A noite em Tóquio estava ventando um pouco. Fazia frio naquele momento e o céu estava bem escuro, acompanhado de algumas estrelas e uma lua cheia que ajudava a iluminar um pouco a cidade.
Havia uma rua que estava quase vazia. Poucas pessoas caminhavam nela. Nessa mesma rua, havia um rapaz correndo. Ele tinha os cabelos curtos e negros, os olhos eram da mesma cor, a pele era branca e usava um casaco moletom cinza. Usava óculos e parecia estar desesperado. Corria de algo que estava lhe assombrando e as pessoas ao redor não sabiam bem o que era. Foi notado que uma mulher de cabelos longos e escuros, com escamas de cobra e uma cauda gigante de cobra estava rastejando atrás desse rapaz. A mulher usava uma camiseta de manga curta cor amarela e seus olhos eram amarelos também. As pessoas ficaram assustadas ao ver aquela mulher que tinha o corpo metade cobra. Fora o corpo estando dessa maneira, a mulher também tinha garras e dentes afiados. Ela se movia rapidamente na direção do rapaz que corria desesperado.
Enquanto corria, ele decide entrar em um belo para poder se esconder daquela mulher, no entanto, não funcionou. Ela o percebe naturalmente e continua rastejando na direção dele.
— "Droga! E agora? O que eu faço?" — Pensa o rapaz.
Ele acaba se deparando estar sem saída. Havia uma cerca de arame e ele não sabia o que fazer. Não tinha como pular, a cerca era muito alta. Ele até tentou, mas não fez muito esforço ou iria se machucar.
Virando-se para trás, ele vê a mulher cobra se aproximando.
— Anchin, por que terminou comigo? Por que eu tenho essa mutação horrível? — Indaga a mulher cobra.
— Kiyohime, você é um monstro. Eu não quero namorar com um monstro! — Responde Anchin.
— Mas você não se lembra dos nossos momentos juntos? Nós fizemos tantas coisas. Fomos a parques de diversões, fomos a cinemas, assistimos vários filmes e séries juntos e mesmo assim, você não me ama por causa do seu preconceito comigo?
— Kiyohime, por que você mentiu para mim? Poderia ter contado antes! Poderia ter contado!
A mulher cobra não disse nada. Sentiu-se perturbada com a situação em que ambos se encontravam.
— Eu não contei justamente porque você iria me odiar. Eu o amo, Anchin.
— O que você é, Kiyohime? Diga-me o que você é!
— O que isso lhe interessa?! — Kiyohime estava irritada agora. Estava sentindo que aos poucos não tinha mais o amor que tinha antes em Anchin.
— Isso importa! Eu posso até mesmo ajudá-la!
— Ajudar no quê? Você me acha uma aberração por acaso?!
— Eu não quero namorar uma mulher que se transforma em uma cobra!
Kiyohime agora estava irritada e Anchio percebeu isso. Ele fica um pouco intimidado e recua mais do que poderia ser permitido, se não fosse pela cerca.
Quando Kiyohime ia atacá-lo com uma de suas garras, ela sentiu um frio na mão e ao olhar para a mesma, viu que estava congelada.
— Mas… O que significa isso? — Indaga Kiyohime.
Quando ela e Anchio olharam para a cerca na parte de cima, estavam os nossos heróis, Maruyles e Hikari. A ruiva parou na frente de Anchio, com a intenção de fazer sua guarda. Maruyles estava em posição de luta, ao mesmo tempo que se equilibrava na cerca.
— Quem são vocês? — Indaga Kiyohime.
— Isso não importa para você, apenas viemos defender esse rapaz de você. — Responde Hikari.
Maruyles mantinha os olhos em Kiyohime. Apesar de estar na aparência de cobra, ela era muito bonita. Não deixava de reparar isso nela.
— Vocês não são páreos para mim. — Ela abre sua boca e lança uma gosma, onde Hikari, no reflexo, joga uma flecha em chamas, que teria explodido com a gosma.
