capítulo 1
Júlia narrando
Prazer pessoal, me chamo Júlia, tenho 23 anos, eu nasci e cresci no Morro do Alemão, vivi lá ate meus 18 anos que foi quando decidi sair de lá e vim morar na casa da minha tia em Belo Horizonte, embora tenha crescido ali nunca fui de andar pelo morro, afinal de contas meus pais nunca me deixavam fazer nada, eles sempre me trataram como um diamante, eles sempre fizeram de tudo pra me proteger, e foi assim até os últimos dias de suas vidas, a cerca de 3 anos atrás meus pais faleceram em um acidente de carro, no começo foi muito difícil, e as vezes ainda dói a falta que eles fazem mas me conforta saber que estão em um lugar muito melhor, se essa foi a vontade de Deus quem sou eu pra questionar, não é mesmo?
Tenho 1.60 de altura, pele branca, cabelos loiros, considero meu corpo na média. Formei-me recentemente em Técnica de Enfermagem, desde que sai do morro minha vida mudou muito, tive que aprender na marra que a vida não é um conto de fadas.
A exatos 5 anos eu resolvi ir embora do Alemão, tomei a decisão de partir quando tive meu coração quebrado pelo i****a do Bruno, ele nada mais é do que o dono do morro, sempre fui apaixonada por ele, para mim era como se só existisse ele no mundo, embora já tivesse visto ele algumas vezes pelo morro nunca tivemos nenhum contato ate meus 16 anos, durante um final de semana pedi aos meus pais que me deixassem dormi na casa da minha melhor amiga Camilla que também morava no morro, com sorte eles não suspeitaram de nada, já que era algo comum em acontecer, mas m*l sabia eles que naquele final de semana minha intenção não era dormir na minha amiga, mas sim ir ao baile pela primeira vez. Lembro-me como se fosse ontem, o dia que o Bruno e eu nos envolvemos ela primeira vez, ele havia acabado de assumir o morro; digamos que eu era aquelas meninas iludidas, que com um simples gesto de carinho se derretia, posso afirmar que ele foi meu primeiro grande amor, mas ao contrario de mim, ele tinha varias pelo morro, eu sempre soube que se envolver com pessoas desse meio era ter a ciência de que não seria a única, mas eu aceitava isso por que como ele dizia por diversas vezes, eu era sua preferida. Durante quase dois anos aceitei suas migalhas de amor, uma vez o questionei do porque não me assumir como sua namorada, ele desconversou dizendo que daquela forma estava ótimo, que não pretendia se prender a ninguém, que ele era bicho solto, mas não foi isso que aconteceu.
Durante um dos muitos bailes que era realizado na favela, ele assumiu a Carol como sua fiel, naquele dia meu coração foi trincado, eu já havia visto a Carol em alguns bailes, e achava sua aproximação com o Bruno um tanto quanto estranha, quando o questionei durante uma dessas vezes ele falou que eles não tinha nenhum vinculo, e que ele apenas fazia alguns negócios com o pai dela que era um dos lideres do comando, eu deveria ter escutado meu coração quando achei aquela aproximação intensa demais, o que mais me magoou foi ver ele pouco se importa com meus sentimentos, naquele dia eu prometi que nunca mais ele colocaria as mãos em mim novamente e assim foi ate meu aniversario de 18 anos duas semanas depois; como eu me arrependo de ter cedido aquele rosto bonito e corpo gostoso, mas eu me deixei levar pelo amor que eu sentia por ele, e nossa noite foi simplesmente maravilhosa, no dia seguinte eu me culpei demais, aquilo não era certo, afinal de contas agora ele tinha alguém.
Dois meses se passaram desde a noite do meu aniversário e depois daquele dia eu me mantive longe do Bruno, me doía profundamente o ver desfilando pelo morro acompanhado da sua fiel, dentro desses dois meses comecei a me sentir estranha, sentindo mudanças no meu corpo, quando me dei conta dos sintomas e que minha menstruação estava atrasada fiquei em negação, ate tomar coragem de contar pra Camilla das minhas suspeitas e pedir que ela comprasse um teste pra mim, quando enfim tomei coragem de fazer o teste tive a certeza que minha vida não seria mais a mesma depois da confirmação que eu tanto pedi a Deus que não viesse. Na minha cabeça naquele momento só restavam incertezas, o que será meus pais iriam dizer, qual seria a reação do Bruno, o que iria me acontecer dali pra frente.
Depois de chorar como louca no colo da minha melhor amiga, eu sabia que teria que resolver a minha vida... Primeiro eu contaria ao Bruno que estava esperando por um filho seu, depois daria noticia aos meus pais que com certeza iriam querer me matar, afinal de contas que pai ou mãe gostaria de ver a filha de 18 anos grávida de um traficante, dono de morro; passaram-se dois dias desde que descobri sobre a gravidez e era dia de baile, ao mei ver era o momento perfeito para contar ao Terrorista que estava grávida de um filho seu.
Naquela noite falei aos meus pais que dormiria na casa da Camilla, arrumei minhas coisas e fui para sua casa aonde iriamos nos arrumar pro baile, usei um vestido preto e salto alto, minha amiga fez uma maquiagem leve que combinava perfeitamente comigo. Ao chegarmos o baile estava lotado, eu e minha amiga andamos no meio da multidão com cuidado para que ninguém batesse em minha barriga que mesmo que não aparente era o lar de um serzinho, íamos sentido a escada do camarote aonde geralmente ficam o dono do morro, seus soldados, seus aliados com as mulheres, as putas, e por aí vai... quando estávamos quase chegando o som foi interrompido e o DJ informou que o chefe tinha um comunicado importante pra comunidade, quando olhei pro palco ele estava lá lindo com sua marra que eu tanto amava, Lembro-me de sorrir ao ver como ele estava gato naquele dia, mas meu sorriso murchou ao ver a Carol ao seu lado; ao meu redor eu vi tudo acontecer em câmera lenta, em fração de segundos vi meu mundo desabar quando perante a comunidade inteira ele anunciava que seria pai, que agora sua favela teria um herdeiro... sem nem perceber as lágrimas escorriam pelo meu rosto, e a sensação que eu tinha era de que meu peito estava sendo esmagado, minha amiga me abraçou forte e me puxou pra fora dali e naquele momento eu só me permitir sofrer e chorar abraçada a minha melhor amiga, tendo a certeza de que meus planos haviam ido por água a baixo.
No dia seguinte não se falava em outra coisa pelo morro, que o chefe teria um herdeiro, naquela dia eu tive a certeza que permanecer ali não me faria bem algum, juntando meu pedaços tomei a maior decisão da minha vida, criei coragem e contei aos meus pais que estava grávida, ainda me lembro do rosto carregado de desgosto deles e mesmo magoados eles não me viraram as costas como eu havia pensado que fariam, pelo contrário eles me apoiaram e respeitaram minha decisão de não querer contar quem era o pai do meu filho. Com muito custo convenci meus pais a me deixarem ir morar com minha tia por parte de mãe em Minas, e então eu juntei os pedaços do meu coração quebrado, minhas coisas e fui embora do morro.