CAPITULO 1
A origem de tudo
Madri, há 15 anos.
— Isto é um erro! Grito bem alto o que venho pensando desde que Rafa pegou Maria e eu no carro dele.
Por um segundo, acho que nenhum deles me ouviu. O barulho ensurdecedor do motor de 227 cv do Ford Escort Cosworth do meu irmão se mistura com o último disco dos Ramones tocando no volume máximo. Não consigo nem ouvir os meus próprios pensamentos.
...
— Vamos, Mel, não proteste. Você sabe que eu não vou caber lá atrás. Diz Maria do banco do passageiro, interpretando m*al as minhas palavras.
O problema não é que a minha amiga seja muito alta do que eu. Bom, depois de todas as modificações que o Rafa fez no carro dele para ficar mais competitivo nas corridas ilegais que eu não deveria saber, nem um Monalisa caberia aqui atrás, que tem apenas um metro e quarenta de altura.
— Não seja ido*ta, Maria! Não me refiro a isso! Eu grito novamente.
Mas ainda acho que não devemos procurar Pablo, você pode parabenizá-lo mais tarde no bar.
— Não faz assim Mel. Fazendo beicinho, Maria olha por cima do seu assento para mim com a mesma cara de cachorro abandonado que ela usou para me colocar nessa confusão. — Por favor, por favor... Só vai demorar um segundo. Ela me implora novamente.
— Eu sou a namorada dele, devo ser a primeira a dar os parabéns para ele por ter sido aprovado na Polícia Nacional.
— Droga, ele vai ser um policial de me*rda! Acabou de entrar na polícia e para festejar vai com os amigos a uma corrida ilegal! Resmunga o meu irmão virando bruscamente na curva que nos leva ao pólo industrial de Vallecas onde se organizou esta competição clandestina.
— Rafita, não seja tão dura com ele! María, se apoia no ombro direito do meu irmão. — Você sabe que ele foi, para fazer um favor a Rubens.
É então, pelo reflexo no espelho retrovisor, que vejo o que a minha amiga só consegue ver, o menino que ela ama de verdade e não o idio*ta do Pablo.
Porque, sejamos honestos, ninguém acredita que María e o idi*ota estão namorando. E não porque seja impensável que o bonitão do bairro notasse o minha amiga, que junto com Monalisa e eu formamos o grupo das populares, mas porque o idi*ota faz tudo em segredo.
— Lissy, você não tinha algo a dizer para Maria? O meu irmão rosna novamente, direcionando a sua raiva para mim.
Maria solta o braço do meu irmão e se volta para mim.
— O que você tem para me dizer, Mel? Ela pergunta, olhando para mim com aqueles olhos castanhos raiados de verde musgo que brilham de uma maneira especial desde que ela se apaixonou por aquele idi*ota.
— Eu... Tá vendo... O que eu queria te dizer...
As palavras ficam presas na minha boca e, na minha cabeça, junto com o sermão que o meu irmão me dedicou ontem à noite quando discutimos.
Você é a po*rra de uma amiga, Lissy. Aquele idi*ota está rindo da Maria e você não pode contar nada a ela. Porr*a! Acabei de vê-lo saindo com a Juliana. O que mais você precisa para acreditar em mim quando digo que Pablo não é legal com ela?
Nunca acreditei que as intenções de Pablo com a minha amiga fossem sinceras. Eles deveriam manter o seu relacionamento em segredo para que o pai de Maria não descobrisse. Não adiantaria nada a dom Mariano descobrir que o menino que abrigava na sua casa, para fazer um favor a um conhecido da aldeia, se esgueirava à noite no quarto da filha.
Até certo ponto, essa desculpa era credível, o que não era tanto, é que guardavam a charada fora de casa. Na rua, Pablo também a tratava como se não a conhecesse. Eles só se comportavam como um casal quando estavam sozinhos, sem ninguém por perto... Isso me irritava muito.