Maruyles solta um raio de gelo com a espada e Kiyohime gira rapidamente seu corpo, tendo criado uma defesa espetacular sem truques, o que surpreendeu os três.
— Parece que ela sabe lutar. — Disse Hikari.
— Imaginava isso. — Afirma Maruyles. — Proteja o rapaz. Deixe ela comigo. — O brasileiro pula bem alto e corta o ar, criando estacas de gelo.
Kiyohime afunda suas mãos no chão e aparecem três serpentes gigantes que recebem o golpe e morrem.
Maruyles para na cerca e volta a pular, agora na direção de Kiyohime, onde esta dá uma palmada no rapaz, fazendo ele se bater na parede.
— Maruyles! Você está bem? — Indaga Hikari, que ficou preocupada. Ela prepara uma flecha para ser atirada, mas Maruyles aparece na sua frente de uma forma muito rápida, onde era impossível vê-lo.
— Eu disse para deixar essa situação comigo. — Disse Maruyles.
— Que orgulhoso que você é. — Responde Hikari e deixa apenas a flecha pronta para ser atirada. Não iria mais atirar em Kiyohime.
Maruyles parte para cima. Ele concentra um poder de gelo na lâmina de sua espada e corta o ar, tendo lançado várias lâminas. Kiyohime invoca várias serpentes que recebem os golpes e em seguida, ela solta uma serpente pela boca, onde a mesma vai na direção do brasileiro. Este aponta sua espada a tempo e congela a serpente, tendo feito ela ficar fora de combate.
Maruyles para de pé no chão. Estava tendo um pouco de dificuldade em enfrentar Kiyohime. Ela se mostrou competente quanto a isso, era fato.
— "Ela sabe se defender muito bem. Não tem muita versatilidade em um combate, mas consegue usar aquilo que já tem para manter a luta nesse momento."— Pensa Maruyles.
Ele decide avançar, depois de ter feito uma breve reflexão. Teria cortado o ar para gerar um raio de gelo, que mais parecia uma onda. Kiyohime percebe isso e decide ir para baixo da terra. Maruyles para no chão e fica atento.
— "Ótimo. Agora tenho que saber para onde será que ela foi". — Pensa o brasileiro, que já tem algo em mente. — Hikari, cuidado!
A garota se mantém atenta e ela percebe que o chão estava se desmontando. Ela pega Anchin, que já não entendia o que estava acontecendo e ambos pulam para o alto. Kiyohime quase pega Hikari, quando vê esta fugir, pulando de prédio em prédio.
Maruyles decide fazer o mesmo. Ele finca a espada no chão e uma brisa de gelo gira ao seu redor, onde acaba sumindo.
Kiyohime ficou mais irritada ainda. Tinha que encontrar Anchin de alguma maneira. Por sorte, ela sabia usar seus sensores de cobra. Estava satisfeita, pois Anchin e as pessoas com quem ela lutou não iriam escapar dela.
Maruyles, Hikari e Anchin param em um beco que estava mais longe do que onde foi que Maruyles enfrentou Kiyohime.
Anchin estava ainda sem entender do que se tratava tudo isso. Ambos notam essa estranheza que ele tinha e não havia outro jeito senão explicar para ele quem eram e por que tinham o ajudado.
— Certo, vocês conseguiram me salvar de minha namorada que quer me matar, mas quem são vocês? — Indaga Anchin, que estava sem entender as vestes de ambos.
Maruyles e Hikari se olharam. Não tinha outra alternativa a não ser contar para ele o que estava acontecendo, ou melhor, quem eles eram.
— Bem, parece que não há outro modo senão contar a você. Sou Maruyles Bach e esta é Hikari Murakami. Nós somos hirous, guerreiros que protegem o mundo de qualquer meio de desequilíbrio entre algo que é real ou irreal para os humanos.
