ɛɳcѳɳtʀѳ ɗɛรɑรtʀѳรѳ
Apenas uma semana foi necessário para toda sua vida e em tudo que acreditava mudar drasticamente.
Sua vida, um sonho para a maioria das pessoas que não conheciam seu passado obscuro, havia tomado um novo rumo, dando uma guinada repentina e virando tudo de pernas para o ar, nem mesmo ela acreditando em como tudo acontecera tão rápido, tudo por férias forçadas em um lugar totalmente diferente do que estava acostumada, um lugar tão pacato que poderia levar qualquer uma das pessoas com quem convivia diariamente à loucura, da mesma forma que tirara sua paz em um primeiro momento.
Mas toda sua insatisfação acabara quando enfim resolvera cumprir com sua palavra, atendendo o prometido que fizera à sua irmã antes de sua viagem para a terceira lua-de-mel, algo que não era novidade para ninguém da família, o quanto ela gostava dessas viagens, uma delas resultando no bebê que ela agora esperava.
Antes de ir, sua irmã a fizera prometer levantar todos os dias e regar as rosas exatamente às seis e vinte da manhã, alegando que elas eram muito sensíveis e precisavam receber a água e o alimento antes que o sol nascesse por completo, logo ela que tinha o costume de ir dormir depois desse horário, algo normal para quem morava em Nova York, a cidade que nunca dorme com muitos a conheciam.
Ela tinha uma vida noturna agitada, indo e protagonizando diversos desfiles, ou indo às entregas de prêmios dos filmes, onde diversas atrizes faziam questão de usar seus modelitos, divulgando e fazendo seu negócio ser ainda mais famoso e lucrativo, tudo graças à Lucille, que fora sua fada madrinha, que descobrira seu talento ainda na adolescência, alguém que ela conhecera com a ajuda do melhor amigo que ela poderia querer, uma pessoa que ela podia dizer que devia sua vida.
Depois de uma semana, a culpa por não cumprir a promessa e a cobrança da irmã de que suas rosas necessitavam daquele cuidado específico, além da curiosidade para saber o porquê de tanta insistência, a fizeram levantar e descobrir o real motivo do pedido tão inusitado de sua irmã.
Ela ainda se lembrava do que acontecera...
Ela se levantara, sem a menor vontade, a cama estava ainda mais convidativa naquela manhã, escovara os dentes, escovara os cabelos e vestira uma roupa leve, prendera os cabelos negros em um r**o de cavalo alto, passara um glóss e pegara o regador antes de se aventurar no quintal no frio da manhã, tentara fazer tudo o mais rápido possível, ainda tinha vontade de voltar para o conforto do quarto e da cama quentinha e aconchegante.
Foi então que tudo mudou.
Estava quase terminando quando ouviu passos se aproxinando, passos cadenciados, pensou em quem seria o louco que estaria na rua àquela hora, pensou em entrar, mas a curiosidade foi maior, continuou a mexer nas plantas e olhou o relógio, seis e dezoito, foi então que entendeu, não demorando para xingar sua irmã em pensamento, era tudo um plano de sua irmã, com certeza mais um pretendente que ela tentava lhe empurrar.
Seis e dezenove, faltava pouco para descobrir quem seria o pato da vez, porque, conhecendo sua irmã, deveria ser um belo exemplo de bronco barbudo e velho, estilo lenhador das revistas dos anos cinquenta, talvez um cinquentão aposentado buscando, sem sucesso, um corpo menos horripilante, iria esperar apenas para ter algo para rir pelo resto do dia e de sua temporada ali.
Seis e vinte, os passos se aproximavam cada vez mais, agora era questão de segundos.
Foi então que o viu, virando a esquina e se aproximando da casa, seu coração quase parou de bater e saiu por sua boca.
O que viu abalou não só suas estruturas, como todo seu corpo, inclusive as partes mais íntimas, a visão que teve tirou todo seu fôlego e vontade de voltar para cama, pelo menos sozinha.
Aquilo não era apenas um homem, com certeza Adonis ou Davi de Michelângelo havia criado vida e agora corria por ali, usando shorts e camiseta, deixando pouco para a imaginação.
Ela queria desviar o olhar, mas era impossível, ele era a visão da perfeição, os cabelos dourados ao vento, os músculos visíveis sob a camiseta, o suor escorrendo por seu corpo, o braço se movendo, levando água à sua boca, escorrendo por seu peito, tudo sem parar a corrida, tudo parecendo ser proposital, algo para enlouquecer quem quer que passasse por ali e presenciasse a cena, naquele momento ela só desejava ser aquela água...
