LINDA: Amor, apesar da guerra

Linda estava usando um vestido branco, por fora era angelical e bela como uma tarde ensolarada, mas por dentro enfrentava o luto e a dor, a vontade de chorar não era de emoção, os olhos vermelhos e brilhantes gritavam por socorro. O homem que amava não esperava por ela no altar, estava sentado entre os convidados e ela caminhou olhando para ele, os pensamentos embaralhados torciam para que Ming se levantasse, pedia com o coração partido para que ele impedisse aquele casamento, que a roubasse, a fizesse dele, mesmo que isso significasse uma guerra. Não conhecia o homem moreno que a esperava no altar, tudo o que sabia era que pertencia a um cartel mexicano, que o pai estava pagando caro para que ele se casasse com ela e que ninguém, nem sequer uma daqueles convidados estava disposto a enfrentar Apollo. Filha do presidente do conselho da máfia americana, um dos homens mais respeitados do submundo, o conselheiro havia comprado um marido para ela, arranjado um acordo vantajoso que desconsiderava os sentimentos da própria filha. Linda caminhou sabendo que o preço da paixão que tinha nascido em seu peito seria se tornar a senhora Flores, mas o coração ansiava ser a amante de Ming soh. O chinês sentado entre os convidados e que também a encarava era o único líder vivo da Tríade, organização rival da máfia americana e ex-marido de Lis, a família chinesα foi responsável pela guerra mais longa e sangrenta já enfrentada pela organização a qual o pai fazia parte, ainda assim, o coração de Linda não conhecia a guerra, nem o rancor e se apaixonou perdidamente assim que seus olhos pousaram sobre o homem que era odiado pelo que representava, e respeitado pelo que foi capaz de fazer em nome do suposto amor que nutria pela ex-mulher. Lis também não tinha desejado o casamento, se entregou a Ming para defender Pablo, o hacker da organização que havia sido capturado em um plano sinistro e bem arquitetado de vingança. Chegou ao altar já com o rosto molhado pelas lágrimas e a alma dilacerada pela sensação de impotência de abandono. Como previu, não foi ajudada, nem houve a reviravolta que os filmes românticos mostram, só a batalha para se manter em pé, a ânsia de ser beijada pelo homem que agora era seu consorte e o desespero de precisar fingir uma força que não tinha. A festa estava bonita, o dinheiro tem o poder de enfeitar até o infеrno e era assim que ela se sentia, dançando entre chamas infernαis que consumiam sua alma e a condenavam a uma eternidade de dor e vazio. “Queria enxergar essa felicidade, transformaram o meu sonho em pesadelo” Pensou enquanto olhava os convidados que sorriam e brincavam sem parecerem se importar com nada além das bebidas que seguravam e da própria felicidade. Linda como toda garota havia sonhado com o dia em que conheceria o amor, o sentimento mais conhecido no mundo e, também mais misterioso, aquele capaz de fazer os guerreiros mais cruéis se curvarem e as mulheres mais frágeis se tornarem feras dispostas a qualquer coisa para provarem ao menos um pouco do êxtase desse desconhecido, o amor. Achou que a raiva que sentia de Ming jamais se dissolveria, tinha entregado a ele a confiança de um sentimento cego, algo tão puro que não via a maldade por trás das ações e passos do inimigo mais poderoso de sua família. A Tríade estava por trás de coisas perversas, sequestro de crianças, estupros, roubos, assassinatos, invasões... Ainda assim, tudo que ela enxergava ao olhar para o líder inimigo era um homem que a fazia perder o fôlego e desejar seus lábios nos dela, o único que tinha sido capaz de arrebatar seu coração com tanta força que a levou a duvidar de tudo o que acreditava. A raiva durou apenas até ouvir a voz de Ming em um gemido dolorido. Olhou na direção do ruído, ele estava ajoelhado aos pés de Pablo. O hacker impediu um convite do chinês, torcendo seu pulso com tanta força que distendeu os tendões da mão do rival. O chinês apenas estendeu a mão para Lis, pediu por uma dança, mas Pablo guardava em suas memórias cada lágrima que derrubou enquanto procurava pela noiva e encarou o convite como uma afronta. Linda correu e ajoelhou na terra ao lado de Ming, o vestido ficou sujo como já estava a sua alma, brigou com o hacker, mas quando os olhos cruzaram com os do chinês, o coração saltou tão forte em seu peito que pareceu perder a capacidade de respirar, abriu ligeiramente a boca, tentando respirar, controlar a emoção que sentiu com a proximidade do corpo forte e quando ele segurou a sua nuca e a puxou para um beijo, Linda se entregou, bebeu da fonte da vida, se entregou ao que sentia sem pensar que era observada pelo homem que tinha se tornado seu marido, pelo pai que odiava Ming a ponto de comprar um casamento para a filha que jurou proteger, pelo conselho que punia traição com morte, tudo perdeu a importância, aquele beijo significava mais do que o encontro de duas pessoas apaixonadas, era também a sua despedida da felicidade, então apenas aproveitou. Se beijaram ajoelhados aos pés da ex-mulher de Ming e do hacker que havia sido deixado para morrer em uma ilha no México. Deixaram com que os corpos se encontrassem em meio a recepção do casamento de Linda. O coração da mulher saltava dolorido, o frio na barriga a fez lembrar do que sentiu a primeira vez que saltou de paraquedas, mas de repente uma comoção geral, gritos e a voz da mãe que implorava por algo que Linda demorou para compreender, foi arrastada, quando Túlio a puxou perdeu o equilíbrio, não conseguiu se levantar e acabou caindo, depois tropeçou no próprio vestido e o que mais a angustiava foi que o homem que a fazia delirar de paixão, não havia movido sequer um músculo para ajudar. Tudo que aconteceu a seguir foi rápido e confuso, Apollo estava sendo acusado de traição, quando ela se rendeu aos desejos e beijou Ming, o pai se arrependeu do que tinha feito, nunca tinha visto a filha tão feliz, tão submersa no próprio mundo, mas Isaac propôs a execução de Linda e Apollo não permitiu que o homem pronunciasse mais nenhuma palavra, o golpe foi limpo e rápido, o pescoço quebrado tirava do líder do conselho da máfia a chance de ver o próximo pôr do sol. - Me ajuda! Linda ainda pediu enquanto era puxada aos trancos pelo soldado, no fim, terminou observando as árvores que ficavam para trás com a velocidade do carro que o marido dirigia. O vento em seu rosto e a dor cortante em seu peito, estava preocupada com Apollo, o pai tinha a colocado naquela situação, mas agora a possibilidade de vê-lo ser executado por um erro dela a fez aceitar Anderson e entrar naquele carro. Era sua carruagem para o inferno, mas também o início dos acontecimentos que a levariam para o céu.