Entrei na loja andando na pontas dos pés e notei que alí era uma loja de ferramentas ou algo parecido com isso. Olhei em volta e consegui ver meu vizinho no final do corredor olhando algumas cordas. Por que ele vai comprar cordas? Para pular? Se enforcar? Deus, que não seja isso! Ele é lindo de mais para desabitar esse mundo cheio de rancinhos.
De repente me lembrei daquele livro educativo do senhor Gray que eu li e coloquei a mão contra os lábios para não rir, eu realmente estou pensando que ele usa cordas para isso? Céus, eu preciso encontrar a salvação, com esses pensamentos perversos eu não posso ficar.
Encarei de novo ele e engoli em seco me preparando para fazer a coisa mais i****a que passou pela minha cabeça.
E por que? Por que eu faço essas coisas? Por que eu gosto de fazer coisa no impulso e ficar me corroendo de vergonha depois? Bem, eu não sei, mas cá estou eu indo fazer a maior burrada da minha vida, só por ser uma pessoa impulsiva.
- Posso ajudar? - perguntei sorrindo me aproximando dele. Espero que esse tempo que eu passei trabalhando como atendente me ajude em alguma coisa agora.
Qualquer coisa se ele perguntar sobre algo que eu não sei, eu falo que não trabalho aqui, mas vi ele confuso e decidi oferecer minha ajuda, pois sou uma cliente vip daqui... Bom, melhor que nada né.
Céus, será que um dia eu deixaria de ser tão i****a assim?
Vi o Henrique virar para trás e assim que ele me olhou nos olhos, meu coração errou uma batida e eu percebi... Rolou o tchan.
- Você trabalha aqui? - ele perguntou franzindo as sobrancelhas. c*****o, por que ele tem que fazer esse biquinho lindo quando fala? Desse jeito eu vou acabar agarrando ele, sem nem levar para um jantar antes.
- Tr-Trabalho. - gaguejei encolhendo os ombros.
ALERTA VERMELHO! ALERTA VERMELHO! O que você está fazendo sua burra? O combinado era fingir ser uma cliente e não a d***a da atendente! O que eu vou fazer se ele me perguntar o preço das coisas? Sorrir e fingir demência? Realmente, eu sou o significado de s*******o.
Ok, vou fingir que sou atendente, porque quero muito conversar com esse homem lindo e cheiroso. E eu sei que provavelmente estou fazendo um papelão me passando por atendente dessa loja que eu nem sei o nome, mas qualquer coisa eu finjo um desmaio e falo que foi o calor.
E aproveito e falo que achava que isso era um sonho, o máximo vai ser ele achar que eu sou esquizofrênica e fugir de mim, mas, no máximo.
- Nunca te vi aqui antes. - ele inclinou a cabeça para o lado, fazendo sua franja lisa deslizar pela sua testa.
PARA DE SER TÃO GOSTOSO!
- Sou nova aqui! - sorri nervosa.
Nova no programa "crie noção e ganha dois pôneis", ao qual eu obviamente fui eliminada na primeira etapa.
- Precisa de ajuda? - uma garota de cabelos longos se aproximou sorrindo. Ah, nem vem! Sem concorrências, por favor! Tenho preguiça de mais para disputar um corpo gostoso com qualquer garota atirada... Como se eu não estivesse quase me atirando de pernas abertas para ele.
Ok, pessoal vamos fingir que eu não disse isso, vamos fingir que eu sou uma garota puramente normal, beleza?
- Ah não, obrigada, ela já me atendeu. - Henrique apontou para mim sorrindo divertido. Agora, qual o motivo do seu divertimento? Não sei e estou com medo de descobrir.
- Mas, ela não trabal...
- Nossa quanta poeira! - interrompi a garota enquanto passava meu dedo por uma prateleira e olhava de relance o nome dela no crachá - Pode deixar, Xana, eu atendo ele enquanto você limpa isso. - sorri para a garota e empurrei o Henrique para o final do corredor.
- É Jana!
Mas como sempre, eu não podia ficar sem passar uma vergonha básica na frente do boy magia, então meio que acabei batendo meu corpo sexy em uns baldes de tinta e só não cheguei a derrubar eles, porque o Henrique foi mais rápido que eu e os segurou a tempo.
- Você está bem? - ele perguntou olhando o braço que eu bati.
- Estou, desculpa por isso. - sorri sem graça acariciando meu braço.
- Tem certeza? Está um pouco vermelho. - ele colocou a mão no meu braço e eu senti meus pelos se arrepiarem quando seus dedos gelados tocaram minha pele.
Sei que é errado eu me aproveitar disso, mas...
- Na verdade está doendo um pouco sim. - mumurei fazendo um biquinho enquanto olhava meu braço "machucado".
Não me julguem! Pois tenho certeza que qualquer ser humano faria o mesmo no meu lugar... Fala sério! Olha só esse cara! Ou eu que sou caruda demais e não me importo em demonstrar o que sinto e quero.