— Sim, nesse caso, isso tudo o que aconteceu era irreal para mim. — Responde Anchin, que estava desesperado nesse momento. Era nítido isso. Ele não estava acostumado com tudo que estava acontecendo. Nada mais justo do que contar a ele a situação em que se encontrava.
— Bem, quem era aquela mulher cobra? — Indaga Hikari, cruzando os braços.
— Ela é minha namorada, ou melhor, era.
— Por qual motivo terminaram?
— Mas porque precisam saber? O que isso vem ao caso?
— Dependendo do que você fez para ela, pode ser a causa dela agir assim.
— E então?
— Olha aqui, você já está me irritando, sabia? Com esse jeito arrogante seu. Ou fale direito conosco ou eu…
— Calma, Hikari. Deixe comigo. — Responde Maruyles, que pousa a mão no ombro de sua parceira. — Bem, nós precisamos saber a causa do término para que tenhamos uma noção do que está acontecendo. Entende?
Anchin parecia entender agora.
— Certo. Desculpe, é que é tudo tão novo para mim.
— Sim, sim, não tem problema. — Responde Maruyles. — E então? Conte-nos a causa dela estar lhe perseguindo.
— É que eu quis terminar com ela, depois que ela me contou que não é uma humana. Ela fez isso depois que me salvou de alguns assaltantes. Fiquei assustado com aquilo e ela disse que estava tudo bem, mas aquilo me pegou de surpresa. E se viesse a acontecer de novo?
— Você é um m*l agradecido mesmo. Por que terminar com ela, sendo que ela salvou sua vida, seu…
— Já chega, Hikari! — Disse Maruyles. — Bem, e o que vai fazer agora?
— Tentar fugir dela, porque eu sei que está irritada comigo.
— Você a magoou, sabia? E essa mágoa dela virou ódio.
— Eu sei.
Maruyles não tinha vontade de ajudá-lo, mas como era dever de um hirou proteger os humanos de qualquer ameaça, não somente humanos, como outros seres irreais para nós, não tinha outra alternativa senão fazer isso.
— Precisamos pensar em algo para que ele não venha a sofrer com um ataque daquela mulher de novo. Alguma ideia, Hikari? — Indaga Maruyles.
— Nenhuma e por mim, eu não o ajudava, mas sou obrigada. — Responde Hikari.
Anchin parecia interessado nessa vida de hirou. Ele indaga:
— O que exatamente faz um hirou?
— Bem, nós protegemos qualquer um de qualquer ameaça. — Responde Maruyles.
— Como se fossem super-heróis?
— Mais ou menos isso.
— E existem vários tipos?
— O que quer dizer?
— Bem, eu queria saber se existem vários tipos de hirous. Eu vi que você é manipulador de gelo e você é manipuladora de fogo. Existem hirous apenas desses dois elementos ou tem mais.
— Bem…
— Existem oito tipos de hirous. — Responde Hikari, vendo que Maruyles estava inseguro se falaria ou não sobre os hirous.
— Mesmo? E quais são?
— Se quer saber, não conto. Temos que pensar em algo para salvar sua pele.
Maruyles pensava em algo.
— Bem, nós não temos muito tempo. Aquela mulher pode acabar nos percebendo antes mesmo de pensarmos em algo.
— Temos que ficar atentos no chão. — Disse Hikari.
Anchin olha para o alto e vê uma escadaria que fica nas janelas do prédio.
— Olhem. Podemos ficar por ali no momento. — Disse Anchin, apontando para o alto.
Maruyles e Hikari pareciam ter gostado da ideia. Ele sobem aquela escada e buscaram não ficar muito alto.
— Aqui está bom. Aquela mulher pode acabar nos percebendo. — Responde Maruyles.
Não demorou muito a acontecer. Aparece Kiyohime por baixo da terra, junto com várias serpentes.
— Mas… O que significa isso? — Indaga Hikari, que estava sem entender.
Kiyohime ia atacar Hikari, mas Maruyles olha para a sua espada que brilha e cria um escudo de gelo.
