TITO
Porra, eu não sou o****o não.
Pode ser que eu seja bruto, que eu resolva as coisas na bala, no grito e tapa, mas eu não nasci ontem, mano. E quando o assunto é a minha mina, meu radar fica mais ligado que câmera de segurança em banco.
Tava hoje de manhã, na sala.
Eu sentado no sofá, na minha, vendo uns negócio no celular. A Soraia tava passando pro quarto, com aquele vestidinho curto que deixa a b***a dela marcada — ela sabe que eu gosto, a safada. E o Lobo, o segurança novo, tava parado na porta da cozinha, fazendo hora.
Aí foi rápido, mas eu vi.
A Soraia passou, e o c***a lançou um olhar. Foi um segundo, nem isso. Mas não foi olhar de segurança vendo a patroa não. Foi olhar de homem vendo mulher. E pior: a Soraia, quando passou por ele, baixou os olhos, mas eu juro que vi a ponta da boca dela tremer, quase um sorriso. E os olhos brilharam.
Na hora, o sangue ferveu.
Quase levantei e já meti a mão na cara do filho da p**a. Mas me segurei. O Lobo é um c***a quietão, mas os olhos são frios. Não é qualquer zé ruela. E eu não sou de agir por impulso — só quando tô muito na pilha, e aí geralmente me arrependo depois.
Mas fiquei em alerta máximo.
O dia inteiro, fiquei de olho.
Disfarçado, claro.
Mas percebi umas paradas. O Lobo sempre tá por perto dela. Sempre. E não é só pelo trabalho, não. É um jeito de ficar... disponível. E a Soraia, que comigo vive com cara de enterro, com ele parece mais solta. Não fala muito, mas o corpo fala — ela fica menos dura, os ombros relaxam.
E o pior, o que mais me deu raiva, foi com o moleque. O Evandro Júnior, meu filho. O Lobo brinca com ele. E o menino, que comigo parece um ratinho assustado, com o segurança dá risada. Rir é uma coisa que ele nunca faz comigo.
Porra, eu que sequestrei um moleque e dei como um filho pra ela, eu que tô construindo uma família, e o o****o é que ganha o sorriso do menino? E o olhar dela, quando vê os dois juntos, é um negócio de... admiração. De gratidão. Aquilo queimou meus olhos, mano. Queimou por dentro.
À noite, o ciúme tava comendo meu fígado. Tava sentado na varanda, tomando uma cerveja e vendo o movimento do morro, mas a cabeça tava a mil. Lembrando cada olhar, cada sorriso disfarçado da Soraia, cada vez que o Lobo tava perto demais.
Chamei o Jacaré. Ele veio, na dele, sempre profissional.
— Fala aí, chefe.
— Jacaré, esse Lobo... o que tu acha dele?
Ele ficou quieto um segundo.
— Pô chefe, ele cumpre o serviço, é um cara quieto, na dele. Não arruma confusão.
— É... quieto demais, né?
Olhei pra dentro de casa, onde a Soraia tava arrumando a mesa do jantar.
— Tu não acha que ele tá de olho na minha mulher não?
Jacaré fez uma cara de desdém.
— Chefe, com todo respeito... a patroa é gata. Os cara olha, mas não acredito que ele tenha culhão pra mexer com a dona Soraia. Ela é proibida e qualquer cuzão sabe.
— Mas não é qualquer um que eu contrato pra ficar DENTRO da minha casa, p***a!
Falei mais alto do que devia.
Baixei a voz.
— Ele é diferente. E ela... ela olha pra ele também. Tu não tá vendo não?
Jacaré respirou fundo.
— Chefe, posso falar uma parada? O Lobo é estranho, sim. Uns dias atrás, eu peguei ele no seu escritório. Tava mexendo nas suas coisas.
Eu sentei reto na cadeira do quintal.
— É O QUÊ? QUE PAPO É ESSE?
— Falou que tava procurando um carregador, que você tinha pedido. Mas tava com uma cara estranha.
Cara... na hora, eu vi tudo vermelho.
O escritório? Onde eu guardo as paradas mais importantes?
— p***a, Jacaré, e tu me conta isso só AGORA?
— Chefe, não tinha prova nenhuma. Só um pressentimento. E o Lobo é útil. É bom no que faz.
— Tá bom. Eu não lembro de ter pedido nada pra ele. — Levantei, andando de um lado pro outro na varanda. — Vamos fazer o seguinte. Fica de olho nele. Dobrado. E na Soraia também. Qualquer coisinha, qualquer atitude suspeita, qualquer rolo estranho, tu me avisa na hora.
— Pode deixar, chefe.
— E, Jacaré... — Parei na frente dele, olhando nos olhos. — Se eu descobrir que tem algo... que esse filho da p**a tá metendo chifre em mim com a MINHA mulher dentro da MINHA casa... não vai sobrar nenhum pedaço dele. E ela... ela vai aprender a nunca mais me desrespeitar.
Jacaré acenou, sério.
Ele sabe que não tô brincando.
Depois que ele foi embora, fiquei lá na varanda, olhando a noite. O ciúme tava misturado com uma raiva fria. Lembrei de tudo que eu fiz pela Soraia. Dei roupa, joia, um teto. Tudo que ela queria. E ela me paga assim? Com um segurança? Um cara que não tem p***a nenhuma?
E o Lobo... quem será que ele é? Será só um fodido qualquer que se apaixonou pela mina errada?
Não importa.
Se ele deu sorte de eu perceber, o azar foi dele. Porque agora, eu tô de olho. E se eu pegar qualquer coisinha... qualquer deslize... vai ser o último que ele vai dar na vida.
A Soraia veio me chamar pra jantar. Tava linda, com um vestido vermelho. Mas quando ela chegou perto, eu segurei o queixo dela, firme.
— Tá feliz hoje, né, gata? — falei, com a voz calma, mas cheia de ameaça.
Ela ficou tensa na hora.
— Não... não, Tito. Tudo normal.
— Tudo normal, é?
Soltei o queixo dela.
— É bom que continue assim. Lembre sempre Soraia, você é minha. Só minha. Até o dia que eu cansar.
Ela baixou os olhos, submissa.
— Eu sei, Tito.
Mas quando ela virou as costas e foi pra mesa, eu juro que vi um brilho diferente nos olhos dela. Um brilho de desafio. E eu sei, com certeza absoluta, que aquele brilho tem nome.
Tem o nome de Lobo.
E agora, o jogo mudou.
Eu não sou mais só o dono do morro.
Sou o homem traído — ou quase — na própria casa. E isso, pra um cara como eu, é pior que qualquer disputa de território.
É guerra pessoal. E guerra pessoal, eu resolvo na bala.
Sem dó.
Sem piedade.