— Eu sei! Sol intervém com um meio sorriso que a deixa ainda mais feia do que é. — Ele saiu há pouco com Juliana para aquele prédio ali. Ela diz, apontando para um prédio abandonado atrás dela. — Você sabe, eles precisavam de um pouco de privacidade.
Ela canta. — Olha, lá vêm eles!
E, de fato, no final da rua, dá para ver a forma borrada de duas pessoas que, ao se aproximarem de nós, vão tomando forma.
O corpo alto e musculoso de Pablo ao lado do corpo pequeno e esguio de Juliana.
Ambos reorganizando as suas roupas e cabelos numa tentativa dolorosa de apagar o caos do que fizeram sob o manto da escuridão.
— María?!
Pablo para ao vê-la. A cor oliva da sua pele o abandona, deixando-o com uma cor esbranquiçada e pálida. Igual ao da minha amiga que, imóvel, cerra os punhos dos dois lados do corpo. Ela não diz nada, apenas treme de raiva e quando vejo uma lágrima escorrer por seu rosto, me aproximo dela.
— Vamos, Maria! Não vale a pena. Imploro em vão.
Ela não me olha, preferindo se punir com a imagem de Pablo e Juliana juntos.
Embora Monalisa a tivesse avisado, não é o mesmo suspeitar do que ver ao vivo.
Eu puxo o seu braço novamente, e é aí que consigo que ela me note. Lentamente, nos viramos e Rafa, após cuspir nos pés de Pablo, nos cobre com um abraço protetor nos guiando até o seu carro.
— Vamos, vamos sair daqui. Rafa nos diz com uma voz tranquilizadora. — Maria, por favor, espere! Não vai! Deixa eu me explicar...
Pablo se aproxima de nós e, ignorando os olhares assassinos que o meu irmão lança na direção dele, e se coloca diante de María.
A minha amiga balança a cabeça antes de se esquivar e se afastar dele.
— Por favor, moreninha... Ele insiste novamente, nos interrompendo novamente.
— Vai embora, ela não quer falar com você.
— Isso não é da sua conta, Rafa. Não se meta.
Pablo, incapaz de deixar Maria ir, faz mais uma estu*pidez noite... enfrente o meu irmão.
— Não brinque comigo! Se tivessem me dito, não ia acreditar. Ruge Rubens, batendo palmas atrás de nós. — Pablo, cara, finalmente conseguiu? Você finalmente fod*eu a va*ca bur*ra? Pu*ta me*rda, que estômago você tem.
Essas são as últimas palavras que ouvimos antes do caos irromper. Com um rosnado animalesco, Pablo se lança sobre Rubens e, derrubando-o no chão, começa a desferir soco após soco.
— Ele vai matar ele! Alguém ajuda! Juliana e Sol gritam desesperadas.
Pela primeira vez na vida, concordo com elas. Pablo está sentado sobre o corpo inerte de Rubens e segurando-o pelo peito, batendo incessantemente no seu rosto, completamente ensanguentado.
Pablo está fora de si.
— Rafa... Sussurro sem saber exatamente o que quero pedir a ele. — Fique com a Maria. Diz ele antes de tentar salvar Rubens da morte certa.
Entre a multidão de pessoas que os cerca, posso ver como meu irmão luta para separá-los sem sucesso. Pablo, depois de passar mais de um ano se preparando para os testes físicos da polícia, está como um touro... Puro músculo. Seriam necessários quatro Rafas para que pudessem detê-lo.
Meu irmão, chegando à mesma conclusão que eu, acerta Pablo com a mão direita acertando o seu olho esquerdo e ele, surpreso com o golpe inesperado, cai no chão cobrindo o rosto com as mãos.
Todos nós ficamos em silêncio, incapazes de fazer ou dizer qualquer coisa. Somos testemunhas silenciosas de como a raiva pode transformar uma pessoa a ponto de não reconhecê-la.
Pablo não parece o mesmo e, com os olhos injetados, salta sobre Rafa, jogando-o de costas no chão.
— Não! Eu grito, temendo que ele use a cabeça do meu irmão como saco de pancadas e antes que eu tenha tempo de reagir, Maria acorda da sua letargia e corre em direção a eles.
— Deixe ele em paz! Ela grita com um Pablo enlouquecido. — Largue ele! Ela insistiu em agarrar o seu braço. Mas Pablo não consegue ouvir ninguém e se desvencilha dela, jogando-a no chão, batendo com a testa no chão duro ao cair. — Ai! Eu o ouço gemer antes de ver como as suas mãos se enchem de sangue.
— Animal! Eu insulto Pablo batendo nas suas costas. Mas ele me ignora, não se mexe, ficou parado vendo a minha amiga chorar no chão com um pequeno ferimento na testa.
Silenciosamente ele se levanta, libertando o meu irmão que corre para ajudar Maria. Eu faço o mesmo e nós três, deitados no chão, vemos como Pablo, atordoado, nos olha com medo.
— Morena, eu... eu... ele hesita, horrorizado ao perceber como um macabro rastro de sangue cobre as suas roupas e todos aqueles que ousaram enfrentá-lo. — Sinto muito, sinto muito. Ele diz, afastando-se de nós e subindo na sua motocicleta. — Eu tentei não ser como ele, juro que tentei. Murmura com os olhos fixos nela e balançando a cabeça, continua. — Você ficará melhor sem mim.
Essas foram suas últimas palavras antes de se perder na noite, condenando Maria à morte.
Ele nunca mais voltou... Ela nunca mais foi a mesma... As feridas causadas por sua partida cicatrizaram.
Mas o dano foi... Eterno.