CAPÍTULO 4 - RANYA

2172 Words
Desço do carro e encaro a praça iluminada e até com um movimento bom, noto também que tem um parquinho que a tempos não via na cidade, com alguns brinquedos e crianças, em volta posso ver as barracas que acompanham o lugar, me pergunto se estou no lugar certo. Arrumo o short e depois a blusa, segurando a bolsa e me mexendo, tentando ver Scott. Quando não o vejo, pego o celular e paro perto de um banco e um pula-pula, mando uma mensagem e espero que ele responda, matando assim minha ansiedade. A conversa com a ex-esposa ainda está na minha cabeça. Decidi falar com ele, saber dele, apenas aí tomar minha decisão. Scott havia me conquistado de uma forma aconchegante, que me transmitia algo bom demais pra ignorar. - Então a senhorita decidir vir - Quando eu me viro tenho uma surpresa, vendo Scott com uma calça jeans, boné escuro e uma camisa azul. Algo que não imaginava dele, um casual tão discreto, vejam, a maioria das vezes ele estava vestido de forma social, sério e obstinado, agora estava tranquilo, visual totalmente diferente do que eu poderia pensar em vê-lo. Mas, entre tudo isso, ele ainda continua lindo e maravilhoso, do jeito que me agradava, mas sem a roupa. - Que bom que você está aqui. - Eu precisava vir, acho que mesmo com tudo, quero saber onde vai dar, mas - Eu abro a bolsa e ele me impede de continuar. - Espera, não me devolve agora, ainda não. Eu sei que se não der certo esse encontro, eu não vou me perdoar se não tiver ao menos tentado. - Scott... - Vou tentar isso, eu pedi três encontros pra você. Esse vai ser o mais importante pra mim, ouviu? - Posso saber o motivo? - Ele dá um sorriso, antes que alguém consiga falar algo, até ele mesmo, duas mãos pequenas agarram a perna dele. Dou um passo para trás, vendo o mesmo garoto da casa dele,cabelos pretos e baixo. Se eu me lembrava bem ele tinha quatro anos, era carismático e animado. - Deixa eu ir de novo papai, por favor, por favor - Ele sorri, se mexe, ali vejo que o garoto tem os olhos do pai, até a forma de encarar alguém, Scott se abaixa, olhando para ele. - Vamos fazer assim, vamos conhecer a nossa convidada da noite e fazer uma nova amizade, depois nos três podemos fazer algo, o que me diz? - O garoto se aproximou da orelha dele, eu custei enteder o que ele iria fazer, mas vi ele falar algo baixo pra Scott, que abriu um sorriso em seguida e me olhou diretamente. - Sim, essa é ela, meu filho. O garoto ergueu o olhar, se afastou do pai e se aproximou de mim, ficou na minha frente e ergueu o olhar, me analisando minuciosamente, fiquei parada, sem saber o que fazer ou falar. Era a primeira vez que era apresentada para uma criança dessa forma. - Eu me chamo Theo, tenho quatro anos e sou filho do meu pai, Scott. Abri e fechei a boca, sem saber o que fazer, geralmente eu não estava em contato frequente com crianças, então não sabia como lidar com elas e nem nada do tipo, suspirei fundo. Fiz o que pensei ser bom pra ele, me abaixei e encarei ele, os olhos de Scott bem diante mim. - Eu sou Ranya, tenho vinte quatro. Anos e sou filha da minha mãe e do meu pai. Ele se inclinou e beijou minha bochecha, depois suspirou fundo, num tom leve. - Gostei da senhora, meu pai escolheu muito bem, agora pode dizer pra ele me deixar brincar, deixo vocês me olharem se quiserem. - Filho - Ele sorriu. - Se a senhora quiser. - Tudo bem, acho que isso não vai ser um problema, eu também posso ver se pulo também, o que me diz. - A senhora é grande, gente grande não pode ir - Dou um sorriso. - Quem disse isso? - Vamos, vamos levar esse garoto pra pular e depois vamos comer uma coisa bem gostosa. Fico de pé, o garoto se move e Scott se aproxima, erguendo a mão na minha direção, a mão que sobre dele o garoto pega, vejo um Scott mais tênue, mas correto e diferente. Acho que gosto dessa