Foram apenas alguns minutos, que pareceram durar horas, tirando não só seu fôlego, como sua capacidade de raciocinar e até mesmo se mover, estava paralizada, era informação demais para assimilar estando sóbria sem acreditar que aquilo era um delírio pela falta de sono.
O resto do dia ela passou tentando se convencer que tudo não passara de imaginação causada por um período demasiado grande demais de abstinência s****l, talvez seus amigos tivessem mesmo razão e ela precisava urgente de um namorado e não de alguém para os pequenos flertes que ela costumava conhecer e logo dispensar.
Os dias se arrastavam lentamente, toda manhã ela o via, eram poucos momentos, momentos que ela queria prolongar, queria chamar sua atenção de algum jeito, mas nada parecia funcionar, nada do que fazia dava certo, nem mesmo seu charme e todas as artimanhas que estava acostumada, mesmo que não precisasse tanto deles assim, ou simplesmente estivesse realmente enferrujada na arte de flertar.
Era como se ele fosse imune aos seus encantos, nunca lhe dando atenção, por mais que ela fizesse de um tudo, já pensando inclusive em um dia aparecer nua para cuidar das flores, ou então vestida com algo tão exorbitante que o faria parar por alguns momentos pelo susto de encontrá-la daquele jeito, mas decidiu deixar como estava, ao menos por enquanto, não iria se rebaixar a esse ponto, por mais que ele valesse a pena de coisas bem baixas como sua imaginação fértil a fazia pensar.
Continuaria tentando buscar uma forma de ter a oportunidade de ter mãos que alguns segundos com ele, mas não poderia deixar sua vida parar por isso, sua autoestima era alta demais para deixá-la ficar correndo atrás de quem não demonstrava nenhum interesse em si.
Por sorte tinha com o que ocupar sua mente naquele dia, sua mãe a intimara para tomar café com ela e as crianças, o convite fora feito diversas vezes, ela sempre recusando, mas naquele dia não haveriam desculpas suficientes para adiar mais aquilo, ela deixou claro que se não fosse, iria buscá-la, não importando como estivesse ou não vestida e ela a conhecia bem o suficiente para saber que era capaz disso, então preferiu não arriscar, pegou uma roupa confortável e uma para se trocar, sabia como ficava quando estava perto de suas sobrinhas.
Por mais que as amasse, sabia que eram adoráveis crias de Satanás...
Depois de um belo café da manhã, regado de zilhões de calorias que a fariam malhar por horas para eliminá-las, as meninas fizeram de tudo para convencê-la a brincar com elas, algo normal para uma tia fazer com suas sobrinhas, o inconveniente seriam as brincadeiras, uma queria maquiá-la e a outra subir nas árvores e correr pelo quintal, uma ótima combinação para não dizer o contrário, a vantagem era que seria um bom exercício.
Foram muitas horas de brincadeiras, incluindo boas sessões de modelo vivo para as capetinhas, onde elas se aproveitaram de sua "boa-vontade" totalmente forçada pelas circunstâncias, se algum de seus amigos de Nova York a visse agora, com certeza teria um infarto, mas ela nem se importava, pelo menos até sua mãe resolver trazer um suco, isso juntamente com uma visita surpresa.
Ela e as crianças rolavam pelo chão, a grama macia amortecendo sua queda quando as duas pularam sobre seu corpo juntamente com um belo ataque de cócegas, algo que poderia ser um alívio após a guerra de bolas de lama que fizeram com ela pouco tempo antes, deixando-a coberta de lama em lugares que ela nem acreditava ser possível.
Quando a voz de sua mãe foi ouvida, as três olharam para o lado, cobertas de lama e folhas dos pés à cabeça, ela tentando distinguir quem poderia ser, enquanto as crianças não pensaram duas vezes antes de a soltarem e correram até sua mãe e a tal visita, ela agradecendo mentalmente pela paz que teria graças a tal visita.
- Tio Pepe!
Gritaram ao correr em direção do tal tio, ela lembrava que seu cunhado também tinha um irmão, não haviam se visto novamente após o casamento duplo de vinte anos atrás, mas como era ainda uma menina, não recordava sua fisionomia, nunca teve o interesse de prestar atenção nas centenas de fotos que sua irmã lhe mandava, com certeza ele agora, na casa dos quarenta, deveria ser um velho barrigudo, com uma enorme barba e uma penca de filhos.
Revirou os olhos rindo da empolgação das menina, só crianças para ficarem tão animadas com a presença de um bronco daqueles, mas fazer o quê...
Levantou tentando tirar um pouco da bagunça de cima de si, rindo muito ao imaginar a cena das crianças derrubando o tal homem no chão por ele não poder conter a força que elas tinham, mas seu sorriso morreu por imediato ao erguer o rosto e olhar para a direção onde elas foram e, se em algum momento havia desejado estar morta com todas as forças, aquele era o momento exato.
