Encaro a criança que devora a segunda porção de batata, comendo ao lado arroz e feijão, algo que parece normal, mas o brilho nos olhos dele.
- Eu amo batata frita! - Ele sorri, fica me encarando agora, ele está parecendo cansando, depois de tanto pular no brinquedo.
- Vá mais devagar garoto, você vai se entupir disso e vai dar uma dor de barriga enorme.
- Papai, eu estou prontinho - Eu dou uma risada, sabendo que ele se parece mesmo com Roman, me lembrando tanto meu irmão.
Ele encara a picina de bolinha e as mesas de desenho, na área de recreação infantil da cantina.
- Aposto que você está de olho naquele canto não é? Você deve não funcionar a base de pilhas.
- Batatas tia Rana, batatas - Eu nem tento corrigir, já havia ganhado tantos nomes desde que ele está tentando falar meu nome.
- Deixo o senhor ir se comer um pouco da salada e da comida, o que me diz?
- Eu não gosto tanto de salada de cenoura.
- Bom para as vista - Falo, comendo um pouco e dando um exemplo, ele continua a comer até limpar o prato, deixando só a vasilha pequena ao lado dele, com algumas poucas batatas.
- Pronto, posso ir desenhar agora? - Scott balança a cabeça, o garoto pega a vasilha com as batatas restantes e vai pro canto das crianças, eu observo junto de Scott, vendo que ele é um bom garoto, tímido e as vezes retraído pra falar algumas coisas, mas animado e com uma energia sem fim.
- Ele é um bom garoto.
- Ele é, está gostando da cidade, espero que ele não sinta tanta falta da antiga escola e dos colegas.
- Nessa fase as adaptações são mais fáceis. Vai mesmo fixar raízes aqui?
- Sim, eu preciso, ele ama viajar comigo, mas quando não pode ir fico sem jeito e até receoso de deixar ele por três ou até uma semana com a babá, quando não deixo com a baba a mãe pede, mas eu deixo a babá junto por precaução.
Penso na conversa breve que tive com a esposa, então penso em falar sobre isso, sobre a relação atual dela a respeito deles, agora ajudaria, visto que ele já começou o diálogo na praça e me falou coisas importantes, eu não era juiz, mas não julgava ela e nem nada do tipo, a história era deles e eu sabia que só cabia ela e ele, que envolvia um garoto.
- Acha que ela consegue recuperar a guarda.
- Não, não mais,se fosse assim que perdeu, talvez sim, poderia ter alegação, mas agora ela teve um tempo ausente e ele se sente melhor na minha presença, ela é rígida e já vi ela fazendo a cabeça dela, falando que eu estou afastado ela dele, que graças a mim ele não está com ela.
- Ela pensa em voltar com você, não é?
- Sim, pensa, na verdade durante o último ano ela tem feito isso um inferno, se fazendo de boazinha as vezes é as vezes de malvada. Me faz pensar onde ela estaria disposta a chegar, mas eu não pago pra ver e nem quero, Theo está no meio e eu sei que ela pode fazer algo muito r**m.
Respiro fundo.
- Tipo o que?
- Você já me perguntou sobre a cicatriz, eu fiz ela quatro anos atrás, pouco depois de pegar a guarda de Theo, em uma noite ela foi até a minha casa, ela estava tentando tirar ele da minha casa, ameaçou a babá e até se jogar da sacada com ele nos braços, ele era apenas um bebê e eu segurei ela pra não fazer m***a, a babá pegou ele e saiu correndo, eu fiquei e segurei ela, acabei caindo e ela veio pra cima, com um vaso de vidro ela me acertou, ele quebrou e fez o corte, por muito pouco eu não fico cego. Foi uma noite assustadora.
Abro e fecho a boca.
Bem.
Isso tira coloca de lado todas as coisas que pensei antes, tudo mesmo.
Não pensava que era isso ou que tinha acontecido dessa forma.
Uma vez, antes de minha mãe ser diagnosticada, quando ela era consciente total, ela disse uma coisa importante sobre homens, que muitas vezes a forma que eles falam sobre ex.
- Você fala de forma tão simples,sem pesar e nada, como se fosse apenas uma história hoje.
- Eu lembro de cada coisa que ela fez, que ela passou e me fez passar, mas eu não posso odiar ela, posso não gostar e não querer ela perto, mas também não vou falar isso, muito menos m*l dela. Meu filho veio dela, mas se eu pudesse mudar isso, eu mudaria, não mudar Theo, mas a mãe dele.
Respiro devagar, analisando e gostando mais dele por isso, veja, se eu for assumir algo com esse homem bom, eu vou precisar saber das coisas.
- Ela veio falar comigo hoje a tarde - Ele se mexe, se encostando na cadeira e me olhando.