Não me levem a m*l, eu até curto aquele mistério de saber se a pessoa te quer ou não, mas sou impaciente demais. Se eu quero alguém, eu falo, se não quero, não enrolo, gosto de ser direta e sincera. Não nasci para fazer joguinhos ou enrolação.
Tá bom que as vezes tenho vergonha de dizer, tanto que estou aqui fingindo ser atendente dessa loja só para falar com meu novo vizinho. Eu poderia simplesmente abrir o jogo com ele de cara, como sempre faço com os outros rapazes por quem me interesso.
Mas por quê que com ele isso parece mais difícil? Confesso que eu nunca tive medo de levar um fora, mas agora, eu realmente quero esse cara e se pra isso eu tenha que entrar nesse joguinho chato de chove e não molha, eu vou.
Droga, eu vi ele duas vezes só na vida e já estou assim? É possível você se interessar por alguém tão rápido? A gente sequer ficou e eu já me sinto tonta com aproximação dele.
- Essa não. - ele murmura preocupado e começa a fazer carinho no meu braço e eu tenho que olhar para o chão para ele não ver meu sorriso gigantesco nos lábios. - Está melhorando?
Neguei com a cabeça encarando meu "machucado". Eu não vou para o céu e isso já não era nem um questionário e sim um fato.
Ouvi um risinho vindo do mais alto e logo senti suas duas mãos tocarem meu braço em uma massagem muito, muito boa.
- Eu sou uma desastrada com duas pernas. - murmurei com os olhos fechados.
- Conheço alguém pior. - ele riu soprado e eu arregalei os olhos.
Conheço alguém pior... Conheço alguém pior... Ok, eu sei que eu não deveria, mas isso ficou repetindo na minha cabeça, quem ele conhece pior? Será uma garota? Uma ficante? Será que ele tem namorada e eu tô aqui dando em cima dele? Como ela é? Qual o tamanho do seu pé? COMO ASSIM ELE CONHECE ALGUÉM PIOR??
Calma, Yasmin! Deixa isso de lado! Está tudo bem! Ele nem te conhece, você não pode ficar invadindo a vida dele desse jeito! Vou deixar essa passar.
Para de dar uma de emocionada! Você nunca se importou por não ser a exclusiva de alguém, já que você nunca teve alguém exclusivo também, então pode engolir esse gosto amargo na garganta porque você nem conhece esse cara! E se ele namora ou não, isso não é da sua conta! Ouviu? Não é da sua conta!
Não é problema seu, você não tem que saber, você realmente não precisa saber.
- Sua namorada? - deixei escapar e quase me agredi.
E aqui está a minha discrição super discreta... Se é que esse termo existe.
- Um amigo, eu não tenho namorada.
DEUS É BOM!
- Vai me ajudar com as compras? - ele perguntou e eu me virei para ele sorrindo.
- Claro! O que você está procurando?
- Cordas. - ele sorriu de lado - Diversos tipos de cordas.
Não sei porque, mas senti meu ventre contrair depois daquele sorriso. p**a homem gostoso.
(...)
Passei a tarde inteira conversando com o Henrique, e se antes eu me encontrava interessada por ele, agora eu estou ainda mais! Esse cara é tudo de bom! Engraçado, divertido, não fica só quieto me ouvindo, ele interage comigo e também puxou diversos assuntos querendo saber mais sobre mim.
Quando percebi, estávamos apenas conversando naquela loja sentados em uns bancos que havia ali, rindo e falando sobre coisas aleatórias. Descobri que ele também ama casos criminais e ficamos falando sobre os casos mais sinistro que conhecíamos, ele me falou também que tinha um cachorro que era uma peste, quebrava suas coisas e vivia fugindo.
Eu contei para ele sobre as coisas que gostava de fazer e me surpreendi quando ele falou que adoraria acompanhar uma das minhas rotinas. Ele estava mesmo aceitando meu flerte na cara dura? Confesso que isso me deixou impressionada.
Mas infelizmente eu esqueci que tinha um emprego e recebi uma mensagem bem... Exagerada? Da mulher do Chuck que ultimamente está trabalhando como minha chefe nos seus tempos vagos.
- Eu preciso ir. - murmurei fazendo uma careta.
- Mas já? - Henrique perguntou fazendo um biquinho e eu quase beijei ele.
Eu poderia beijar e dizer que é tradição de família? Não, acho que não.
- Sim, mas, aqui está meu número. - quase fiz ele engolir o papel com meu número quando coloquei o mesmo na cara dele - Me liga.
- Ligo sim. - ele sorriu pegando o papel - Tchau Yasmin.
- Tchau Henrique. - sorri e me virei pronta para sair.
- Ah, e a propósito! - me virei para trás encontrando ele sorrindo divertido - Minha irmã nunca me contou que o apelido dela era Xana.
De repente eu me lembrei da atenciosamente que veio falar conosco e eu senti a cor sumir do meu rosto.
- Su-Sua irmã?
- Sim, digamos que a loja que você "trabalha", minha linda... - ele faz aspas ainda sorrindo - É dos meus pais.