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1011 Words
O sol m*l havia começado a surgir no horizonte quando o bando Estrela da Noite despertou em polvorosa. A chegada de Gael, o herdeiro do bando, e do filho do rei Alfa era aguardada para aquela manhã, e todos estavam em estado de alerta. Durante sete anos, a liderança de Vitor se impusera com um reinado de ferro e brutalidade, mas agora o verdadeiro líder estava retornando, e aquilo trazia incerteza e medo. Haviam sussurros por toda parte. "Ele realmente vai voltar?" – uma loba de cabelos castanhos murmurou para outra enquanto carregava uma pilha de lençóis para a lavanderia. "Parece que sim" – respondeu a outra, com um brilho hesitante nos olhos. "Você sabe o que isso significa, não sabe?" "Claro que sei. Vitor terá que devolver o comando." Esse era o ponto que mais inquietava os membros do bando. Vitor jamais aceitaria abrir mão do poder facilmente. Os membros do bando continuavam com suas atividades, mas havia um peso no ar, uma expectativa inquietante, como se todos estivessem à beira de um precipício. A cada novo som vindo do portão principal, os lobos erguiam as orelhas, esperando que fosse o anúncio da chegada de Gael. Mas, naquela manhã, outra ausência se fez notar. O café da manhã não estava pronto. Pela primeira vez em anos, Ava não apareceu para preparar a refeição. Vitor, que já estava impaciente com a movimentação do bando, ficou ainda mais furioso ao saber daquilo. Ele estava na sala principal, com alguns dos seus subordinados, quando um jovem ômega se aproximou hesitante. "O café… ainda não foi servido" – murmurou o garoto, a voz trêmula. O ambiente se tornou gélido. Os olhos escuros de Vitor se estreitaram perigosamente. "O que diabos isso significa?" – ele perguntou, sua voz baixa, mas carregada de ameaça. O ômega engoliu em seco. "Ava… não apareceu esta manhã." O silêncio que se seguiu foi cortante. Todos ali sabiam o que isso significava. A surra da noite anterior tinha sido brutal. Era quase um milagre que Ava ainda estivesse viva quando os ômegas a carregaram de volta para seu porão imundo. Vitor levantou-se de súbito, derrubando a cadeira para trás com o impacto. "Maldita inútil!" – rosnou, caminhando a passos pesados em direção à saída. "Eu mesmo vou buscar aquela desgraçada pelos cabelos se for necessário!" Mas, antes que pudesse atravessar a porta, uma voz firme o deteve. "Não faça isso, Vitor." Era Pedro, o Gama do bando. O segundo em comando. Vitor parou, os punhos cerrados ao lado do corpo. Pedro cruzou os braços sobre o peito largo, a expressão séria. "Quer mesmo explicar a morte dela a Gael assim que ele chegar?" As palavras caíram como uma pedra fria no estômago de Vitor. Por mais que odiasse Ava, por mais que desejasse vê-la morta, Pedro estava certo. Gael havia sido claro todos esses anos: Ava devia permanecer viva. Se Vitor a matasse… Gael perceberia. Gael perguntaria. E Vitor teria que responder. Rangendo os dentes, ele lançou um olhar venenoso ao Gama antes de se virar para um dos ômegas que aguardavam perto da entrada. "Vá até o chiqueiro dela. Leve água e comida. A mediquem, se necessário. Mas ela tem que se recuperar." Sem esperar resposta, Vitor saiu da sala, pisando forte, como se o simples fato de ter que manter Ava viva fosse uma afronta pessoal. O Quarto Escuro Duas ômegas desceram os degraus de pedra que levavam ao porão onde Ava estava confinada. O lugar era úmido, frio e m*l iluminado. O cheiro de mofo e sangue impregnava o ar, tornando o ambiente ainda mais sufocante. Ao empurrarem a porta de madeira desgastada, depararam-se com a cena aterradora. Ava ainda estava deitada sobre o colchão velho e sujo. Seus olhos estavam abertos. Mas não era isso que assustou as ômegas. Seus olhos… estavam brilhando em um vermelho profundo. As duas hesitaram à entrada. O que era aquilo? Ava nunca havia manifestado esse brilho nos olhos antes. Sua loba estava suprimida pelo veneno que a obrigavam a tomar… então como aquilo era possível? Mas não havia tempo para hesitações. Ava ainda estava viva, mas m*l respirava. Seu corpo estava destruído. As costas eram a pior parte. O chicote tinha rasgado sua pele em tiras, expondo carne viva e os músculos retesados de dor. O sangue já não escorria tanto, mas as feridas estavam abertas, inflamadas, algumas com pus. Sem a presença de sua loba para ajudar na regeneração, aquilo levaria meses para cicatrizar. Se ela sobrevivesse. A mais velha das ômegas respirou fundo e caminhou até a bacia de madeira onde trazia um caldo espesso feito com feijão e carne triturada. A outra ômega segurava um pequeno frasco de remédios e um cantil com água. "Ava…" – a primeira chamou suavemente, aproximando-se. Ava não reagiu. A outra ômega se ajoelhou ao lado dela e segurou seu rosto delicadamente. Seus olhos vermelhos fitaram-na de perto, desfocados, como se Ava estivesse em outro mundo. A mais velha molhou um pano e começou a limpar os ferimentos com cuidado. Ava não se moveu. Era como se seu corpo já não reagisse mais à dor. A segunda ômega ergueu sua cabeça, pressionando a borda do cantil contra seus lábios ressecados. "Beba" – sussurrou. Por um momento, Ava não reagiu. Então, um som fraco escapou de sua garganta. Ela engoliu. As ômegas trocaram um olhar rápido. Pelo menos isso. A seguir, trouxeram o caldo grosso à boca de Ava, alimentando-a aos poucos. Ela não conseguia mastigar, mas o líquido grosso era o suficiente para dar-lhe algum sustento. Quando terminaram de cuidar das feridas, aplicando ervas cicatrizantes e antibióticos roubados do estoque do bando, as duas se levantaram, observando a loba ferida diante delas. Ava ainda respirava. Mas muito fraco. A primeira ômega suspirou. "Ela não vai sobreviver" – disse baixinho. A outra abaixou a cabeça. "Talvez seja melhor assim." Sem dizer mais nada, as duas saíram do quarto escuro, fechando a porta atrás de si, deixando Ava à mercê do destino. Se sobreviveria ou não, era algo que apenas o tempo poderia responder.
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