LAYLA...
Eu fiquei escondida no sótão, é como se fosse o meu refúgio, durante a noite inteira da festa. Simplesmente desapareci, ninguém deu pela minha falta, talvez Malik, mas estava demasiado ocupado, para se importar espero eu... Neste lugar quando se é velha demais para chamar atenção, consegues tornar-te invisível, uma sombra que serve, que obedece, que nunca abre a boca...
E naquela noite quando eu ia descer, as escadas vi a Amira a entrar linda elegante, ela estava deslumbrante, mas não consegui olhar para ela por mais tempo por isso fui para o sótão... Cada vez que fechava os olhos eu via o rosto dela, tão jovem, tão perdida, tão cheia de esperança mesmo que fosse pequena, tão inocente e alheia ao que está realmente a acontecer. E aquilo destruiu algo em mim... Porque eu mais do que ninguém sabia o que viria... E não era nada bom.
Por mais que o meu corpo esteja treinado para o silêncio, para submissão, para a obediência automática, a sensação de culpa apertou-me a garganta como se fosse uma mão invisível, por isso me escondi, tranquei-me pelo lado de dentro assim ninguém entraria... E sentei-me no chão, com paredes, cheirando a mofo e poeira, e agredeci que Malik não tenha entrado, também ele sabia que eu não fugiria, se calhar resolveu dar-me um tempo... E nisso todo o meu passado veio à tona na minha cabeça...
Lembro-me de quando eu cheguei aqui, eu tinha apenas 10 anos, pequena, silenciosa, assustada, agarrada a uma boneca velha que já não tinha um olho, era a minha única amiga... A minha mãe me disse: É só por alguns meses Layla, Vais ter uma vida melhor, ele é um homem bom, vai casar com ele em breve... Na nossa cultura, nós mulheres somos ensinadas a apenas obedecer e ser submissas, e não questionar, eu ainda não entendia muito da vida mas disso eu entendo, quando o meu pai falava, devia seguir as suas ordens e assim aconteceu... 10anos não é uma idade para duvidar dos pais ou ter algum tipo de escolha...
Chorando entrei naquele carro, e as portas se fecharam, cheguei a esta mansão que parecia um lindo palácio, um sonho de princesa para uma garota como eu... Mas eu sentia falta da minha mãe as vezes chorava escondida. Quando eu perguntava dos meus para Malik que m*l parava em casa, ele nunca me dava uma resposta clara... Meses se passaram e nada dos meus pais, nem para me visitarem... Mas quando fiz 14 anos, comecei a entender certas coisas e perguntei de novo para Malik sobre os meus pais... Mas a resposta que eu tive desta vez foi a pior... Não sei se estava num dia mau, mas arrependi-me do momento em que abri a boca...
Estavamos no corredor. Assim que perguntei isso, ele deu-me um tapa tão forte, que fiquei tonta por uns segundos e com a visão turva, e segurou o meu braço e arrastou-me para o quarto e disse vais aprender a calar essa boca e esquecer de vez esse assunto, inclinou-me na cama, levantou o meu vestido, e puxou a minha calcinha para o lado, e penetrou-me se pudor nenhum, eu gritava e chorava desesperada, implorando para ele parar, por estava a machucar-me mas ele não parava, e entrava cada vez mais forte, foram minutos intermináveis de uma dor excruciante... Eu só ouvia os uivos dele, até que terminou e saiu de mim, e agarrar-me pelo pescoço e dizer: Espero que tenha aprendido de uma vez por todas que és minha, os teus pais te venderam para mim, por umas ninharias de dinheiro, só para ver que não vales tanto assim... Apartir de agora se ousar me questionar, desobedecer ou algo do tipo, vais ser castigada severamente...
E apertou ainda mais o meu pescoço até que perdi a consciência. Acordei num quarto pequeno presa, com grande na janela, fiquei lá, por uma semana, só com pão velho e agua que alguem trazia para mim. E ainda a tentar assimilar o que realmente estava a acontecer, com dores, estava suja... Até que resolveu me soltar e me mandou tormar banho sem dizer uma palavra... Por algum motivo ele não deixava que ninguém me tocasse. Mas as vezes trazia homens, curiosos, cheio de malícia e luxúria nos olhos, que me olhavam como se eu fosse um objeto pronto a ser usada.
Cresci assim, e aprendi que não adiantava nada pedir ajuda, neste mundo ninguém te salva, são todos iguais, ou alguns tem medo do Malik. Com o tempo aprendi que a dor não mata apenas te destrói por dentro...
Tentei fugir depois disso, umas três vezes, criei coragem e corri durante a madrugada pela porta da cozinha, cheguei ao portão, pelos arbustos das plantas, achei que ia conseguir quando alcançei o portão, mas um dos seguranças perguntou atrás de mim: vais a algum lado?... Levaram-me de volta para dentro. Malik estava nas escadas quando quando entrei, olhou-me de cima a baixo, não gritou, ele nunca grita.
Desceu até mim, e disse: Eu disse-te que és minha... E pelos vistos , adoras os castigo que dou-te, porque para ter esta ousadia de fazer algo assim! Estas a pedi-las... Levou-me para o quarto e já imaginam o que aconteceu... O que mais doía era a minha alma mais do que o corpo...
2 anos depois tentei de novo... Quando um homem que vinha sempre as festas aqui na Mansão disse-me que ajudaria, claro que estava a mentir, mas eu achei que estava a ser sincero, pelo meu desespero qualquer oportunidade valia apena... Mas no dia da fuga, o homem fez tudo parecer perfeito depois da festa, estava fácil demais, a distracção dos seguranças, mas achei que só estava com sorte, mas quando chegamos ao carro, e entrei dei de carra com o Malik. E ele disse: Mas és mesmo burra e ingénua não é? Ainda não entendeu nada? E ele e o homem que me ajudava deram gargalhadas, riram-se de mim... Fiquei simplesmente sem reação, só frustração... e levaram-me para o sótão, sem luz, sem janelas, apenas escuridão total, não consegui ver se era de dia ou de noite... durante duas semanas... Quando saí voltei a obedecer, a minha rotina, e o meu maior medo eram as noite, o Malik, fazia sexo comigo todas as noites, as vezes durante o dia vezes sem conta, parecia uma máquina, talvez para castigar-me e deixar claro que eu era dele...
Eu não aguentava mais, meu corpo andava cansado, sonolenta, comecei a ter enjoos e não sabia o que era, mas quando o Malik se deu conta disso, mandou trazer alguem, uma senhora que me deu um remédio para tomar, e comecei a sangrar muito, e tive dores fortes na barriga durante um mês. Na altura eu não sabia o que era. a mulher que me deu o remédio disse que eu estava doente que logo passaria, mas depois de algum tempo descobri que era gravidez... Fiquei ainda mais horrorizada. Não que eu quisesse um filho do Malik, mas aquilo tudo para mim era insano... Como alguém pode se livrar de um bebé assim? Sem se quer me dizer que eu estava a espera, não que a minha opinião valesse algo, mas ao menos gostaria de saber...