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1412 Words
Ava sabia. Vitor jamais deixaria Gael reassumir o trono. Fingisse o que fosse à mesa de jantar, seus olhos disseram a verdade: o retorno de Gael era uma ameaça. E para alguém como Vitor, ameaças não eram toleradas. Eram esmagadas. A mente de Ava inevitavelmente, voltou-se para Gael. Sete longos anos desde a última vez que o viu. A tarde em que ele interveio e ordenou que não a matassem, mas a condenou a uma vida de miséria. Ele poderia tê-la salvado. Poderia ter olhado para ela e visto a verdade, independente de qualquer coisa ela era inocente. Mas, em vez disso, apenas selou seu destino como a indesejada, a filha dos traidores. Agora ele estava voltando. Ela não conseguia evitar de se perguntar… será que ele tinha mudado? Ou será que continuava o mesmo lobo frio e distante que preferiu não acreditar nela quando ela gritou que os pais eram inocentes? Por um momento, Ava se pegou pensando se Gael algum dia sentiu falta dela. Ou, quem sabe, se ele já tinha encontrado sua companheira. A ideia lhe causou uma pontada estranha no peito. Mas Ava tinha um problema mais sério para pensar no que a ameaça que Vitor era para Gael, apertando as mãos ela diz: “Gael não deu a mínima para mim que ele se dane” O problema é que Ava naquela noite, havia rosnado. Encostada na parede, ainda sentia a vibração da fera dentro dela — algo antigo, abafado há anos, mas que agora forçava caminho como uma rachadura em vidro grosso. Ela não entendia como era possível. A poção ainda devia estar ativa. Sempre funcionava. Sempre. Mas agora… havia uma pulsação estranha sob a pele. Ardente. Viva. Ava se curvou, pressionando o estômago com a palma fria da mão. A dor queimava por dentro, como se algo estivesse sendo arrancado do fundo de suas entranhas. "Fome", murmurou para si mesma. "Só isso." Mas sabia que não era. Antes que pudesse pensar mais, a porta se escancarou. E então, Vitor entrou. Ele estava furioso. Vitor a encarava com seus olhos sombrios. Toda vez que ele a olhava, Ava sentia algo parecido com dor física, como se sua própria existência fosse um incômodo palpável para ele. Para Vitor, ela não era nada além de uma lembrança dolorosa. Seu maxilar estava travado, as mãos fechadas em punhos ao lado do corpo. O ódio que irradiava dele era sufocante. Então, ele soltou um palavrão, o tom rouco de sua voz carregado de frustração e fúria contida. Por ele, Ava já estaria morta há muito tempo. Se dependesse apenas dele, teria colocado um fim em sua existência no instante em que pôde. Mas Gael não deixava. Mesmo depois de tantos anos fora do bando, todas as vezes que Vitor tocou no assunto, a resposta sempre foi a mesma. "Não. Ela deve permanecer viva." Sempre a mesma resposta. Sempre a mesma recusa. E isso o consumia por dentro. Ele inspirou profundamente, expirou lentamente e então soltou, quase como um sussurro carregado de veneno: "Por que você simplesmente não morre?" Ava sentiu um arrepio percorrer sua espinha. "Por que não se deita naquele quarto escuro e morre?" A fúria subiu de repente, cravando garras invisíveis dentro de Ava. Uma onda avassaladora, primitiva, que fez cada célula de seu corpo vibrar. Ela sentiu seus olhos arderem, e por um instante, sua visão pareceu se ajustar para algo diferente. Seus olhos se fixaram no pescoço de Vitor. E então, um brilho vermelho profundo os atravessou. O rosnado veio antes mesmo que ela pudesse pensar. Baixo. Profundo. A queimação em seu estômago aumentou de forma quase insuportável, como se houvesse fogo consumindo-a de dentro para fora. Era sufocante. Era como se algo estivesse tentando sair. Mas antes que ela pudesse entender o que estava acontecendo, o som seco do chicote cortando o ar preencheu o escritório. E a dor veio. A primeira pancada atingiu suas costas com força total. Ava gritou. O impacto a fez cair de joelhos. E Vitor apenas olhava, com um sorriso c***l nos lábios. O sangue quente começou a escorrer pelo r***o aberto em suas costas. Ela tremia, sentia cada músculo de seu corpo se contrair com dor, mas se recusava a lhe dar a satisfação de ver seu sofrimento estampado em palavras. Ela ouviu o som do couro