imagem, mesmo que pareça complicada. - Posso escolher de novo? - Se escolher algum lugar com comida de verdade, pode sim. - Batata frita é gostosa. A cena me lembra meu irmão quando mais novo, que vivia pedindo hambúrguer no Mc, até ele conseguir um lugar no centro, onde você tinha comida, mas havia uma parte aberta só de batatas, ele colocava a batata baixo e o pouco da comida sobre elas, escondendo da mamãe e comendo toda a batata que conseguia. - Tem a cantina, podemos ir, faz tempo que não tenho um jantar lá - Lá tem batata? - A pergunta sai do garoto parecendo valer 100 mil dólares, como se ele fosse gostar daquilo mais que tudo, até mais que o passeio, apenas pela batata. - Todas que você puder comer. - Tem comida? - Sim, tudo que você pensar. - Bem, papai pode levar a gente - Balanço a cabeça e ele também. - Vamos nesse lugar então, mas que tal você aproveitar e pular agora? O garoto se soltou e foi direto para o brinquedo, ficamos na frente dele, vendo ele começar, sorrindo de orelha a orelha. Scott me puxou pela mão, até nós sentar em um banco. - Esse lugar tem mesmo toda a batata que você pode comer? - Faz alguns meses que não vou, era o restaurante preferido do meu irmão, comida maravilhosa. - Vão ter um prejuízo essa noite - Ele me encarou por alguns segundos, até encarar o filho. - Obrigada por ter vindo, por um segundo achei que iria deixar tudo pra lá. - Achei certo vir, queria saber como chegamos aqui e até tentar resolver tudo. Eu gosto de você. - Eu também gosto de você, bastante - Ele dá uma risada. - Você está sendo a primeira mulher que meu filho conhece como minha namorada, isso é especial pra mim. - Quer me contar algumas coisas agora? - Eu não falei sobre Theo com medo de você me rejeitar. Queria que você me conhecesse, depois que eu te desse aquilo entrasse no meu mindinho. - Sabe que informações como ter um filho Scott, deve aparecer logo, me senti enganada e até um ponto uma traíra de m***a quando vi a mulher e ele. - Eu imagino que sim. Theo nasceu do meu primeiro casamento, a mãe dele é Catarina, conheci na universidade, ela fazia uma coisa e eu outra, mas nós conhecemos e nos envolvemos, eu era bem conhecido e na época tinha muito ao oferecer. Só fui conhecer Catarina durante o tempo após o casamento, quando ela é eu já havia nos casados. - Devo pensar que essa história vai ser pesada? - Não é simples Ranya, digamos que aquele casamento não era nenhum pouco bom pra nenhum dos dois. Brigávamos, ela exagerava muitas das vezes pra conseguir o que queria, era egoísta e gananciosa, sempre queria mais e mais, gastando fortunas em festas, foi a época mais agitada e desgovernada da minha vida, onde eu trabalhava pra ficar longe de uma pessoa. As coisas eu até pensei que iriam melhorar com a chegada do bebê, eu quis ele desde o começo, sem saber se era menino ou menina, eu sabia que eu iria querer muito aquele bebê, foi aí que Catarina parece que dificultou as coisas, passou a gestação toda me evitando, falando que ela não queria estar grávida, que havia ficado f**a e tudo mais, mas eu sempre estava do lado dela, ela deixou pra montar as coisas de Theo só na última semana, sabendo que antes ela sempre mentia que já estava tudo pronto, eu sabia que o quarto estava pronto, eu mesmo montei essa parte e esperava ela terminar de colocar as coisas, mas só foi na última semana de gestação dela, acho que ela fazia isso pra poder ter tempo, toda viagem que eu fazia ela queria ir, dizia que não atrapalhava. Na época eu tinha um amigo, amigo de longa data, amigo da escola, o Jamal, ele era meu advogado jurídico e meu bravo direito, ele também sempre viajava comigo. - Scott. - Me deixe terminar. Uma semana antes do nascimento previsto de Theo, eu precisei viajar, dessa vez fui sozinho, Catarina não foi e Jamal também, nunca vi nada de