DIMITRI
Ser o mais novo da família Lucchesi não é tão maravilhoso quanto parece. Ser o caçula para muitos significa mimos e coisas do tipo, no meu caso significa cobranças e mais cobranças. Estou sempre sendo comparado a meus irmãos e qualquer vacilo que dou recebo um puxão de orelha que só cobrindo com humor para não mostrar o quão envergonhado fico com isso.
Meus irmãos são os que mais me deixam constrangido. Eu não posso ser divertido, não posso simplesmente viver que estou errando. Thomas, meu irmão mais velho, desde que perdeu sua esposa, Andreia, por conta de um dos rivais da nossa família, tem até que me dado folga, antes ele era um terror na minha vida, mas o Damon, meu irmão do meio, nossa... Esse sempre me trata como a bosta que suja o sapato engraxado dele.
Da última vez que estive em sua casa, mais para ver sua namorada e bebe e não por ele, saí de lá me sentindo indesejado.
Eu gosto muito da Olívia, namorada do Damon, porque ela é parecida comigo. Ela pensa que no meio desse caos que vivemos temos que aproveitar alguma coisa. A gente se diverte. O Hernando também. Mas Damon não gosta de diversão, ele sempre corta o nosso barato. Já está sendo difícil lidar com a perda da Andreia, a quem eu era muito apegado, sofrer repressão dos meus irmãos é muito cansativo.
Eu não carrego o ódio que eles carregam consigo. Acho que nunca serei como meus irmãos.
Vez ou outra eu tento acompanhar o jeito deles. Quando vamos a reuniões com nossos sócios, o Daddy e outro. Eu tento ser frio e calculista como eles, mas é só uma fachada. Não passei por o que eles passaram, então não posso compreender nem julgar a forma como enxergam as coisas, mas eles deveriam entender que também não devem ficar me julgando por ser uma pessoa mais leve.
Não é porque eu gosto de me divertir, de brincar, que eu sou incompetente. Eu sou o melhor atirador da nossa família e isso não tem como contestar. Sempre resolvo tudo em segundos quando o negócio envolve armas. Não sou o melhor negociador, muito menos o melhor investigador, mas já descobri coisas bem importantes para meu pai.
Mesmo assim eles ainda cobram de mim. É como se eu nunca fosse bom o suficiente.
Felizmente, tenho a minha mãe que me apoia, me defende com unhas e dentes. Vez ou outra ela tá me alfinetando, mas o jeito como ela fala é diferente dos meus irmãos.
Sinto que chegou a hora de eu melhorar meu eu. Não melhorar no aspecto de me parecer mais com meus irmãos. Isso seria piorar. Eu quero construir as minhas coisas, o meu império, o lugar onde ninguém vai chegar para mim e falar que sou indesejado ali ou ficar reclamando de como eu ajo.
Não quero ser mais encarado como um i****a imprestável. Apesar de eu não ser assim, sempre tem alguém falando que sou. Todo mundo vai me respeitar e eu quero começar concertando o meu erro com a Flávia.
Flávia levou um tiro por minha causa no dia em que sequestraram ela e a Olívia. Eu acabei me precipitando e atirei na mulher que apontava uma arma para ela.
Eu disse que não sou bom em negociar e sim em atirar.
O tiro não perfurou nenhum órgão da Flávia, mas toda vez que a encontro é como se seu olhar de mágoa perfurasse o meu coração.
Eu já tentei me desculpar um milhão de vezes com ela, mas parece que o que a incomoda em mim é todo o meu ser.
O pior de tudo é que eu gosto dela.
Dei umas mancadas com ela. Essa do tiro e quando a beijei para descobrir os segredos sobre a minha cunhada Olívia.
Isso foi o bastante para que ela não quisesse mais papo comigo.
Mesmo assim, eu ainda gosto dela. Mesmo com todos os foras.
Agora o meu irmão mais velho, Thomas, suspeita que quem matou a esposa dele foi alguém da família Callalto, uma família rival da nossa. São poucos que ainda estão vivos, nós sabemos de Frederico Callalto, um playboy que tem uma queda pela Flávia. O Thomas quer usar a Flávia de isca para atrair o cara e vingar a morte de sua mulher.