E ontem à noite, quando o meu irmão me contou como tinha visto Pablo se agarrando com a arquiinimiga da Maria no seu bar, os meus temores se confirmaram.
No entanto, uma coisa era saber que o namorado da minha amiga não combinava com ela e outra, era essa amiga acreditar em você quando você conta uma coisa dessas.
Maria venera o cara. É seu primeiro namorado, o seu primeiro beijo, o seu primeiro tudo…
Monalisa já discutiu com ela quando ela disse que não gostava de Pablo e elas são amigas há mais tempo do que a Maria é minha amiga. Se ela não acreditou... Por que ela faria isso comigo?
Uma parada repentina interrompe a lista de justificativas nas quais me protejo por não ter feito a coisa certa. Sou uma covarde e é isso que posso ler no olhar que Rafa me lança pelo retrovisor.
O meu irmão está certo, sou uma péssima amiga.
E esses arrependimentos aumentam quando vejo como María desce do carro e se aproxima com entusiasmo do pequeno grupo liderado por Rubens que, com o porta- malas aberto do seu Golf GTI, montou a sua boate particular numa rua deserta atrás de alguns armazéns abandonados.
Todos dançam euforicamente sob a luz amarelada do poste. Eles estão comemorando, e isso só pode significar que Rubens venceu a corrida.
Talvez esta noite tenhamos sorte e pela primeira vez na vida eles serão legais com Maria. Mas, pela forma como Soledade estreita os olhos, fica claro que esse milagre não acontecerá hoje.
Soledade, Sol para seus amigos e como a chamamos de "Resto" por se envolver com todos os caras que Juliana, a rainha do seu pequeno grupo, deixou por tédio, deixou cair a sua cerveja na calçada e cambaleou para bloquear o caminho da minha amiga.
— Aonde você pensa que vai, Maria? Você esta perdida? Ela diz, balançando nas suas botas de plataforma. — Os estábulos estão na outra direção, sua vac*a! Ela grita com uma risada exagerada enquanto os seus amigos idi*otas batem palmas e assobiam em elogios à sua engenhosidade duvidosa.
Em duas passadas eu a alcanço e a afasto de María.
— Sol, por que você não vai procurar a Juliana? Eu pergunto com nojo, colocando-me entre a minha amiga e ela. — Ela deve estar querendo fazer xixi, e não está conseguindo sem você para segurar a calcinha dela.
Dou outro empurrão nela que a faz tropeçar e cair de bun*da. Os seus amigos riem de novo, mas agora, dela. E mesmo que eles não devessem fazer isso, eu gosto que ela esteja tomando o seu próprio remédio.
Irritada, ela se levanta e me encara. Não tenho medo, ela não ousará encostar um dedo em mim, muito menos me insultar. Se ela ou algum do seu bando de idio*tas pensar em fazer isso, ganharão o ódio de Rafa e gostam demais do seu pub para correr o risco de serem banidos.
— Não mexa com a minha irmã, eu estou muito calmo, e não quero que isso mude. Interrompeu o meu irmão e em resposta todos se calaram.
Apenas a música estrondosa sai dos alto-falantes que ocupam todo o porta- malas do carro de Rubens. Ele, rapidinho vem receber Rafa e lhe dá um tapinha nas costas como se fossem velhos amigos.
— E aí cara?! Sentimos a sua falta na corrida esta noite. Ela foi muito boa e as apostas foram ótimas.
Agora sou eu que estreito os olhos, atirando no meu irmão com o olhar. O babaca do Rubens acabou de confirmar as minhas suspeitas. Rafa compete em corridas clandestinas. Mas teremos que deixar esse assunto para mais tarde. Neste momento, o mais importante é tirar María daqui o mais rápido possível, esta situação me dá um mau pressentimento.
— Não seja pegajoso, Rubens. O meu irmão protesta, tirando o braço do Rubens dos ombros dele. Viemos à procura de Pablo.
Você sabe onde ele está?