Narrado por Murilo Ferreira O carro avançava na madrugada com a precisão de um corte cirúrgico. Eu no banco da frente, fuzil entre as pernas, cigarro no canto da boca, olhar cravado no nada. — "Antes de a gente voltar pro Morro da Vila... vamos fazer uma visitinha." — falei, sem levantar o tom. — "Delegacia Central. Eles acham que tão acima da guerra. Hora de lembrar quem manda." Pulga ria baixinho no volante. Faísca revisava os carregadores no banco de trás. Neguim cantava baixinho, só pra esquentar o ódio. Gargalo afiava a raiva no silêncio. — "Sem piedade. Sem volta. Se render, desarma. Se reagir, enterra." — completei, com a calma de quem já morreu por dentro. Era quase três da manhã quando o portão da Delegacia Central surgiu no horizonte. Duas viaturas paradas na calçada, um gua

