Por que não voltamos nossa atenção para outra coisa? Que atividade você gostaria que fizéssemos?"
A pergunta repentina deixa Harry perplexo. Não é uma pergunta que ele está acostumado a ouvir e, por isso, leva um momento para entendê-la. Todos os seus sonhos de ter amigos para brincar passam pela sua cabeça. Harry se lembra de todas as vezes que assistiu outras crianças no parquinho, o que elas fizeram, o que ele gostaria de poder estar fazendo.
Logo atrás do Sr. Tom, o playground do parque está vazio. Havia algumas outras crianças rondando antes, mas Harry presume que agora eles devem ter ido almoçar em casa.
Falando em almoço - Harry esfrega uma mão distraída na barriga. Não adianta pensar em voltar para os Dursleys. Nenhum almoço estará esperando por ele lá, não depois que Duda foi e o denunciou.
"Vamos sentar no banco."
Harry se assusta com seus pensamentos, então obedientemente se arrasta até o banco. Ele vai subir, mas o Sr. Tom o impede, em vez disso, agarra-o pelas axilas e o deposita na madeira.
"Eu posso sentar sozinha!" Harry diz, se contorcendo para escapar do aperto.
O Sr. Tom dá um t**a nele, então se agacha e alcança um dos tornozelos de Harry. "Pense no que você deseja fazer e eu cuidarei de seus ferimentos."
Harry está com a perna esquerda erguida no ar. É difícil pensar quando ele está sendo tocado assim. É uma distração.
"Você está me distraindo," Harry acusa.
O Sr. Tom levanta uma sobrancelha e Harry sente seu rosto corar. Seu amigo está apenas tentando ajudar, e Harry está sendo ingrato novamente.
"Desculpe," diz Harry. "Você pode olhar minha perna. Eu não me importo."
Harry sente uma onda de frio na pele quando a mão do Sr. Tom passa sobre seus ferimentos. Faz cócegas o suficiente para que Harry solte uma risadinha suave sem realmente querer. Quando a mão se afasta, Harry pode ver que sua perna parece normal. Não há mais marcas.
"Obrigado!" Harry diz, torcendo o tornozelo experimentalmente. Então ele vai se levantar, mas o Sr. Tom coloca a mão em seu peito, segurando-o no lugar.
O rosto do homem está divertido. "Sua outra perna, pequeno."
"Oh," Harry diz, envergonhado. Ele se senta novamente e balança a perna direita para cima para o Sr. Tom pegá-lo. Eles repetem o processo, e desta vez Harry está pronto: ele mantém os lábios bem fechados, segurando o riso que se contorce em seu estômago.
Assim que a perna direita está pronta, o Sr. Tom dá um tapinha no joelho. "Agora, para seus braços."
Harry estende um braço de cada vez, e logo tudo fica livre de marcas. Não há necessidade de curativos, mesmo. Harry esfrega a pele nua, tentando ver se sobra alguma dor.
"Tudo feito?" Harry pergunta, só para ter certeza.
"Tudo feito", confirma o Sr. Tom. "O que você gostaria de fazer?"
Harry pula do banco, então envolve seus braços ao redor de si mesmo, inseguro. Há algo que ele gostaria de fazer, algo que ele sabe que as crianças devem fazer depois de remendar suas vaias.
"Eu-" Harry começa, nervoso. "Eu posso-"
"Sim?" A voz do Sr. Tom é paciente. Gentil. Harry se sente seguro sabendo que seu amigo está aqui com ele, e é isso que lhe dá coragem para falar.
"Posso ganhar um abraço?"
Uma pausa se desenvolve, durante a qual Harry teme que a resposta seja não. Porque o Sr. Tom é seu amigo, não seu pai e não seu professor, e talvez os amigos não devam pedir essas coisas.
"Claro. Você pode ter um abraço."
Harry sorri, aliviado.
Nenhum deles se move.
"Hum," diz Harry. Ele não tem certeza se precisa se mover ou não. Mas, novamente, ele e o Sr. Tom não são como amigos normais. O Sr. Tom está olhando para ele, então Harry dá o último passo à frente e passa os braços em volta do pescoço do homem, esperando que ele não esteja cometendo um erro.
O Sr. Tom cheira um pouco estranho. Como perfume chique e fumaça de cigarro. Harry apoia o queixo no ombro do Sr. Tom, perguntando-se se as grandes asas de pássaros estão escondidas atrás do tecido grosso da jaqueta.
Lentamente, braços envolvem as costas de Harry. Harry sente o Sr. Tom dar tapinhas nele algumas vezes, e então eles se afastam um do outro.
"Muito bom", diz o Sr. Tom. Ele limpa a garganta e esfrega a nuca, que é onde Harry estava se agarrando.
Harry está feliz por ter sido um bom abraço. "Obrigado", diz ele. "Por fazer os hematomas desaparecerem."