Mas o meu irmão não tem escrúpulos. Ele não respeita mulher alguma que não seja a falecida esposa dele ou sua filha pequena e a nossa mãe. Ele pode fazer atrocidades para conseguir o que quer e a Flávia já foi muito usada pela nossa família. Ninguém a respeita, ninguém a trata como ser humano e sim como um objeto. Ela já anda magoada com isso e se ele fizer mais algo como o que Thomas planeja, sei que podemos perder a Flávia para sempre.
A minha família pode não se importar com isso. Mas eu me importo e muito.
É a minha chance de consertar tudo com ela.
Por isso estou seguindo o Thomas desde que ele saiu da casa do Damon com essa ideia i****a.
Ele está cego pela vingança. Já invadiu a casa dela e a ameaçou com uma arma. Se eu não tivesse chegado não sei o que poderia ter acontecido... Mas eu não vou deixar que isso aconteça novamente.
No momento ele enche a cara de whisky no quarto do hotel e eu estou aqui tentando ter uma conversa decente com ela neste barzinho.
Mandei um bilhete e assim que ela recebeu, olhou na minha direção. Ela hesitou e ficou tomando a sua bebida como se eu não estivesse aqui.
Peguei a minha bebida e levantei da cadeira, indo até lá onde ela estava. Se ela não vem, eu vou.
— Podemos conversar? — coloquei a minha garrafa encima do balcão.
— O que você quer, Dimitri? Me convencer a ir com vocês? Olha, me poupa. Eu não colaboro com mais nada dessa família, ainda mais um plano i****a como esse.
— Eu não vou te pedir isso. — sentei no banco ao seu lado, virado para ela, enquanto seu corpo todo estava de frente para o balcão. — Sinto muito pelo que aconteceu mais cedo. O Thomas está descontrolado. Tô aqui pra evitar que ele te faça m*l.
— Então falhou, já que ele entrou na minha casa e me ameaçou com uma arma!
Ela está muito chateada mesmo. E tem razão de estar.
— Eu não imaginei que ele estava louco a esse ponto.
— Sabe? — ela questionou olhando para mim e para os ornamentos do bar. — Se eu pudesse fazer um pedido desejaria não ser dessa família. Ter nascido em outra família e não ter passado por nada do que já passei por causa dela. Parece que eu sou um porco criado para o abate, que me compraram no mercado n***o com o propósito de me usar para as piores "missões" que aparecerem.
— Flávia, você sabe que eu não concordo com o que eles fazem. — fiquei envergonhado por tudo mesmo assim.
— Você sabia que eu já fui estuprada? — ela perguntou olhando para mim e eu senti como se um peso caísse sobre mim, me deixando pra baixo. — Duas vezes, por velhos nojentos, porque os homens que estavam encarregados de chegar na hora certa chegaram na hora errada e eu não tinha como me defender. — ela contou com lágrimas nos olhos e com uma mágoa gritante.
— Eu não sabia. Sinto muito mesmo. Eu não sei como é estar na sua pele, mas eu entendo a sua revolta.
Ela virou a bebida toda goela a baixo e tirou dinheiro da carteira, o deixando encima da bancada, então levantou.
— Se o Thomas encostar o dedo de novo em mim, eu o mato. — ela avisou num tom de ameaça assustador. — Não me importo quem ele seja na base da família, não me importa o que acontece comigo depois, mas eu o mato. — ela saiu do bar a passos rápidos.
Eu sei que ela não está brincando.
Fui atrás dela para dizer o que eu ainda não tinha lhe falado.
— Não terminamos a conversa. Flávia, eu quero te pedir desculpas por tudo o que fiz e dizer que eu mudei. Estou mudando.
Ela entrou no carro como quem não estava nem aí pra mim.
Mas eu não desisti de falar. — Flávia eu não vou deixar que o Thomas faça nada a você. Eu vou te provar que posso ser bom pra você.
— Me deixa, Dimitri. — ela fechou a porta do carro, vencendo a minha força.
— Eu vou te provar que não estou brincando. Ele não te fará m*l nenhum.
— Não ouse me seguir. — ela disparou um olhar raivoso para mim e acelerou o carro, indo embora.
Quando ela não quer conversa, não tem como...
— Desculpa, Flávia, mas eu vou te seguir sim. Vou até no inferno por você.