Prólogo
P.O.V. Valentina
Brasil, Rio de Janeiro
Sorrio ao ver minha mala pronta. Estou tão animada em começar minha viajem. Vou viajar para estudar em outro país. Espero conseguir mais oportunidades.
Deixo a mala no canto do meu quarto, junto com minha bolsa. Meu vôo sai amanhã de manhã.
Nem sei se vou conseguir dormir essa noite, estou tão animada.
Saio do quarto e escuto o barulho vindo do quarto da minha irmã. Ela está ouvindo um funk bem alto.
Abro a porta e vejo ela dançando. Entro em sua frente e passo a dançar também.
Movimento minha cintura ao som da música. Coloco as mãos no joelho, rebolo e depois faço o quadradinho.
__ Sai! - sou empurrada para longe.
__ Invejosa - jogo meu cabelo para o lado.
Passo a língua pelo meus lábio, sentindo meu piercing da minha língua, que infelizmente vou ter que tirar.
Saio do quarto dela e vou para a cozinha. Nossa casa não é muito grande. Apenas 3 quartos. Minha mãe com um, minha irmã com outro e eu tenho outro.
Meu irmão quase nunca fica em casa, então quando ele dorme aqui, fica no sofá da sala.
Essa casa foi deixada para minha vó, pela mãe materna dela.
__ Que cheiro bom, o que está fazendo? - olho dentro da panela.
Recebo um tapa na mão, me fazendo sentir uma leve ardência. Dou uma risada e minha mãe me olha feio.
__ Sabe que não gosto que mexa na panela.
__ Não se irrite, Dona Fátima - dou um beijo na bochecha dela - o que tem para comer?
__ Estou fazendo strogonoff de carne.
__ Deu até fome agora - passo a mão na barriga.
Minha mãe sorri e n**a com a cabeça. Pego uma maça e me sento no sofá da sala.
Está passando uma reportagem sobre o tráfico. É meio difícil ver isso e saber que meu irmão faz parte.
Ver como esses meninos morrer ou irem presos, me da um terrível aperto no peito.
Eu não sou cega, vejo muito bem como os polícias tratam os traficantes, ainda mais quando um dos seus colegas é morto.
O que aconteceu recentemente. Um policial foi morto aqui na Rocinha. Agora tem policiais vigiando por aqui.
Já foi 3 meninos presos e 2 mortos. Além de uma mulher ser baleada. Ela estava chegando do trabalho e isso acabou acontecendo. Ainda não se sabe do estado atual dela.
A porta da minha casa é aberta e eu acabo me assustando. Meu irmão entra em casa, com uma arma na cintura e uma mochila nas costas.
__ Pedro! - minha mãe grita da cozinha - não suje o meu tapete.
Eu sei que ela finge não ver o que ele faz. Dona Fátima prefere não pensar muito nisso.
__ Tô' na larica - ele se joga no sofá.
Pego no controle para mudar de canal. Pedro não fala nada, apenas continua de barriga para cima.
Ele raramente está em casa. Eu sei que ele só está aqui porque vou viajar amanhã.
Sei que eles estão felizes por essa nova oportunidade para mim.
Dona Fátima chama todos a mesa. Minha irmã desce as escadas correndo. Quando fala em comida essa daí aparece rápido.
__ Não corra Amanda!
__ Tô' com fome - ela se senta á mesa.
Não demora muito para que comecemos a comer. Normalmente não almoçamos assim, mas como é uma despedida para mim, minha mãe obrigou todos a fazerem isso.
***
__ Vou sentir saudades - minha mãe me abraça apertado - me ligue assim que chegar, ok?
__ Eu vou ficar bem - dou um sorriso.
__ Venham abraçar a irmã de vocês - Pedro me abraça e da leve tapas nas minhas costas.
Amanda também vem me abraçar. Ela fala alguma coisa sobre ficar com o meu quarto, mas eu não dou muita ideia para o que ela fala.
Meu irmão pega a minha mala e sai da casa.
__ O que foi mãe? - pergunto ao ver ela passar a mão sobre o peito.
__ Estou com um m*l pressentimento. É melhor você não ir.
__ Nada vai acontecer - dou um sorriso - ligo para a senhora assim que chegar lá - deposito um beijo na bochecha dela.
Me despeço mais uma vez da minha mãe. Ela ainda está com a mão no peito, como se alguma coisa de r**m fosse acontecer comigo.
Subo na moto do meu irmão. Ele desce o morro comigo e com a mala.
Como o uber não vem até aqui, eu tive que descer.
__ Não faz merda - ele passa a mão no meu cabelo.
__ Jamais! - afasto seu braço.
O motorista do uber abaixa o vidro do carro. Ele olha para a arma na cintura do meu irmão e treme de medo.
Coloco minha mala no carro e entro na parte de trás.
Passo o vôo praticamente inteiro dormindo. Eu só acordo para comer. A comida do avião é realmente r**m.
Quando chego a Nova York procuro pela minha amiga. Dou um sorriso ao ver uma placa com o meu nome.
Vou ficar na casa da Gisele enquanto estou estudando. Minha amiga já mora aqui tem muito tempo, ela me ofereceu para ficar na casa dela quando eu disse que iria cursa aqui.
__ Oi - corro até ela e a dou um abraço apertado.
__ Ele vai levar sua mala - ela aponta para um homem.
Ele é alto e musculoso, com uma expressão séria no rosto. Acho que vou ter pesadelos com ele por muitas noites.
Gisele vai me falando cada ponto turístico da cidade. Ela parece estar muito feliz com isso, muito mais do que eu.
Começo a sentir um certo desconforto quando começamos a nos afastar da cidade.
Fico em silêncio e aperto minha mão em um punho.
Lembro do que minha mãe falou sobre seu pressentimento. Gostaria de ter ouvido ela, mas agora não tenho mais tempo.
Tento abrir a porta do carro, mas sinto uma picada no meu pescoço.
A única coisa que vi antes de apagar, foi o sorriso da Gisele. A v@dia me enganou direitinho.