"De nada." O tom suave está de volta. Harry gosta de ouvir.
"Podemos-" Harry olha para o parquinho. "Podemos ir ao playground?"
O Sr. Tom está de pé, estendendo a mão. "Lidere o caminho."
Harry pega a mão, notando que sua mão envolve apenas três daqueles dedos, e leva o Sr. Tom até o balanço.
"Os balanços são meus favoritos", disse Harry, de fato. "Gosto de ir muito alto. Posso balançar mais alto do que qualquer outra pessoa", acrescenta ele com orgulho, estufando um pouco o peito.
"Um talento admirável."
Harry não sabe o que 'admirável' significa, mas a palavra soa bem. "É o legal," Harry concorda.
O Sr. Tom aperta a mão de Harry. "Hm. Acho que você quer dizer 'melhor'."
Harry franze a testa. "É a mesma coisa."
"Não é a mesma coisa", diz o Sr. Tom, mas então eles alcançaram os balanços, e toda a conversa desaparece da mente de Harry.
"Este aqui", disse Harry, arrastando o Sr. Tom pela mão. "Este é o melhor. Hum, e o próximo a ele é bom também." Harry morde o lábio e olha por cima do ombro para o amigo. Ele não se importará em desistir de seu swing favorito se isso significar que eles podem balançar juntos.
O Sr. Tom solta a mão de Harry e se move em direção ao bom balanço. O estômago de Harry se contorce, mas ele diz a si mesmo que não importa.
Só que o Sr. Tom não se senta. Ele agarra ambas as correntes de metal, um fio em cada mão, e acena com a cabeça para o assento vazio.
Harry suspira surpreso e rapidamente corre para se sentar antes que o homem mude de ideia.
"Segure firme," murmura o Sr. Tom, e então dá um grande empurrão em Harry.
Harry sente uma pressa enquanto seus arredores se afastam, seus pés deixando o chão enquanto ele é lançado no ar. Empurrando as pernas, Harry começa a ganhar impulso, auxiliado pelo empurrão das mãos contra suas costas, guiando-o para cima.
Para cima e para cima e para cima. Harry solta uma risada enquanto vai mais alto e mais alto, balançando em direção ao sol e ao céu azul.
"Se divertindo?"
"Sim!" Harry grita de volta. Seu coração está disparado e ele se sente como um pássaro. Harry imagina que tem suas próprias asas nas costas, grandes e batendo, capazes de carregá-lo na próxima vez que Duda tentar persegui-lo.
O balanço continua mesmo quando Harry sente suas pernas ficarem cansadas. Cada vez que ele sobe de novo, parece muito alto, mais alto do que jamais esteve. Eventualmente, Harry para de chutar as pernas. A única coisa que o mantém no ar são as mãos do Sr. Tom pressionando suas costas.
"Ok," Harry diz, uma vez que ele se cansou de ver o playground abaixo dele, parecendo mais minúsculo do que nunca das grandes alturas que ele atingiu hoje com a ajuda de seu amigo. "Podemos parar agora." O Sr. Tom deve estar cansado de tanto empurrar. Harry certamente está cansado de tanto balançar.
O balanço diminui quase imediatamente, flutuando de volta para o chão. Harry sente a presença firme atrás dele agarrar o balanço, segurando-o quieto.
Harry põe os pés de volta no chão. Suas pernas balançam imediatamente, desacostumadas ao solo sólido. Harry tropeça e se agarra no balanço para se equilibrar. Em vez do metal, ele encontra o Sr. Tom estendendo a mão para colocá-lo de pé novamente.
"Cuidado", repreende o Sr. Tom.
"Estou bem", disse Harry, virando-se. "Apenas um acidente."
O Sr. Tom olha para ele de uma forma que Harry decide que significa que seu amigo não está impressionado.
Harry se afasta do balanço e cruza os braços sobre o peito para provar que pode ficar de pé sozinho. "Vejo?" ele diz. "Bem."
O Sr. Tom abre a boca para responder, mas é interrompido pelo som de resmungos do estômago de Harry.
"Oops", diz Harry. "Desculpe."
"Com fome?"
"Hum. Um pouco. Está tudo bem. Não temos que parar." Harry não quer ser mandado para casa. Ele quer ficar aqui mais um pouco.
"Não seja ridículo. Temos muito tempo."
O Sr. Tom dá um passo à frente e Harry permanece no lugar, confuso.
Então Harry é agarrado pela cintura e levantado no ar. "Ei! Ponha-me no chão!" Ele bate no ombro do homem. "Eu não quero ser pego."
Alguns segundos se passam e então Harry é colocado de volta no chão.
"Se você cair-"
"Eu não estou indo!" Harry bufa, indignado. "Eu não sou um bebê."
O Sr. Tom bufa para ele. "Para o banco, então."