incomum, ela até dizia que não gostava dele, fazia um papel ridículo. Naquela viagem eu consegui terminar a tempo, tinha medo de não chegar pra ver meu filho nascer. - Então você voltou e pegou os dois juntos - Conclui. - Sim, na casa que havia construído pra morar com meu filho, na nossa cama. Sabe, eu sempre soube que Catarina era uma pessoa amarga e r**m, mas sabendo que ela gostava da vida que tinha, me trair era a última coisa que eu pensaria dela, ela sabia o que faria se isso acontecesse. Ela me traia desde o namoro da universidade, com o mesmo cara, nunca quis saber se teve mais alguém, mas ela me magoou ainda mais quando fez isso com meu filho dentro dela, grávida, me colocando a prova até de me perguntar se aquele bebê era mesmo meu, sabendo que se não fosse eu perderia tudo. - O que você fez? - Fui fazer apenas depois de dez dias, depois que meu filho já tinha chegado ao mundo e eu saído da cadeia, fiquei preso por dez dia até ser decidido a fiança, perdi o nascimento do meu filho por ter batido até o amante dela não aguentar, esquecendo que ele era um amigo e tudo mais. A história me deixa com uma sensação tão r**m, como se pudesse sentir o que ele sentia. - Sinto muito. - Eu também, fiz o teste de DNA e saiu rápido, lá falava que eu era mesmo pai dele, que eu pelo menos podia ficar feliz. Só que aí começou a minha luta. - Você se separou dela? - Ele balançou a cabeça. - Sim, junto com o pedido de guarda do bebê, não por raiva dela ou nada do tipo, ele ficou com ela durante sete meses, o tempo exato que levou pra correr nosso divórcio, onde ela tento me tirar tudo que podia, até chegar no ponto de usar Theo, ficando complicado as coisas e me irritando pra c*****o - Ele faz uma pausa. - Até na noite de trinta de março, onde eu fui até o apartamento que ela estava morando, vendo meu filho chorando em um berço sozinho, sem ninguém pra ajudar, ele era um bebê, um bebê que estava em um apartamento sem babá ou nada, enquanto a mãe sabe-se lá onde foi. - Isso na está certo. - Me doeu ver ele abandonado naquele jeito, roupas molhadas e sujas, sabe, mesmo com a traição eu esperava que ela fosse uma mãe boa, daquelas que liga para algo além de si mesma, mas não, ela ligava pra ficar com pessoas, ir em festas e conseguir status sociais, dinheiro e tudo mais. Depois que largou de mim aproveitou o dinheiro do divórcio e foi viver a vida que ela sempre quis,mas se esqueceu que tinha uma criança, que eu fiz questão de tomar dela. - Sempre ouvi que pai não pega filho de mãe. - Mas ela não era mãe, ela foi melhorar cuidando dele faz um ano, quando ela entrou em um golpe e perdeu cada centavo dela, agora tenta voltar para o que tínhamos, mas eu não gosto nem dessa ideia, mesmo sabendo que ela pode fazer coisas ruins pra conseguir o que quer. Até se fazer de boa mãe e tentar mais uma vez pagar a guarda dele, mas sem recursos ela nem chega ao tribunal. Tem dois anos também que ela só aparecia no aniversário dela, que ele chamava ela e ela apenas ignorava. Doeu isso também, na verdade uma coisa que você aprende com um filho é sobre a dor, sabe, eu vou sentir por ele. Minha vida inteira minha mãe esteve comigo, ver ele sem isso me fez ver a dor dele e pegar pra mim, jurando pra mim mesmo não deixar ele se sentir m*l por isso, hoje somos filho e pai, mas somos amigos, ele pode estar tendo um dia r**m, mas ele chega e fala comigo, ele pode ter um problema, mas ele me espera ou me liga, ele aprendeu a ser esperto e a viajar comigo quando dava, ele tem uma cabeça boa, mas quando se trata da mãe, ele te um receio grande, que nem eu sei o que fazer nesses momentos. - Talvez faça como minha mãe fazia quando papai morreu, apenas esteja ao lado dele. Scott sorriu, tão terno. - Tento fazer isso todos os dias da minha vida.
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