A madrugada se arrastava lenta e c***l como um predador faminto. No quarto silencioso e escuro, Ava jazia de lado sobre os lençóis revoltos, os olhos abertos e fixos no teto como se pudessem encontrar ali alguma resposta, algum alívio. Mas tudo o que via eram sombras. O cobertor escorregara até os pés, e a única coisa que vestia era uma camiseta comprida e larga. Não importava. A malha gasta chegava até a metade de suas coxas, e por baixo, ela estava nua. Sua pele parecia arrepiar-se a cada sussurro de vento que entrava pela janela entreaberta. Mas o frio não vinha do clima. Vinha de dentro. Era um vazio. Um tremor contínuo que não vinha da carne, mas da alma. Fechou os olhos novamente, como se isso fosse bastar para afastar as lembranças — mas era inútil. Elas vinham como uma enxurrad