— Droga! Vocês não vão me deter! — Disse Kiyohime.
Maruyles e Hikari perceberam que ela perdeu totalmente a razão. Não sabia quem era quem, a não ser Anchin. Agora estava motivada a se livrar dos dois e tinha que fazer isso. Sentiu Anchin tê-la magoado muito e agora queria se livrar deles para que pudesse fazer o que quisesse com aquele que não é mais o seu namorado.
Kiyohime ataca de forma descontrolada o escudo de gelo de Maruyles, que aos poucos estava perdendo as forças.
— Maruyles, esse escudo não vai durar por muito tempo! Faça alguma coisa! — Disse Hikari.
— Ataque-a com uma flecha de fogo. — Responde Maruyles. Viu que não tinha outra alternativa. Era o único jeito de acabar com essa situação.
Maruyles desfaz o escudo de gelo e Hikari atira uma flecha de fogo, mas Kiyohime se esquiva e ataca os dois, jogando-os para baixo, fazendo com que caíssem no chão, saindo da escada.
Anchin ficou olhando para os dois que estavam caídos. Percebeu que estavam se esforçando para protegê-lo e quando percebe, Kiyohime o pega pela cauda e fala:
— Eu tenho uma surpresinha para você.
Em seguida, ela volta para baixo da terra com Anchin junto.
— Não! — Grita Hikari. — Sua cobra maldita!
— Acalme-se, Hikari. — Disse Maruyles. — Nós vamos dar um jeito de resgatá-lo.
— Quero saber como.
Maruyles estava pensativo. Algo vinha em sua mente.
O vento balança um pouco os cabelos de ambos. Hikari olhava para o seu parceiro, na esperança de que ele tivesse alguma ideia.
— Bem, nós não sabemos o que ela pode ser. Acho que seria melhor perguntarmos para o Mestre Kenji.
— O quê? Mas ela vai torturá-lo. — Responde Hikari.
— Não, não vai. Ela não faria isso, já que o ama, tanto que fez de tudo para se livrar de nós.
— Tem certeza que nada vai acontecer com ele?
— É meio arriscado saber se vai ou não, mas vamos torcer para que não. Agora, vamos ao Templo dos Hirous.
— Está bem. — Hikari se sentiu nostálgica. Fazia tempo que não visitava o Templo dos Hirous e seria bom se fosse ver o Mestre Kenji novamente.
— Muito bem, vamos lá. Aliás, você sabe onde fica? — Indaga Hikari.
— Não exatamente, mas eu sei que se voarmos, tenho certeza que encontraremos o Templo dos Hirous pelo céu, que é onde fica. — Responde Maruyles.
— Minha nossa, faz tempo que não visito o Templo dos Hirous. Nem lembrava que ficava flutuando no céu por aí. — Disse Hikari.
Maruyles dá um meio sorriso e fala:
— Muito bem. Vamos nos apressar.
Sua espada brilha e aparece um grifo de gelo.
— Você vem? — Indaga Maruyles.
— Não, obrigada. Eu tenho o meu próprio. — Responde Hikari e suas flechas brilham. Formaram uma fênix e a garota monta na mesma.
— Maneiro. — Disse Maruyles, impressionado.
Logo, ambos começam a voar. Estavam indo em direção ao Templo dos Hirous. No caminho, Maruyles explicou a causa, que era perguntar para o Mestre Kenji o que Kiyohime era e como poderiam resolver essa situação com o seu ex-namorado que foi sequestrado pela mesma.
— Só espero que o mestre saiba a solução para esse problema. — Disse Hikari.
— Não se preocupe. Tenho certeza que ele saberá. — Responde Maruyles. — Acho que vai levar algumas horas até encontrarmos o Templo dos Hirous.
— Eu já imaginava isso. — Responde Hikari, que não parecia nem um pouco surpresa com a afirmação de seu parceiro.
Logo, naquela noite, eles voavam sobre Tóquio em busca do Templo dos Hirous.