•⋅⊰ ✹ ⊱⋅• Helin •⋅⊰ ✹ ⊱⋅•
Dor.
Doía, doía tanto... tanto.
“Adeus” você dizia e o sorriso era tão nítido em seus lábios. Seus olhos apenas expressavam a sua felicidade em finalmente ir embora, em finalmente me deixar.
Eu queria pedir que não o fizesse, queria ser egoísta, mas não conseguia me mover.
Adeus, foi tudo o que você disse enquanto aquele anjo atravessava a lança em seu estômago e seu corpo se desfazia na minha frente. O que você estava pensando naquele momento?
Em meio a todos eles eu gritei, gritei e gritei enquanto as lágrimas rolavam por meu rosto. No meio de todos eles eu fiz jus ao que me chamavam – o monstro, a cria de Asmodeus.
Meus olhos tão vermelhos quanto os do meu pai enfureceram-se e eu os estraçalhei com as minhas garras. Eu arranquei suas asas, seus olhos, suas entranhas. Eu os rasguei como desejava rasgar aquela realidade – os rasguei enquanto gritava como um animal ferido.
Eu os despedacei como sentia que estava sendo despedaçada naquele momento e a onda de poder que apenas explodiu do meu corpo foi forte o suficiente para tanto anjos como demônios caírem aos meus pés.
O hibrido – eu os fiz lembrar –, eu pertencia aos dois mundos. Mas de que isso me serviria se a dor de te ver escapando por entre meus dedos nunca se dissiparia?
Naquela noite, compartilhei a dor de Asmodeus, a dor de sentir o último resquício de alguém que amava se indo; naquele dia você terminou o que tanto desejava. Me tornou a princesa de Abah por completo, sem nem mesmo um sinal sequer da criança que você cuidou no plano mortal.
Não restava mais espaço pra ela, não restava mais nada.
“Adeus”, me recordei e pude sentir a dor prestes a me consumir – então a voz suave do meu pai me alcançou.
— Apenas um pesadelo, querida — ele murmurou me abraçando.
Um pesadelo, talvez fosse melhor dizer que isso definia como me deixou.
Queria... ter tido a chance de não te amar.
Minhas mãos tatearam em torno do meu pai e me segurei em sua roupa enquanto soluçava e o ouvia dizer com a voz carregada de preocupação e melancolia — tudo vai ficar bem, pequeno sol... foi apenas um pesadelo. Foi apenas um pesadelo.
Apenas... um pesadelo.
Então eu me levantaria outra vez.
Apenas um pesadelo.
E eu iria andar pelos corredores do castelo dourado outra vez.
Apenas um pesadelo.
E eu ouviria os demônios cantarem outra vez, veria o céu rosado e assistiria o treino de Nier.
Apenas um pesadelo.
Então teríamos um baile.
Apenas um pesadelo.
E eu teria a eternidade para me convencer de que... tinha sido apenas um pesadelo.
Meus olhos doíam enquanto chorava nos braços de Asmodeus e sentia seus dedos acariciarem meu rosto; ele cantarolava como se eu não passasse de uma pequena criança assustada e em algum momento, apenas adormeci ali, com ele me segurando e cantando. Guardando meu sono, meus sonhos e o que restou da minha alma.
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Não havia empregadas em Abah. Lembra-se disso? Todo o castelo dourado é encantado, praticamente vivo e pronto para atender as necessidades de quem o habita, então... imagine o quão solitário não era.
Meus dias - todos os dias -, se resumiam ao mesmo. Andar pelos corredores, ler, prestar serviços políticos durante as manhã em audiências com os súditos e por fim, ter toda a eternidade para remoer aquela cena, de novo de novo.
Sabe quantas vezes te vi morrer?
Sabe de quantas forma te vi morrer?
Eu estava cansada. Em todos os sentidos.
Eu só queria um pouco de paz, um pouco de quietude para que meu coração enfim se aquietasse. Mas nem isso me era permitido.
Não.
Não podia me deitar e fechar meus olhos sem me recordar do seu rosto coberto de sangue. Não podia comer sem ouvir sua risada ao fundo.
Você era c***l.
O maldito fantasma que impregnou em minha vida era torturante. Eu praticamente conseguia te ver e quando eu te via... você era o Elliot.
Aquele mesmo Elliot que me buscava na escola em uma harley e acelerava enquanto me ouvia gritar. O Elliot que me abraçava nas noites de tempestades, que sorria quando te preparava café e que era gentil e meigo.
Foi tudo encenação? Certo? Então porque era tão doloroso? Esse Elliot nunca existiu... então por que eu tinha que sofrer? Por que diabos eu continuava me torturando?
— Querida? — A voz dl meu pai me fez erguer o rosto rapidamente.
— Perdão...
— Você está bem?
Ele estava preocupado outra vez. Estava sempre preocupado, como se eu fosse uma bomba relógio prestes a explodir.
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