- Sinto muito se ela te ofendeu, de verdade Ranya, eu sinto muito!
Vejo a forma que ele se desculpa com antecedência, como se aquilo fosse algo que ele poderia esperar dela.
Aquilo me deixa acanhada.
Só me faltava ser do tipo perseguidora.
Céus.
- Na verdade foi simpática, disse que não tinha a guarda do filho desde que vocês se separaram, que não não conseguia ficar tanto com o filho, disse que se o caminho estivesse livre você poderia voltar para família dele.
Ele se inclina para frente.
- Existe um motivo pra não ter falado nada sobre Theo, ele é uma parte de mim, mas desde que eu me separei dela, mesmo ela não ligando pro filho e usando esse discurso, não tem um relacionamento meu que deu certo, parece que ela sabe como fazer ou falar pra todas irem embora.
- Ela é do tipo perseguidora.
- Isso não é nem de perto o que ela é, na verdade ela sempre assustou as mulheres com quase o mesmo discurso, apenas uma vez ela ameaçou uma de forma que gerou até processo.
- Isso é bom ser falado.
- O que disse pra ela?
Eu dou um sorriso, suspirando fundo.
- Eu disse exatamente essas palavras Scott, eu vou conversar com ele, antes de ver ela e Theo, eu não sabia de nada, mas agora estou ciente de mais coisa sobre você. O que temos é recente, não temos algo sério ainda, mas posso garantir que o que eu falar com ele ou decidir, não vai ser pra atrapalhar a vida de uma criança, nem a minha, nem a sua e nem a dele.
Vejo ele abrir um sorriso.
Parece feliz com a minha resposta.
- Eu só fiz isso pra fazer você gostar de mim antes de falar sobre isso, soube que você estava também em um momento r**m, que se te falasse os problemas você não iria aceitar nem sair comigo.
- Isso é coisa da vida, já vi coisa parecida na minha família mesmo, mulheres são assim as vezes, mas relaxa, isso pode acontecer.
Pego o suco e bebo um pouco, erguendo o olhar até o garoto, vendo ele sentado, segurando um lápis e uma batata.
- Está com o anel?
Pego a bolsa e tiro a caixa, deslizando sobre a mesa.
- Se algum dia tiver problemas com uma mulher, não faça como hoje, não tinha nem mais onde enfiar tanta flor ou ver tanta cosia. As pessoas devem ter pensado ou tentado imaginar a m***a que você tinha feito.
- Espero que agora você me entenda - Ele pega o anal. - Por que eu quero você, quero agora e depois, gostei de você desde a primeira vez que te vi e falei com você, não sei explicar direito, apenas me apaixonei e agora estou pedindo para você ser a minha namorada.
Ali eu precisei pensar sobre tudo, conhecia o homem de negócio, agora o pai e até ele mesmo, tinha mais coisas a se conhecer de uma pessoa, mas o que eu já conhecia me dava um princípio.
Eu se aceitasse ele precisa ficar de boa e confiante, sem medo, tinha uma parte dele pequena e doce, que parecia que Scott estava pronto pra levar uma bala pelo garoto.
Aquilo era bom.
Eu sempre pensei quando mais nova se eu arrumasse um cara com filhos, agora tem um bem na minha frente.
Vamos, minha tia Bete fez a vida da atual do ex-marido um inferno, até cortar o cabelo dela havia cortado, havia ameaçado e tudo, envolvido até os filhos, só parou quando a garota engravidou, ela viu que não tinha volta, que o ex não iria voltar, além de vários processos e divida após divida.
Eu pensava em um dia ter uma família e um filho, mas Scott já vinha com um. E se ele não quisesse mais e mais pra frente desse relacionamento eu quisesse?
Era uma dúvida.
- Você pensa em ter mais filho - Ele não pensou, apenas balançou a cabeça. - Bom saber disso agora.
- Está pensando nisso já?
- Mulheres são precavida. Mais uma pergunta, tem a chance dele não se der bem comigo.
- Ele vai demorar pra confiar em você, vai ficar meio assim, pensando que você pode não gostar dele, mas ele vai se abrir em algum momento, sem receio. Além disso, ele sabe que eu gosto de você, ele me perguntou várias vezes sobre uma namorada, eu sempre negava, até algumas semanas atrás, depois que conheci você. Ele sabe tudo sobre você.
- Uma forma de preparar o terreno?
- Então acho que isso pode dar certo, mas vamos ser sempre transparentes, verdadeiros, nada de esconder as coisas.
- Pra mim está perfeito.
Eu ergui a mão, até ele pegar ela, colocar o anel no anelar direito, dando um beijo de final.
- Agora você é minha namorada.