cortando o ar antes de sentir o próximo golpe, que atingiu seu ombro esquerdo, queimando como fogo líquido. O terceiro veio logo em seguida, pegando-a de lado e tirando o pouco fôlego que ainda restava em seus pulmões. Seu corpo já estava tão machucado que o contato do ar frio contra as feridas era uma tortura por si só. Ela tentou engolir a dor, tentou se agarrar a qualquer resquício de força que ainda tivesse, mas sabia que seu corpo estava cedendo. Cada golpe era mais c***l que o anterior. O chicote deslizava pela sua pele, deixando marcas profundas e rasgando a carne sem piedade. Os fios de couro embebidos em sangue chicoteavam sem descanso, e a cada nova investida, Ava sentia seu mundo se tornar um borrão de dor e escuridão. Ava não sabia por quanto tempo aquilo durou. Minutos? Horas? . Seu corpo estava tão encharcado de sangue que ela m*l conseguia sentir onde começavam e terminavam as feridas. Até que ela finalmente cedeu. Um soluço escapou de sua garganta antes que sua visão e seus sentidos começassem a se apagar. E Seu corpo tombou no chão frio. A última coisa que ouviu antes de perder a consciência foi a voz de Vitor, distante, como se estivesse do outro lado de um túnel escuro. "Levante essa inútil e a joguem no porão." Os ômegas se entreolharam em silêncio, hesitantes. Eles estavam acostumados a ver Ava apanhar, mas nunca daquele jeito. Ela estava tão imóvel que, por um instante, todos pensaram que estivesse morta. "Ela ainda respira?" uma das mulheres perguntou em um sussurro. Um dos lobos mais velhos se ajoelhou ao lado de Ava, pressionando dois dedos contra seu pescoço ensanguentado. "Fraco", murmurou. "Muito fraco." Os outros ômegas trocaram olhares angustiados. Se ela morresse, ninguém choraria por ela. Não haveria velório, luto, nada. Apenas um corpo jogado em algum canto da floresta para ser esquecido. "Vamos logo", sussurrou um deles, olhando ao redor, com medo de que Vitor pudesse voltar e puni-los apenas por hesitarem. Com cuidado, eles ergueram Ava. Seu corpo mole e sem resistência estava frio, o sangue ainda escorrendo pelas feridas abertas. O cheiro metálico impregnou o ar, e os ômegas tiveram que reprimir o instinto natural de recuar. Carregaram-na escada abaixo, descendo até o quarto dela. Eles a deitaram com o máximo de cuidado que puderam, mas ainda assim, um gemido fraco escapou de seus lábios rachados. "Ela ainda sente dor", uma das mulheres sussurrou, ajoelhando-se ao lado dela. Os ômegas sabiam que não deveriam se envolver. Sabiam que ajudar Ava poderia ser considerado traição, mas não conseguiam simplesmente deixá-la ali, largada para morrer. "Rápido", um deles murmurou. Tiraram pequenos frascos de ervas e remédios escondidos entre as roupas e começaram a trabalhar. Com mãos cuidadosas, aplicaram compressas sobre as feridas mais graves, tentando conter o sangramento. Uma das mulheres retirou um pequeno frasco de ungüento cicatrizante e começou a passá-lo sobre os cortes mais profundos. "Isso pode arder", ela murmurou, como se Ava pudesse ouvi-la. Mas Ava não reagiu. Sua respiração estava irregular, seu peito subia e descia de forma tão fraca que os ômegas temiam que ela não resistisse à noite. "Talvez dessa vez ele tenha ido longe demais", um dos lobos sussurrou. A mulher ao lado de Ava engoliu em seco, seus olhos cheios de tristeza. "Se ela não acordar até amanhã… significa que ele conseguiu o que queria." O silêncio caiu sobre o grupo. Nenhum deles queria admitir, mas todos sabiam que Vitor queria vê-la morta há anos. A única coisa que impedia esse desejo de se concretizar era a ordem que vinha de um lugar mais alto, um comando de Gael que ninguém ousava desafiar. Mas e se, dessa vez, Ava não conseguisse lutar? E se, finalmente, ela tivesse alcançado seu limite? Os ômegas terminaram os curativos da melhor forma que puderam. Não tinham tempo para mais. Se Vitor desconfiasse que haviam ajudado, sofreriam as consequências. Antes de irem embora, a mulher mais velha do grupo puxou um cobertor fino sobre Ava, sua mão hesitando por um instante sobre a testa dela. "Se você sobreviver", sussurrou, "talvez um dia isso acabe."
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