Harry anda um pouco mais devagar do que o normal, observando onde ele põe os pés. Se o Sr. Tom perceber isso, ele não disse nada.
Eles alcançam o banco. Harry sobe sozinho, sem ajuda, e o Sr. Tom se senta ao lado dele.
"Vamos almoçar?" Harry pergunta, curioso. O Sr. Tom não tem malas com ele. Ele vai fazer comida com magia? Ele vai compartilhar? Harry não trouxe almoço com ele e seria rude pedir comida.
"Vamos."
O Sr. Tom estende a mão, e Harry observa, fascinado, enquanto um sanduíche inteiro aparece do nada.
"Isso é incrível", Harry desabafou. "Como você faz isso?"
"É uma convocação, pequena. Uma tarefa simples." O Sr. Tom afaga a cabeça de Harry com a mão livre. "Aqui. Este é para você."
"Obrigado", diz Harry, e pega o sanduíche com as duas mãos. Alface, tomate, presunto e queijo. Ele dá uma grande mordida. Tem um gosto muito bom. Harry mastiga e mastiga o mais rápido que pode.
O Sr. Tom o está observando comer. Harry se sente um pouco estranho com isso. Ele deve comer mais rápido?
"Você vai comer?" Harry pergunta, uma vez que ele engoliu sua boca.
"Eu não preciso de comida como você. Posso esperar você terminar."
Harry dá uma mordida maior e tenta mastigar mais rápido.
O Sr. Tom estreita os olhos. "Coma devagar. Isso vai causar indigestão."
Harry não quer comer devagar, mas também não quer ter problemas. Então ele se contenta em dar grandes mordidas e mastigar em um ritmo normal.
Assim que o sanduíche estiver pronto, Harry se sacuda das migalhas. Sua garganta está coçando. Ou talvez esteja dolorido.
"Água?"
"Há uma fonte de água ali." Harry aponta para o outro lado do playground.
O Sr. Tom faz uma careta de desgosto e cria um copo de leite e o estende.
"Oh", disse Harry, surpreso. O vidro está frio. "Obrigado."
O leite desaparece muito mais rápido do que o sanduíche. Harry limpa a boca no braço quando termina.
"Não gosto disso." O Sr. Tom lhe entrega um pano. É principalmente branco, mas há uma cor vermelha escura no meio. O vermelho é costurado com barbante e parece uma forma de splat. Harry enxuga a boca com o pano, com medo de sujar, embora o Sr. Tom o tenha dado para limpar. Então, quando o Sr. Tom olha para baixo incisivamente, Harry limpa seu braço também.
Harry devolve o pano, envergonhado.
O Sr. Tom desaparece. Ele está sorrindo enquanto faz isso, e Harry suspeita que o homem pode estar se exibindo.
"O que agora?" Harry pergunta.
"O que você quer fazer?"
Harry balança a cabeça. "É sua vez de escolher", diz ele. "Então é justo."
Isso lhe valeu um tapinha na cabeça. Harry se sente aquecido sempre que o Sr. Tom o elogia ou dá um tapinha nele. Tia Petúnia e tio Válter fazem o mesmo com Duda, e Harry sempre se perguntou como seria. Agora que ele sabe, ele tem certeza de que faria qualquer coisa para mantê-lo.
"Você gostaria de ver um pouco mais de magia?" Sr. Tom pergunta.
"Sim", disse Harry, imediatamente. "Sim por favor."
O Sr. Tom ri, mas é um som alegre, não zombeteiro. Então o ruído desaparece, deixando uma expressão pensativa. "Eu gostaria de poder lhe dar algo mais para ficar com você. Mas você disse que sua tia e seu tio não aprovariam isso."
Harry encolhe os ombros. Ele já aceitou esse fato, embora goste de ouvir que o Sr. Tom quer lhe dar mais presentes. "Está tudo bem", disse Harry. "Eu não me importo."
"Você diz isso com muita frequência. Se alguma vez ficar infeliz, se algo o incomodar, sinta-se à v*****e para dizer isso."
"Tudo bem", diz Harry.
Uma mão bate em sua cabeça novamente em resposta. Harry pisca para seu amigo. "Posso ver alguma magia agora?" ele pergunta. "Por favor?"
"Estenda as mãos."
Harry faz isso.
"Feche seus olhos."
Harry sorri com a familiaridade. Ele fechará os olhos e, quando os abrir, verá uma surpresa legal, como seu anel.
Uma parte pequena e contorcida cai em sua mão. Harry quer ver o que é, tanto, mas ele não disse para abrir os olhos ainda.
O que quer que seja, emite um som bufante. Talvez seja um sapo? Ou um lagarto? Harry pode sentir os pezinhos dançando em suas palmas.
"Abra."
A palavra soa quase como um silvo. Harry abre os olhos e fica boquiaberto.
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