconteceu. Ele segurou o rosto dela. Puxou. E beijou. — Não foi um beijo doce. Foi violento. Quente. Necessário. As línguas se tocaram com desespero. A boca dele sugava a dela com sede. Ela gemeu contra os lábios dele. Ele a prensou contra a parede da sala. As mãos dele em sua cintura. O corpo dele colado ao dela. O p*u dele duro contra sua barriga. Ela sentiu. Ele também. E nenhum dos dois quis parar. Mas ele parou. De repente. Soltou-a com força. Deu dois passos para trás, como se tivesse encostado em fogo. — Isso… não pode acontecer — disse, ofegante. Ela o encarou, confusa. Excitada. Furiosa. — Por quê? Ele passou as mãos no cabelo, transtornado. — Porque você é perigosa. Porque eu vou destruir você. E porque… eu vou me destruir também. E saiu. Deixando-a sozinha. Trêmula. Molhada. E completamente rendida ⸻ Alicia sentia-se embriagada. Mas não pelo álcool. Pelo poder. Desde o beijo com Rafael, o corpo dela queimava. A alma também. Ele a tinha beijado como um homem faminto. Depois fugido como um covarde. E agora ele fingia que nada tinha acontecido. Mas Alicia não era o tipo que se calava. Se ele queria fingir, ela jogaria ainda melhor. Ia provocar. Lentamente. Dolorosamente. Foi aí que entrou Lucas, o novo aluno da turma da tarde. Alto, loiro escuro, olhos verdes e sorriso que derretia até professoras. Gentil, educado e… interessado. — Você é Alicia, né? A garota que deixou o professor Calderon sem palavras outro dia — disse ele no refeitório. Ela riu, fingindo modéstia. — Nem foi tudo isso. — Foi sim. Eu estava lá. Quer sair comigo essa semana? Ela pensou dois segundos. “Rafael vai surtar.” — Claro. Sexta? — Na sexta, Alicia usou um vestido florido, batom nude e perfume doce. Lucas a levou num bistrô charmoso, elogiou tudo nela. E no final do encontro, segurou o rosto dela com cuidado. — Posso te beijar? Ela hesitou. Não por falta de vontade. Mas por… estratégia. Sim. Rafael precisava ver. Precisava sentir. Precisava arder. — Pode — respondeu. — Na segunda-feira, Alicia e Lucas chegaram juntos à faculdade. Riam de algo bobo. Caminhavam lado a lado. E pararam no corredor em frente à sala de Rafael. Ela sabia o horário. Sabia que ele passaria ali. E quando ele apareceu, com aquela expressão gelada, impecável no terno escuro e olhar de assassino… Ela puxou Lucas e o beijou. Na frente dele. Um beijo lento. Aberto. Molhado. Lucas segurou sua cintura. Alicia inclinou o corpo. Rafael passou por eles sem dizer uma palavra. Mas o maxilar dele estava travado. O olhar… assassino. Por dentro, Rafael Calderon queria matar. Queria arrancar Lucas pelo colarinho, enfiar a cabeça dele na parede e gritar que Alicia era dele. Mas não era. Ainda não era. Por fora, ele passou reto. Mas por dentro… era lava. — No fim da aula, ele ignorou todos como sempre. Mas dessa vez, Alicia sentiu a diferença. A energia. A raiva contida. O fogo silencioso. Ela sorriu por dentro. Ela tinha vencido. Por ora. — Nos dias seguintes, os jogos aumentaram. Ela usava vestidos mais curtos. Sorria demais para Lucas. Cruzava as pernas lentamente na sala. Rafael a ignorava com perfeição. Mas cada músculo do corpo dele dizia o contrário. Quando Alicia falava algo inteligente na aula, ele elogiava com ironia. Quando Lucas a abraçava no pátio, Rafael quebrava lápis na sala. E então veio o ensaio de oratória. Alicia foi a última a falar. Sozinha na frente. Rafael sentado atrás, observando. — O Direito precisa de coragem — ela disse. — E coragem às vezes é se jogar mesmo sabendo que vai se machucar. Ele a encarou. Ela não desviou. — Às vezes… o que é certo parece errado. E o que é errado, inevitável. A sala aplaudiu. Rafael ficou em silêncio. Mas quando ela passou por ele na saída, ele sussurrou: — Já chega. Ela parou. — Chega do quê, professor? — Do jogo. — Quem disse que é um jogo? Ele a encarou. De perto. De verdade. — Eu não divido o que é meu, Alicia. — Mas eu não sou sua. — Ainda não. E saiu. O sangue dela ferveu. O corpo inteiro reagiu. A alma gemeu. O jogo havia começado. Mas ele estava longe de terminar.
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