Implorando

1263 Words
O toque do celular na bolsa em seu colo a despertou dos pensamentos, dizem que a mente é capaz de tornar real aquilo que almeja, foi o que aconteceu, o pensamento de Linda estava em Ming, na voz forte e decidida que a fazia perder os sentidos, apenas uma mensagem. “Onde você está?” Não sabia onde estava, uma rodovia qualquer que a levava para o desconhecido, tentar ter em mente a história bonita dos pais, Laury também havia sido entregue a Apollo em um casamento arranjado e eram felizes, tinham uma família com bases sólidas, um amor incondicional que fazia o pai correr para casa apenas por um beijo de Laury, cresceu vendo essa felicidade e a mãe lhe garantiu que era possível construir o amor. “Como está meu pai?” Perguntou, afinal seu ato impensado podia ter condenado Apollo a uma execução sumária. Sentia medo das consequências, mas não conseguia se arrepender daquele beijo, nem do beijo trocado durante o casamento, nem de todos os anteriores. Costumavam se encontrar escondidos, a irmã que também morava na fazenda da organização, tinha uma casa distante, afastada, diziam que o marido era antissocial, alguns afirmavam que Dragón era autista e, por isso não se misturava, outros que o mexicano fazia parte de um tipo de seita e que os sacrifícios de sangue exigiam aquele distanciamento, havia ainda quem afirmasse que ele se afastava por não ter acesso há regras básicas de convivência, circulava entre os soldados da máfia o boato de que o marido de Solar comia carne crua e inclusive já tinha sido visto se alimentando de restos humanos. A verdade era bem menos exótica, Dragón era pacífico, gostava de viver próximo a natureza e não enxergava lógica nos “trabalhos” que os soldados desenvolviam, tinha a impressão de que estavam sempre na busca por problemas. Os que deveriam estar fazendo a segurança costumavam usar o tempo para paquerar, os conselheiros sempre em reuniões exaustivas ponderando sobre a vida dos outros. “Talentos desperdiçados e inutilidades valorizadas” Era a frase usada por Dragón sempre que analisava a forma de vida daquelas pessoas, mas entendia que era assim, havia sido líder de um cartel na sua terra natal e seus homens também eram poucos produtivos até serem direcionados em missões. Ali, no que podia se chamar de condomínio, não era diferente, muito mais dinheiro envolvido, um número superior de pessoas dividindo o espaço, e Sombra que parecia ter assumido para si a responsabilidade de tudo, o capô raramente era visto envolvido em questões menores, já o subchefe tentava manter tudo em uma engrenagem perfeita, inclusive os problemas de ordem pessoal, como era o caso do arranjo matrimonial da irmã. Havia sido criado pelo conselheiro, Apollo o recebeu após ficar órfão e foi esse sentimento de respeito pela família do conselheiro que o impediu impor sua liderança e proibir o que acreditava ser um desmando, tentou argumentar e desistiu. E era justamente na casa de Dragón e Solar que os encontros furtivos entre Linda e o líder da Tríade aconteciam. No carro as mãos de Linda tremiam, a notificação de que Ming estava digitando já parecia um presente, lembrou da primeira vez que o viu, a pele branca em um tom pálido apesar do calor, os músculos em relevo no abdômen, os cabelos negrοs desalinhados e aquela postura altiva e dominante que lhe dava um ar quase nobre. “Apollo está bem... Onde você está?” Na fazenda de Ivan Bianchi, líder da máfia americana, o homem que deveria ser um prisioneiro de guerra, implorava para o rival por ajuda. Pablo era o noivo de Lis e hacker da organização americana, carregava o vulgo por ser visto como uma espécie de artista na área da tecnologia, se havia algo que o homem não era capaz de fazer com um computador e acesso a rede, ainda não tinha sido necessária, o hacker era capaz de identificar e rastrear qualquer sinal, invadir programas internos complexos, modificar gravações e manipular dados com a rapidez de alguns cliques. Durante o tempo em que esteve casado com Lis, o chinês havia observado esse tipo de atuação na esposa, ela havia conseguido bloquear o seu acesso ao rastreio de IP, além de invadir os computadores do ex-noivo apenas para conseguir fotos, sempre soube que o coração de Lis estava com o hacker, afinal ela se casou com ele para salvar a vida de Pablo. Procurou por Lis porque não tinha mais forças para se manter firme aos propósitos que o levaram até aquele lugar, o que Sombra acreditava ser uma captura era na verdade uma armadilha, ser preso estava em seus planos, assim como o seu casamento com a noiva de Pablo havia sido articulado, o problema foi que quando conheceu a personalidade de Lis se apaixonou, houve um tipo de encantamento que lembrava a adrenalina de uma competição esportiva. Domar e subjugar a mulher sem usar a violência, apenas a inteligência, sempre foi o estrategista da Tríade, pouco afeito a sangue e brutalidades, mas fascinado pelas artes da manipulação. Mas naquele dia, Ming estava sendo honesto, queria Linda de volta, precisava fazer algo, tentou controlar os próprios sentimentos, sempre havia defendido que as emoções tornam as pessoas fracas, mas foi arrebatado por algo tão maior que já não conseguia se importar com seus planos, só com a mulher de cabelos dourados e olhar selvagem. Sentia o estômago revirar com a ideia dela se ferir, de que Anderson não fosse um bom marido, de que ele a tocasse. O ciúme se misturava em seu peito com o cuidado e juntos bagunçavam a mente que normalmente era fria e equilibrada. - Lis me disse que aprendeu sobre tecnologia com você, por favor, me ajuda, eu vou embora, nunca mais falo com Lis, trio meu juramento, sei que me odeia, mas estou implorando. Falou por mais tempo, e Pablo gostou de ver o inimigo pedindo daquela forma, a arrogância de Ming era óbvia, ainda lembrava do desafio imposto, o hacker só queria salvar a mulher que dominava seu coração, terminou em uma ilha deserta, sozinho... Pablo não tinha um dos braços, nadar seria impossível, principalmente àquela distância da costa, mas Ming usou a esperança e o amor que ele tinha para torturá-lo. - Está livre, e há diversas ferramentas, Lis estará no México, ache como sair daqui e estarão livres. Ainda lembrava de como o rosto da noiva e o medo de que tudo fosse uma mentira, de que Ming tivesse cansado de implorar pelo sentimento de Lis e fizesse algo, gritou sozinho algumas vezes enquanto as lágrimas lavavam a areia em seu rosto, agora o homem que sequestrou sua noiva e o deixou para morrer estava na porta de sua casa implorando por ajuda, pensou em negar, mas os olhos do chinês, pela primeira vez tinham ganhado alguma emoção e Pablo lembrou do medo que sentiu quando não sabia onde estava a noiva, assim como agora, Ming só queria encontrar Linda. - Ela não quer me dizer onde está! Acha que ela... Foi tomado por uma espécie de segurança quase infantil, achou que talvez a namorada quisesse dar uma chance para Anderson, o marido não era um homem feio. - Não, eu não acho, Lis também nunca me disse onde a levou, e procurei por muito tempo, não estou te ajudando, Ming, estou confiando que sabe o que está fazendo. Pablo jogou as chaves do próprio carro sobre a mesa. - Tem um link de GPS no seu celular, estão em um carro e indo para esse lugar
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