Bem ali, agachado e sendo atacado de todas as formas, o cabelo dourado extremamente bagunçado, calça preta colada nas pernas, tênis e uma camisa cinza que marcava bem seus músculos e um grande sorriso nos lábios grossos, recebendo as diabinhos de braços abertos estava quem perturbou seus sonhos todas as noites e não a deixando pensar em outra coisa durante os dias.
Ela não conseguia se mexer ou sequer pensar direito, seu coração estava acelerado de tal forma que ela acreditava que ele poderia sair a qualquer momento por sua boca, sua respiração havia parado e ela sentia que suas pernas fossem feitas de gelatina, seu corpo pesando tanto que ela temia perder o equilíbrio sem nada poder fazer para evitar aquilo.
Não era possível que ele estivesse ali de verdade, sua mente certamente estava lhe pregando uma peça de muito mau gosto, fazendo com que se sentisse como uma adolescente novamente, beliscou seu braço diversas vezes para ter certeza que não era um sonho, só então se dando conta que sua mãe a chamava insistentemente.
Anne- Está tudo bem, Désirée?
Désirée- Eu...sim, estou bem- respondeu ofegante, notando o olhar daquele homem sobre si.
Anne- Meninas, parem já com isso, vocês vão sujar seu tio!
Giuseppe- Não tem problema Anne, são crianças.
Anne- Mesmo assim precisam ter educação. Já para dentro crianças, é hora de se limparem, depois vocês falam com o tio de vocês!
- Tá bom vovó- correram para dentro como se fossem salvar alguém da forca.
Giuseppe- Vejo que uma das crianças ainda não foi.
Como ele se atrevia?!
Désirée- Eu...não sou uma criança!
Anne- Essa é minha filha, Désirée, irmã de Beatrice.
Giuseppe- Irmã é? Beatrice nunca me disse que sua irmã era tão...- olhou-a de cima a baixo antes de continuar- Nova.
Désirée- Como...como ousa?! Pois saiba que eu tenho vinte e seis anos!
Giuseppe- Com esse tamanho?- perguntou tentando sufocar o riso.
Désirée- Não tenho culpa se você tem o tamanho do seu ego! Mas com certeza qualquer coisa é maior que o seu cérebro!
Anne- DÉSIRÉE FOURNIER! ISSO SÃO MODOS MOCINHA?!
Désirée- Desculpe mamãe- falou abaixando a cabeça e esfregando os pés no chão, se sentia uma criança novamente.
Por mais que tentasse, não pôde reprimir a pequena risada por vê-la exatamente como a criança que ele havia dito há pouco, recebendo um olhar mortal como resposta.
Anne- Assim está melhor. Venha Giuseppe, sente e tome um suco enquanto as meninas se limpam.
Giuseppe- Sinto muito ter que recusar mas, não posso ficar muito, na verdade, vim ver você, as meninas e saber se tem notícias do Esteban.
Anne- Você não soube?! Ele e a irmã tiveram que viajar, a mãe está muito m*l e eles a levaram para convencê-la a se internar, sabe bem o quanto ela pode ser teimosa quando quer...
Giuseppe- MAS QUE p***a!- gritou, só depois se dando conta do que dissera na frente que ele considerava sua segunda mãe- Desculpe, mas essa notícia não poderia chegar em pior momento, eu precisava muito da ajuda dele, preciso tirar as medidas de uma casa ainda hoje para começarmos a reforma o mais rápido possível.
Anne- É tão urgente assim?
Giuseppe- Infelizmente é, sabe como são essas pessoas da cidade grande, eles só querem destruir o que temos aqui e querem tudo pra ontem. Agora não sei como vou fazer, ele é o melhor para me ajudar nesse serviço.
Anne- Pode ser uma sandice, parecer insensato da minha parte mas...eu sei de alguém que talvez possa te ajudar.
Giuseppe- Qualquer ajuda é bem vinda, só não posso fazer isso sozinho.
Anne- Bem...se você pensa assim, então pode levar a Désirée para lhe ajudar.
Désirée- Eu?!
Giuseppe- Ela?!
Anne- Sim, ela entende bem de medidas, é muito esperta e pode ajudá-lo, além disso será bom para ela fazer algo além de pensar naquele tal de Adonis...
Désirée- Mamãe!
Giuseppe- Adonis?!
Anne- Sim, assim que ela chama um tal de um rapaz que ela não conseguiu trocar duas palavras ainda, mas que fica suspirando pelos cantos.
Giuseppe- Interessante...fale mais sobre esse deus grego.
Aquilo estava ficando muito interessante, pelo menos para ele, que não demorou a sentar em uma das cadeiras da varanda.
Désirée- Mamãe...por favor...- murmurou mas sua mãe estava empolgada demais para parar.
Anne- Ah, é uma bobagem. Ele é um rapaz que ela vê todos os dias passar correndo em frente à casa de Beatrice, acredita que ela até tem acordado cedo só para vê-lo?- falou rindo se sentando em uma das cadeiras.
Giuseppe- Verdade?
Anne- Sim, logo ela que nunca foi adepta ao hábito de levantar cedo, tem levantado todos os dias só para se arrumar e tentar chamar sua atenção de alguma forma, mas nada tem adiantado.
Ela estava errada antes, aquele sim era um bom momento, se não o perfeito para morrer, ou pelo menos ter um ataque epilético.
Giuseppe- Quem sabe se ela tivesse me parado em algum desses dias e tentasse falar comigo, as coisas seriam bem diferentes.
Como seria bom um buraco direto para o inferno naquele momento, só para jogar ele e o seu sorriso debochado, era uma mistura de vergonha e ódio o que sentia
Désirée- Eu te odeio!
Anne- Espere um pouco,VOCÊ corre por ali todas as manhãs...quer dizer que...eu...sinto muito.
Giuseppe- Poderia ser pior, ela poderia ter sido maquiada pelas meninas e estar coberta de lama e folhas na frente do tal rapaz.
Désirée- É hoje que você morre- murmurou.
Giuseppe- O que você disse?
Désirée- Que vou tomar um banho e procurar o pouco de dignidade que ainda me resta...
Giuseppe- Quanto à proposta...
Anne- Eu sinto muito, não queria falar essas coisas, com certeza agora vocês irão ficar mais distantes ainda...
Giuseppe- Ao contrário, vai ser bom ter uma ajuda mais perfumada que o Esteban. Pode ir baixinha, eu espero aqui.
Ela estava puro ódio por dentro, os pés batendo forte no chão sem se preocupar se estragaria ou não o gramado tão bem cuidado, não bastava ele a ver naquele estado deplorável, sua mãe ainda a entregara daquela forma.
Entrou no banheiro, ainda bufando de ódio, tirou as roupas com um pouco de dificuldade e entrou embaixo da água quente deixando-a escorrer por seu corpo tentando tirar tudo o que conseguia, agradeceu aos céus por ter lembrado de levar outra roupa, não era nada sexy ou glamouroso, mas iria servir, ela só precisava de alguns pequenos ajustes...
Segurou a camiseta com ambas as mãos e rasgou-a, amarrando-a na cintura com o nó acima do umbigo, o que deixaria sua barriga e seu piercing à mostra, mas o short que trouxera não a agradava para o que pretendia, então correu até o quarto da mãe e pegou a saia de uma de suas sobrinhas, sabia que ficaria perfeita, nessa hora era bom ter o tamanho de uma criança, ao menos quando não estava de salto.
Aproveitou estar no quarto da mãe e fez uma maquiagem leve, deixou os cabelos presos em um coque e passou o perfume, olhou no espelho e gostou do resultado, com certeza estava zilhões de vezes melhor que antes, colocou as roupas sujas na mochila e saiu.
Deu um beijo na mãe que estranhou sua roupa, conhecia a filha bem o bastante para saber que ela estava aprontando alguma, mas apenas pediu para que ela tivesse juízo, no que quer que ela estivesse aprontando e a deixou ir, pedindo em pensamento que ela não fizesse nada de tão grave, pelo bem da família.
Ela andou até o portão com passos firmes, certa da atitude que tomaria a partir de agora, ele não tinha idéia de com quem estava mexendo, mas agora iria provar do próprio veneno.
Por mais que estivesse decidida, não pôde evitar que seu coração falhasse diversas batidas ao vê-lo apoiado no jipe cinza, os braços cruzados no peito, as mangas dobradas evidenciando os músculos que ela tanto adimirara por tantas vezes, imaginando como seria sentir aqueles braços em volta de seu corpo, as mãos tocando-a sem pudor...podia odiá-lo mas...não podia negar que ele mexia e muito com ela...
Désirée- Estou pronta, vamos.
Giuseppe- Acho que a senhorita se enganou, estou esperando uma figura elameada que me acha um Adonis.
Désirée- Muito engraçadinho, vamos logo antes que eu seja obrigada a fazê-lo engolir esse sorriso.
Giuseppe- E como faria isso?
Désirée- Quer mesmo descobrir?- perguntou bem próxima dele, as mãos em seu peito.
Ela pôde percebê-lo corar, engolir em seco e tossir um pouco antes de abrir a porta para ela e fazer a volta.
Giuseppe 1× Désirée 1 com bônus.